9.11.14

Angústia no Getsémani

A vida do Salvador na Terra foi dedicada à oração. Passou muitas horas a sós com Deus e, com frequência, Suas preces sinceras subiam ao trono celeste, buscando a sabedoria e força de que necessitava para sustê-Lo em Sua obra e para guardá-Lo de cair nas tentações de Satanás.
Depois de haver celebrado a Páscoa com Seus discípulos, Jesus foi com eles ao jardim do Getsémani, onde costumava orar. À medida que caminhava, conversava com eles e os ensinava, mas quando se aproximaram do jardim, tornou-Se estranhamente silencioso.
Durante toda a Sua vida, Jesus estivera em comunhão com o Pai. O Espírito de Deus havia sido Seu guia e apoio constantes. Por todas as obras que havia feito, sempre glorificara o Pai, dizendo: “Eu nada posso fazer de Mim mesmo.” João 5:30.
Nada podemos fazer por nós mesmos. Somente quando confiamos em Cristo, podemos vencer e fazer Sua vontade na Terra. Devemos ter a mesma confiança simples e infantil que Jesus tinha em Seu Pai. Cristo disse: “Sem Mim nada podeis fazer.” João 15:5.
A terrível noite de agonia para o Salvador começou quando Se aproximou do jardim. Parecia que a presença de Deus, que até então O sustentara, não mais O acompanhava. Começou a sentir o que significa separar-Se do Pai.
Cristo deveria tomar sobre Si os pecados do mundo e, quando foram colocados sobre Ele, parecia
mais do que podia suportar. A culpa do pecado era tão terrível que foi tentado a pensar que Deus não mais O amava.
Quando sentiu a enorme aversão de Deus ao pecado, deixou escapar essas palavras: “A minha alma está profundamente triste até à morte.” Mateus 26:38.
Jesus deixou os discípulos próximo à entrada do jardim, exceto Pedro, Tiago e João, com os quais entrou no horto. Eram eles Seus mais sinceros discípulos e os companheiros mais chegados. Mas não podia suportar que eles testemunhassem Sua intensa agonia. Disse-lhes: “Ficai aqui e vigiai comigo.” Mateus 26:38.
Caminhou alguns passos adiante e caiu prostrado no chão. Sentia que o peso do pecado O separava do Pai. Tinha diante de Si um abismo tão grande, tão profundo, tão tenebroso que tremia diante dele.
Cristo não sofria por Seus pecados, mas pelos pecados do mundo. Sentia o desagrado de Deus contra o pecado como o pecador sentirá no grande dia do juízo.
Em Sua agonia, Cristo Se agarrou ao solo frio. De Seus lábios pálidos ouviu-se o grito amargo: “Meu Pai, se possível, passe de Mim este cálice! Todavia, não seja como Eu quero, e sim como Tu queres.” Mateus 26:39.
Durante uma hora, Cristo suportou sozinho aquela terrível angústia. Então foi até os discípulos, ansioso por receber uma palavra de simpatia. Mas nenhuma simpatia se manifestou, pois eles estavam dormindo. Despertaram ao som de Sua voz, mas quase não O reconheceram, pois a aflição havia alterado a expressão de Seu rosto. Dirigindo-Se a Pedro, perguntou: “Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora?” Marcos 14:37.
Pouco antes de irem ao jardim, Cristo disse aos discípulos: “Todos vós vos escandalizareis.” Marcos 14:27. Eles então Lhe asseguraram com veemência que iriam com Jesus à prisão e à morte. E o pobre e auto-suficiente Pedro, cheio de confiança, acrescentou: “Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!” Marcos 14:29.
Mas os discípulos confiavam em si mesmos. Não olharam para o poderoso Ajudador como Cristo lhes aconselhara a fazer; e quando Ele Se encontrava na hora de maior necessidade, precisando de solidariedade e orações, eles dormiam. Até Pedro dormiu.
E João, o discípulo amado que costumava se reclinar no peito de Jesus, também dormia. Seguramente a afeição que João sentia pelo Mestre deveria mantê-lo acordado. Suas orações mais fervorosas deveriam ter-se unido às do Mestre naquele momento de extrema aflição. O Redentor passara noites inteiras orando por Seus discípulos para que sua fé não vacilasse na hora da provação. Mas eles não puderam ficar acordados com o Mestre uma hora sequer.
