29.6.09

A VERDADE PRESENTE: O PRIMEIRO DOMÍNIO

A PROPRIEDADE ADQUIRIDA
Redimir significa comprar outra vez. O que é que deveria ser comprado de volta? Evidentemente aquilo que foi perdido, é isto que o Senhor veio Salvar. E o que foi perdido? O homem. “Porque assim diz o SENHOR: Por nada fostes vendidos; e sem dinheiro sereis resgatados”. (Isaías 53:3). E o que mais foi perdido? Necessariamente, tudo o que o homem possuía. Em que consistia? “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra”. (Génesis. 1:26-28).
O salmista disse do homem: “Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que os anjos e de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares”. (Salmo. 8:5-8).
Tal era o primeiro domínio do homem, porém não durou muito tempo. Na epístola aos Hebreus encontramos mencionadas as palavras do salmista:
“Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos falando; antes, alguém, em certo lugar, deu pleno testemunho, dizendo: Que é o homem, que dele te lembres? Ou o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos. Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas; vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem”. (Hebreus. 2:5-9).
Estas palavras apresentam diante de nós um maravilhoso cenário. Deus colocou a terra, com tudo o que lhe pertence, debaixo do governo do homem. No entanto, não é isso que vemos agora. “Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas”. Por que não? Porque o homem perdeu tudo ao cair. Porém, vemos a Jesus, “tendo sido feito menor que os anjos”, isto é, foi feito homem, a fim de que possa ser restaurada a herança perdida a todo aquele que crer. Portanto, a herança perdida será restaurada aos redimidos tão certamente como Jesus morreu e ressuscitou, e tão certamente como serão salvos por sua morte e ressurreição aqueles que crêem nele.
Assim indicam as primeiras palavras do texto citado no livro de Hebreus: “Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos falando”. Ele o sujeitou ao homem? Sim, considerando que o sujeitou ao homem ao criar a terra, e que Cristo tomou o estado caído do homem a fim de redimir ambos, o homem e a sua propriedade perdida, sendo que veio salvar o que se havia perdido; e visto que nele ganhamos uma herança, é evidente que em Cristo sujeitamos o mundo que há de vir, o que corresponde a dizer a terra renovada, exactamente como foi antes da queda.
As palavras do profeta Isaías mostram igualmente: “Envergonhar-se-ão e serão confundidos todos eles; cairão, à uma, em ignomínia os que fabricam ídolos. Israel, porém, será salvo pelo SENHOR com salvação eterna; não sereis envergonhados, nem confundidos em toda a eternidade. Porque assim diz o SENHOR, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o SENHOR, e não há outro. Não falei em segredo, nem em lugar algum de trevas da terra; não disse à descendência de Jacó: Buscai-me em vão; eu, o SENHOR, falo a verdade e proclamo o que é direito”. (Isaías 45:16-19).
O Senhor formou a terra, para que fosse habitada, e sendo que ele faz todas as coisas segundo o conselho de sua vontade, podemos estar seguros de que seu plano será levado a bom termo. Entretanto, quando fez a terra, o mar e todas as coisas que existem neles, e o homem na terra, “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”. (Génesis 1:31). Sendo que o plano de Deus vai cumprir-se, torna-se evidente que a terra ainda tem que ser habitada por seres humanos que sejam inteiramente santos, e isso implicará, quando acontecer, uma condição perfeita.
Quando Deus fez o homem, o coroou “de glória e de honra”, dando-lhe domínio sobre “as obras de suas mãos”. Portanto, era rei, e como sua coroa indica, seu reino era um reino de glória. Porém, por causa do pecado ele perdeu o reino e a glória, “pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. (Romanos 3:23).
Jesus desceu então até seu lugar, e por meio da morte, que ele experimentou por todos resultou “coroado de glória e de honra”. Foi “Jesus Cristo homem” (I Timóteo 2:5), quem recuperou com ele o domínio perdido pelo primeiro homem - Adão. Ele fez assim com o objectivo de “levar a muitos filhos até a glória”. Nele temos obtido uma herança; e sendo que é “Jesus Cristo homem” quem subiu ao “mesmo céu, para agora comparecer, por nós, perante a face de Deus”. (Hebreus 9:24), é evidente que o mundo que há de vir, que é a nova terra – o “primeiro domínio” -, é a porção do homem.
Os seguintes textos o fazem igualmente importante: “Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação”. (Hebreus 9:28). Quando foi oferecido, levou a maldição a fim de poder quitá-la. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. (Gálatas 3:13). Porém, quando a maldição da lei veio sobre o homem, veio também sobre a terra, visto que o Senhor disse a Adão: “E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirão; e comerás a erva do campo”. (Génesis 3:17 e 18). Quando Cristo foi traiçoeiramente entregue nas mãos dos homens pecadores, “tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na na cabeça e, em sua mão direita, uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus!” (Mateus 27:29). Assim, pois, quando Cristo levou a maldição do homem, ao mesmo tempo levou a maldição da terra. Portanto, quando vier salvar aos que aceitaram seu sacrifício, vem também renovar a terra.

OS TEMPOS DA RESTAURAÇÃO
Disse o apóstolo Pedro: “E que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (Actos 3:20 e 21). E assim, temos as palavras do próprio Cristo: “E, quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos anjos, com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas. E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 24: 31-34). Isso será a consumação da obra do evangelho.
Volvamos agora às palavras do apóstolo no primeiro capítulo de Efésios. Lemos ali que em Cristo estamos predestinados a sermos adoptados como filhos; e tal como vimos em outro lugar, se somos filhos somos herdeiros de Deus, e co-herdeiros com Jesus Cristo. Portanto, em Cristo temos recebido uma herança, já que ele conquistou a vitória, e está sentado à direita do Pai, aguardando o tempo em que seus inimigos sejam postos por estrado de seus pés, e todas as coisas lhe sejam sujeitas. Isto é tão certo como ele mesmo venceu. Como dádiva dessa herança que temos nele, nos é dado o Espírito Santo. É da mesma natureza que a herança, fazendo assim que conheçamos quais sãos as riquezas da glória desta herança. Dito de outra maneira, a comunhão com o Espírito dá a conhecer a comunhão do mistério.
O Espírito é o representante de Cristo. Por isso, o Espírito morando no homem é Cristo no homem, a esperança da glória (Colossenses 1:27). E Cristo no homem é o poder criador no homem, fazendo dele uma nova criatura. O Espírito é dado “conforme as riquezas de sua glória”, e essa é a medida do poder por meio do qual somos fortalecidos. Assim, as riquezas de glória da herança, dadas a conhecer pelo Espírito, não é outra coisa que o poder por meio do qual Deus criará de novo todas as coisas mediante Jesus Cristo, como no princípio, e por meio do qual criará de novo o homem, de forma que se corresponda com a herança gloriosa. É assim que, ao ser-lhes concedido o Espírito em sua plenitude, aqueles que o recebem, “provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro”. (Hebreus 6:5)
Portanto, o evangelho não é algo que pertença exclusivamente ao futuro. É algo presente e pessoal. É o poder de Deus para salvação de todo aquele que creu, ou que está crendo. Visto que cremos temos o poder, e esse poder é o poder pelo qual o mundo que há de vir há de ser preparado para nós, tal como foi no princípio. Logo, ao estudar aa promessa da herança estamos simplesmente estudando o poder do evangelho para salvar-nos de presente mundo mal.

QUEM SÃO OS HERDEIROS?
“E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa”. (Gálatas 3:29).
De quem somos herdeiros, ao ser descendentes de Abraão? Evidentemente da promessa feita a Abraão. Porém se somos de Cristo, somos herdeiros com ele, já que os que têm o Espírito são de Cristo (Romanos 8:9), e os que têm o Espírito são herdeiros de Deus e co-herdeiros juntamente com Cristo. Assim, ser co-herdeiro com Cristo é ser herdeiro de Abraão.
“Herdeiros segundo a promessa”. Que promessa? A promessa feita a Abraão, logicamente. Qual foi a promessa? Leiamos a resposta em Romanos 4:13: “A promessa de que seria herdeiro do mundo, não foi dada a Abraão e a sua descendência pela lei, e sim mediante a justiça da fé”. Portanto, os que são de Cristo são herdeiros do mundo. Podemos comprovar já previamente a partir de muitos textos, porém agora o vemos em definida relação com a promessa feita a Abraão.
Temos considerado também que a herança há de ser outorgada na vinda do Senhor, já que é ao vir em sua glória quando dirá aos justos: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25:34). O mundo foi criado para ser a habitação do homem, e foi dado a ele. No entanto, esse domínio foi perdido. É certo que o homem vive hoje na terra, porém não está gozando da herança que Deus lhe deu originalmente. Esta consistia na possessão de uma criação perfeita, por parte de seres perfeitos. Entretanto hoje, nem sequer a possui, visto que “Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre” (Eclesiastes 1:4). Enquanto que a terra permanece para sempre, “como a sombra são os nossos dias sobre a terra, e não temos permanência”. (I Crónicas 29:15).
Ninguém possui de fato nada neste mundo. Os homens lutam e se esforçam para adquirir riqueza, e então “deixam a outros as suas riquezas”. (Salmo 49:10). Porém Deus fez todas suas obras segundo o conselho de sua vontade; nem um só de seus propósitos deixará de cumprir-se; e assim, tão certo como o homem pecou e perdeu sua herança, foi prometida a ele a restauração por meio de Cristo, nestas palavras: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre o teu descendente e o seu descendente, este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. (Génesis 3:15). Nessas palavras foram preditas a destruição de Satanás e toda sua obra. Foi predita a “tão grande salvação” que havia sido “anunciada primeiramente pelo Senhor” (Hebreus 2:3). Desta forma, “o primeiro domínio” (Miquéias 4:8), “O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão”. (Daniel 7:27). Esta será uma possessão real, visto que será nova.

A PROMESSA DA SUA VINDA
Porém, tudo o que é anterior será consumado quando o Senhor vier em sua glória, a quem “é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade”. (Actos 3:21). Portanto, a vinda do Senhor para restaurar todas as coisas, tem sido a grande esperança posta diante da igreja desde a mesma queda do homem. Os fiéis têm esperado sempre esse evento, e ainda que o tempo pareça prolongar-se, e a maioria do povo duvide da promessa, ela é tão segura como a palavra do Senhor. A seguinte porção da Escritura descreve vividamente a promessa, as dúvidas dos incrédulos, e a certeza do cumprimento da promessa:
“Amados, esta é, agora, a segunda epístola que vos escrevo; em ambas, procuro despertar com lembranças a vossa mente esclarecida, para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos, tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios. Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas. Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (II Pedro 3:1-13).
Leiamos agora novamente a passagem, e observemos os seguintes pontos: Os que se esquivam da promessa do retorno do Senhor o fazem ignorando voluntariamente alguns dos eventos mais importantes e mais claramente expostos na Bíblia, como são a criação e o dilúvio. A palavra do Senhor criou os céus e a terra no princípio. “Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito da sua boca” (Salmo 33:6). Pela mesma palavra a terra ficou coberta pela água, de modo que a água que a terra armazenava contribuiu para sua destruição. Foi destruída pela água. A terra, tal como hoje a conhecemos, conserva apenas uma pálida semelhança com a que foi antes do Dilúvio. A mesma palavra que criou e destruiu a terra, é a que a sustem hoje, até o tempo da destruição dos homens ímpios, quando se converterá num imenso lago de fogo em lugar de um lago de água. “Porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça”. A mesma palavra é a que realiza todas estas coisas.

O GRANDE CLÍMAX
Assim, fica evidente que a vinda do Senhor é o grande evento que têm assinalado todas as coisas, desde a própria queda. “A promessa de sua vinda” é a mesma promessa de um novo céu e uma nova terra. Esta foi a promessa feita aos “pais”. Os que se desviam dela não podem negar que a Bíblia contem essa promessa, porém, posto que não tem ocorrido nenhuma mudança aparente desde que os pais dormiram, pensam que não há possibilidade alguma de que se realize. Ignoram o fato de que as coisas têm mudado muito desde o princípio da criação; e têm se esquecido que a palavra do Senhor permanece para sempre. “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa”. Observa-se que está no singular, não fala de promessas, mas sim de promessa. É um fato que Deus não esquece nenhuma de suas promessas, porém o apóstolo Pedro está se referindo aqui a uma promessa definida, que é a segunda vinda do Senhor e a restauração da terra. Tratar-se-á de uma “nova terra”, visto que será restaurada à condição em que estava quando foi criada no princípio.
Embora tenha passado muito tempo – segundo o homem vê as coisas – desde que se fez a promessa, “o Senhor não demora em cumprir sua promessa”, visto que ele possui todo o tempo. Mil anos para ele são como um dia. Portanto, têm-se transcorrido quase uma semana desde que se fez a promessa pela primeira vez, no tempo da queda. Só tem passado a metade de uma semana desde que “os pais dormiram”. O passar de uns poucos mil anos em nada tem diminuído a promessa de Deus. É tão certa como quando foi feita pela primeira vez. Deus não a tem esquecido. O único motivo porque se tem estendido tanto é porque “ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento”. Portanto, “e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor” (Pedro 3:15), e deveria ser objecto de gratidão pelo grande favor outorgado, em lugar de considerar a sua misericordiosa demora como evidência de falta de fidelidade da Sua parte.
Não se deve esquecer que, se mil anos são como um dia para o Senhor, também um dia é para ele como mil anos. O que significa isso? Simplesmente, que o Senhor pode esperar um tempo prolongado – na compreensão do homem –, antes de levar a cabo os Seus planos, isso nunca deveria tomar-se como evidência de que em qualquer momento do processo, uma quantidade determinada de trabalho irá precisar necessariamente da mesma quantidade de tempo que tomou no passado. Para o Senhor é tão conveniente um dia como mil anos, se é que a sua vontade decidiu que a obra de mil anos se realize num dia. E isso certamente vai acontecer, “Porque o Senhor executará a sua palavra sobre a terra, completando-a e abreviando-a”. (Romanos 9:28). Um dia será suficiente para a obra de mil anos. No dia de Pentecostes foi uma amostra do poder com o qual o evangelho há de avançar no futuro.
Fez-se conveniente fazer um resumo do que realmente representa o evangelho do reino, e nos referir a promessa feita aos pais como fundamento da nossa fé, passaremos a estudar mais detidamente a promessa, começando com Abraão, de quem devemos ser filhos, se é que somos co-herdeiros com Cristo.

O CHAMADO A ABRAÃO

A PROMESSA FEITA A ABRAÃO
Ao estudar esta promessa devemos ter sempre presentes duas porções da Escritura. A primeira são as palavras de Jesus: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”. “Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (João 5:39, 46 e 47).
As únicas Escrituras existentes nos dias de Cristo eram os livros que hoje conhecemos como Antigo Testamento. Pois bem: dão testemunho d´Ele. Não foram escritas com um propósito diferente deste. O Apóstolo Paulo afirmou que elas são capazes de fazer o homem sábio para a salvação, pela fé em Cristo (II Timóteo 3:15); e entre esses escritos, o Senhor assinalou especialmente os livros de Moisés como revelando a Ele. Aquele que lê os escritos de Moisés, e todo o Antigo Testamento, com qualquer outra expectativa diferente de encontrar a Cristo, e por meio d´Ele o caminho da vida, os lêem em vão e fracassará totalmente em compreendê-los.
O outro texto é II Coríntios 1:19 e 20: “Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que entre vós foi pregado por nós, isto é, por mim, e Silvano, e Timóteo, não foi sim e não; mas nele houve sim. Porque todas quantas promessas há de Deus são nele sim; e por ele o Amém, para glória de Deus, por nós”. Deus não tem feito nenhuma promessa ao homem, que não seja por meio de Cristo. A fé pessoal em Cristo é necessária a fim de receber qualquer coisa que Deus haja prometido. Deus não faz acepção de pessoas. Oferece gratuitamente suas riquezas a qualquer pessoa; porém ninguém pode ter parte alguma nelas sem aceitar a Cristo. Isso é perfeitamente justo, visto que Cristo é dado a Todos, se é que O querem ter.
Tendo em vista esses princípios, lemos o primeiro relato da promessa de Deus a Abraão: “Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Génesis 12:1-3).
Podemos ver pelo mesmo princípio que esta promessa feita a Abraão era uma promessa em Cristo. O apóstolo Paulo escreveu: “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão”. (Gálatas 3:8 e 9). Isso nos mostra que quando Deus disse que em Abraão seriam benditas todas as famílias da terra, lhe estava pregando o evangelho. A bênção que haveria de chegar a todo ser humano na terra por meio dele, chegaria somente a aqueles que tivessem fé.
ABRAÃO E A CRUZ
A pregação do Evangelho é a pregação da cruz de Cristo. Assim, o apóstolo Paulo afirmou que havia sido enviado para pregar o evangelho, porém não em sabedoria de palavras, para que não se anulasse a cruz de Cristo. Adicionou que a pregação da cruz é o poder de Deus para os que se salvam (I Coríntios 1:17 e 18). E isso não é mais que outra forma de dizer que se trata do evangelho, já que o evangelho é o poder de Deus para salvação (Romanos 1:16). Portanto, visto que a pregação do evangelho é a pregação da cruz de Cristo (e não existe salvação por nenhum outro meio), e sendo que Deus pregou o evangelho a Abraão quando lhe disse: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”, é evidente que nessa promessa tornou conhecido a Abraão a cruz de Cristo, e que somente por meio da cruz a promessa poderia ser cumprida.
No terceiro capítulo de Gálatas isso se torna totalmente claro. Na continuação da afirmação que a promessa da bênção é para todas as nações da terra mediante Abraão, e que os que são da fé são benditos com o crente Abraão, o apóstolo continua assim: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. (Gálatas 3:13 e 14). Aqui se afirma de forma mais clara que a bênção de Abrão, que haveria de vir a todas as famílias da terra, seria feita exclusivamente mediante a cruz de Cristo.
Esse é um ponto que deve ficar bem fixado na mente desde o início. Toda a confusão relativa às promessas de Deus a Abraão e à sua semente, provém de não reconhecer nelas o evangelho da cruz de Cristo. Se recordarem continuamente que todas as promessas de Deus são em Cristo, que só por meio de sua cruz são alcançadas, e que por consequência são de natureza espiritual e eterna, não haveria dificuldade, e o estudo da promessa aos pais seria uma delícia e uma bênção.
Lemos que Abraão, obedecendo ao chamado do Senhor, saiu da casa de seu pai e de sua terra natal. “Levou Abrão consigo a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as pessoas que lhes acresceram em Harã. Partiram para a terra de Canaã; e lá chegaram. Atravessou Abrão a terra até Siquém, até ao carvalho de Moré. Nesse tempo os cananeus habitavam essa terra. Apareceu o SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra. Ali edificou Abrão um altar ao SENHOR, que lhe aparecera. Passando dali para o monte ao oriente de Betel, armou a sua tenda, ficando Betel ao ocidente e Ai ao oriente; ali edificou um altar ao SENHOR e invocou o nome do SENHOR”. (Gênesis 12:5-8).
É extremamente necessário que entendamos desde o início que o significado real das promessas de Deus, e seu trato com Abraão. Isto tornará mais fácil nossa leitura subsequente, visto que consistirá na aplicação desses princípios. Nesta última passagem da Escritura se introduzem uns poucos assuntos que ocupam um lugar muito importante neste estudo, e vamos destacá-los aqui.
Em primeiro lugar:
A SEMENTE
O Senhor Disse a Abraão, depois que chegou à terra de Canaã: “À tua descendência darei esta terra”. Se nos apegássemos às Escrituras não teríamos dificuldade alguma em saber quem é a semente: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo” (Gálatas 3:16). Isso deveria retirar para sempre toda dúvida a esse respeito. A semente de Abraão, a quem foi feita a promessa, é Cristo. Ele é o herdeiro.
Pois nós também podemos ser co-herdeiros com Cristo. “Porque todos quantos fostes baptizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Nisto, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa”. (Gálatas 3:27-29).
Os que têm sido batizados em Cristo estão revestidos d´Ele, portanto estão incluídos n´Ele. Assim, ao dizer que Cristo é a semente de Abraão, a quem as promessas foram feitas, são incluídos todos os que estão em Cristo. Porém a promessa não inclui nada que esteja fora de Cristo. Pretender que a herança prometida à semente de Abraão possa ser possuída por qualquer um, excepto pelos que são de Cristo – mediante a fé n´Ele - , é ignorar o evangelho e negar a palavra de Deus. “Se alguém está em Cristo, é nova criatura” (II Coríntios 5:17).
Portanto, visto que a promessa da possessão da terra foi feita a Abraão e a sua semente, que é Cristo e todos os que estão n´Ele por meio do baptismo, e que portanto, são novas criaturas, conclui-se que a promessa da terra se referia somente a quem foram feitas novas criaturas em Cristo, - filhos de Deus pela fé em Cristo. Isso é uma evidência adicional de que todas as promessas de Deus são feitas em Cristo, e de que as promessas feitas a Abraão podem ser obtidas somente através da cruz de Cristo. Não esqueçamos, pois, esse princípio nem por um momento ao ler sobre Abraão e a promessa que foi feita a ele e a sua semente: o princípio de que a semente é Cristo e todos os que estão n´Ele. E ninguém mais.
A TERRA
Abraão se encontrava na terra de Canaã quando Deus lhe disse: “O Deus da glória apareceu a Abraão, nosso pai, quando estava na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e lhe disse: Sai da tua terra e da tua parentela e vem para a terra que eu te mostrarei. Então, saiu da terra dos caldeus e foi habitar em Harã. E dali, com a morte de seu pai, Deus o trouxe para esta terra em que vós agora habitais”. (Atos 7:2-4).
Isso não é mais que uma repetição do que temos lido já no capítulo 12 de Génesis. Leiamos agora o versículo seguinte: “Nela, não lhe deu herança, nem sequer o espaço de um pé; mas prometeu dar-lhe a posse dela e, depois dele, à sua descendência, não tendo ele filho” (Actos 7:5).
Isso nos mostra que, ainda em outras ocasiões se declara simplesmente: “à tua descendência darei esta terra”, o próprio Abraão está incluído na promessa. Isto se torna mais evidente nas repetições da promessa que se encontram no livro de Génesis.
No entanto nos mostra ainda mais: que Abraão não recebeu nenhuma terra como herança. Nem se quer a porção necessária para colocar um pé sobre ela; ainda que Deus havia prometido a ele e sua semente depois dele. Que diremos disso? Que a promessa de Deus falhou? De modo algum. Deus não mente (Tito 1:2), Ele permanece Fiel (II Tim. 2:13). Abraão morreu sem haver recebido a herança prometida; ainda que, morreu na fé. Portanto, devemos nele aprender a lição que o Espírito Santo queria que os judeus aprendessem: que a herança prometida só poderia ser obtida somente por meio de Jesus e a ressurreição. As palavras do apóstolo Pedro deixam isso igualmente bastante claro:
“Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez com nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. Ressuscitando Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, e vos desviasse, a cada um, das vossas maldades” (Actos 3:25 e 26).
A bênção de Abraão, tal como já a temos visto, vem sobre os gentios – todas as famílias da terra –, mediante Jesus Cristo e sua cruz; porém a bênção de Abraão está relacionada com a promessa que se refere à terra de Canaã. Também essa terra haveria de ser possuída somente mediante Cristo e a ressurreição. Se fosse de outro modo, Abraão teria sido desapontado, em lugar de morrer na plena fé da promessa, como aconteceu. Porém, isso se tornará mais evidente ao avançarmos em nosso Estudo.

O CHAMADO DE DEUS A ABRAÃO - 2

UM ALTAR
Por onde Abraão andava, edificava um altar ao Senhor. É preciso recordar que a promessa de que todas as nações haveriam de ser abençoadas em Abraão, especificava a inclusão das famílias. A religião de Abraão era uma religião da família. Nunca se descuidou do altar familiar. Não se trata de uma linguagem figurada, mas sim a prática real dos pais a quem foi feita a promessa; promessa, promessa que compartilhamos se temos a fé e prática que eles tiveram.
UM EXEMPLO PARA OS PAIS
Deus disse a Abraão: “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito”. (Génesis 18:19).
Observe as palavras: “ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo”. Não ordenaria simplesmente que o fizessem assim, deixando logo o assunto esquecido, senão que, depois de haver dado mandamento, o resultado seria que guardariam o caminho do Senhor. Isto é, seu ensinamento se tornaria eficaz.
Podemos estar seguros que os mandamentos que Abraão deu a seus filhos e a sua família não eram rigorosos nem arbitrários. Os compreendemos melhor ao considerar a natureza dos mandamentos de Deus. “Seus mandamentos não são pesados” (I João 5:3). “Seu mandamento é a vida eterna” (João 12:50). Quem deseja seguir o exemplo de Abraão dirigindo a sua família por meio de regras duras e arbitrárias, e actuando como um juiz severo ou como um tirano, ameaçando o que irá acontecer se suas ordens não são obedecidas e executadas suas decisões, não segundo o espírito de Amor – por que são correctas –, mas sim por ser mais forte que seus filhos e porque estão debaixo do seu poder, tem muito que aprender do Deus de Abraão. “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6:4).
Ao mesmo tempo podemos estar seguros de que seus mandamentos não eram como os de Eli, débeis e queixosas repreensões a seus ímpios e miseráveis filhos: E disse-lhes: “Por que fazeis tais coisas? Pois de todo este povo ouço constantemente falar do vosso mau procedimento. Não, filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço” (I Samuel 2:23 e 24). Foi pronunciado juízo contra ele e sua casa, “Porque já lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele os não repreendeu” (I Samuel 3:13). Em contraste, Abraão transmitiu a bênção por toda a eternidade, devido a que os mandamentos que deu a seus filhos tiveram poder para impedir o mal.
Abraão haveria de ser uma bênção para todas as famílias. Por onde ele andava, era uma bênção. Porém esta bênção começou em sua família. Ali esteve o centro. A influencia do céu chegou a seus vizinhos a partir do círculo da família. E agora bem podemos prestar atenção particular a afirmação de que quando Abraão edificou um altar, “e invocou o nome do SENHOR” (Génesis 12:8, 13:4). Young traduz assim: “Pregou em nome de Jeová”. Se prestar atenção aos vários lugares onde aparece a mesma expressão, notará que a terminologia em hebraico é idêntica a de Êxodo 35:5, onde lemos que o Senhor desceu na nuvem, permaneceu ao lado de Moisés, “proclamou o nome de Jeová”. Portanto, podemos compreender que quando Abraão edificou o altar da família, não estava simplesmente instruindo a sua família imediata, mas que “proclamou o nome de Jeová” a todo o mundo a seu redor. Do mesmo modo que Noé, Abraão foi um pregoeiro de justiça (II Pedro 2:5). Deus pregou o evangelho a Abraão, e este o pregou a outros.
ABRAÃO E LÓ
“Era Abrão muito rico; possuía gado, prata e ouro”. “Ló, que ia com Abrão, também tinha rebanhos, gado e tendas. E a terra não podia sustentá-los, para que habitassem juntos, porque eram muitos os seus bens; de sorte que não podiam habitar um na companhia do outro. Houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló. Nesse tempo os cananeus e os ferezeus habitavam essa terra. Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados”. (Génesis 13:2, 5-8).
Quando compreendemos a natureza da promessa de Deus a Abraão podemos compreender o segredo de sua generosidade. Ló escolheu a melhor parte do país; isso não fez nenhuma diferença com respeito a herança de Abraão: Tendo a Cristo, tinha todas as coisas. A sua preocupação não estava centrada nas suas possessões na vida presente, mas na vida porvir. Aceitava com gratidão a prosperidade que o Senhor lhe quisesse enviar; porém se as suas riquezas nesta vida fossem extintas, isso em nada diminuiria a herança que lhe foi prometida.
Não há nada como a presença e bênção de Cristo para pôr fim a toda disputa, ou para evitá-la. Na acção de Abraão encontramos um verdadeiro exemplo cristão. Como o de mais idade, poderia ter invocado a sua dignidade e exigido os seus “direitos”. Entretanto, não poderia fazer assim pelo facto de ser um cristão. O Amor “não busca o que é seu”. Abraão manifestou o verdadeiro espírito de Cristo. Quando os professos cristãos são sedentos em reclamar as coisas deste mundo, e temem diante da expectativa de serem privados de alguns de seus direitos, demonstram indiferença para com a herança eterna que Cristo oferece.
A PROMESSA REPETIDA
A cortesia cristã de Abraão, que era o resultado da sua fé na promessa mediante Cristo, não passou desapercebida diante do Senhor. Lemos:
“Disse o SENHOR a Abrão, depois que Ló se separou dele: Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência. Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei” (Génesis 13:14-17).
Não esqueçamos que “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo”. (Gálatas 3:16). Não existe outra descendência de Abraão fora de Cristo e os que são d´Ele. Portanto, essa incontável prosperidade que prometeu a Abraão é idêntica à referida nesta outra passagem da Escritura:
“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação”. “Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7:9 e 10, 13 e 14).
Já temos visto que a bênção de Abraão vem a todas as nações por meio da cruz de Cristo, de forma que na declaração de que esta imensa multidão lavou suas vestes e as alvejou no sangue do Cordeiro, vemos o cumprimento da promessa feita a Abraão com o propósito de uma descendência impossível de ser contada. “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa”. (Gálatas 3:29).
É preciso observar que a repetição da promessa, no capítulo 13 de Génesis, a terra tem um lugar muito importante. O vimos em nosso estudo anterior, e voltaremos a encontrá-lo como característica fundamental da promessa, ali onde esta apareça.
ABRAÃO E MELQUISEDEQUE
A breve história de Melquisedeque é a cadeia que une nosso tempo com o de Abraão e os seus, e que mostra que a assim chamada “dispensação cristã”, existia nos dias de Abraão tanto como agora. O capítulo 14 de Génesis diz-nos tudo o que sabemos sobre Melquisedeque. O capítulo 7 de Hebreus repete a história, e faz alguns comentários sobre ela. Há também referências a Melquisedeque no capítulo 6, no Salmo 110:4.
Esta é a história: Abraão regressava de uma expedição contra os inimigos que tinham tomado Ló como prisioneiro, quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro, trazendo pão e vinho. Melquisedeque era rei de Salém, e sacerdote do Deus Altíssimo. Nesta qualidade abençoou Abraão, e este lhe deu o dízimo do despojo recuperado. Esta é a história, porém a partir dela aprendemos lições de grande importância.
Em primeiro lugar vemos que Melquisedeque tinha uma posição superior a Abraão já que “Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior”, e também porque Abraão lhe deu o dízimo.
Era um tipo de Cristo; era “a semelhança do filho de Deus” (Hebreus 7:3). Era uma figura de Cristo por ser ao mesmo tempo rei e sacerdote. O seu nome significa “Rei de justiça”, e Salém, da qual era rei, significa “paz”; por tanto, não era apenas sacerdote, mas rei de justiça e rei de paz. De Cristo está escrito: “Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés. O SENHOR jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”. (Salmo 110:1, 4). E