Se Jesus tivesse agora perguntado a Tiago e a João: “Podeis vós beber o cálice que Eu bebo ou receber o batismo com que Eu sou batizado?” (Marcos 10:38) eles não teriam respondido tão prontamente: “Sim, podemos.”
O coração do Salvador se encheu de compaixão e simpatia diante da fraqueza de Seus discípulos. Temia que eles não suportassem a prova que Seu sofrimento e morte lhes traria.
Ele, entretanto, não os reprovou por causa de suas fraquezas. Pensou nas provas que teriam diante de si e disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação.” Com bondade, desculpou-lhes a falta cometida para com Ele, dizendo: “O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” Mateus 26:41. Que exemplo de ternura e piedoso amor o Salvador nos deu!
Outra vez uma angústia insuportável se apossou d´Ele. Exausto e no limite de Suas forças, cambaleou de volta ao local onde antes havia orado e suplicou ao Céu:
“Meu Pai, se não é possível passar de Mim este cálice sem que Eu o beba, faça-se a Tua vontade.” Mateus 26:42.
A agonia provocada por essa oração fez com que gotas de sangue fluíssem de Seus poros. Outra vez buscou os discípulos, desejando encontrar conforto e simpatia, e novamente achou-os dormindo. A presença do Mestre os despertou e quando olharam Seu rosto, sentiram medo, pois viram nele manchas de sangue. Não compreendiam a extensão da angústia mental que Sua face expressava.
Pela terceira vez buscou o lugar da oração. Terror e trevas profundas invadiram-Lhe a alma, pois não sentiu a presença de Seu Pai. Sem isso, temia que, em Sua natureza humana, não poderia resistir ao duro teste. Pela terceira vez, Ele repete a mesma oração. Os anjos anseiam vir em Seu socorro, mas não lhes é permitido. O Filho de Deus deve beber essa taça ou o mundo se perderá para sempre. Ele vê a fraqueza do homem e o poder do pecado. O sofrimento de um mundo condenado se descortina em Sua mente.
Então toma a decisão definitiva: salvará o homem a qualquer custo. Ele deixou as cortes celestes onde tudo era pureza, felicidade e glória, para salvar a única ovelha que se perdera, o único dentre os mundos criados que caíra em pecado, e não abandonaria Seu propósito. Sua prece agora transpira apenas submissão:
“Meu Pai, se não é possível passar de Mim este cálice sem que Eu o beba, faça-Se a Tua vontade.” Mateus 26:42.
A divindade sofre
O Salvador cai desfalecido ao solo. Nenhum discípulo se encontra ali para ampará-Lo, para erguer ternamente Sua cabeça e banhar aquele rosto tão pálido pelo sofrimento. Cristo está completamente só.
Mas Deus sofre com Seu Filho. Anjos contemplam-Lhe a agonia e no Céu se faz completo silêncio. Não se ouve nenhum som de harpa. Pudessem os homens perceber o espanto dos anjos celestes, ao contemplarem com mudo pesar o Pai retirando de Seu amado Filho os raios de luz, amor e glória, então compreenderiam melhor quão ofensivo é o pecado à vista de Deus.
Um poderoso anjo desce do Céu para confortá-Lo. Ergue a cabeça do divino Sofredor, apoiando-a em seu peito e aponta para o Céu. Diz-Lhe que havia vencido a Satanás e, como resultado, milhões estariam com Ele em Seu reino de glória.
O rosto do Salvador, manchado de sangue, reflete agora a paz celestial. Ele suportou o que nenhum ser humano poderia suportar. Experimentou a agonia da morte no lugar de cada pecador.
Outra vez procurou os discípulos e encontrou-os dormindo. Tivessem eles permanecido despertos vigiando e orando com o Salvador, teriam recebido forças para suportar a prova que os aguardava. Perdendo aquela oportunidade, não tiveram forças na hora da necessidade.
Olhando-os com tristeza, Cristo disse: “Ainda dormis e repousais! Eis que é chegada a hora, e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos de pecadores.” Mateus 26:45.

Falava Ele ainda, quando se ouviram os passos da turba que se aproximava em Sua busca. Voltando-se para os discípulos disse: “Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima.” Mateus 26:46.{VJ 83.7}

Sem comentários: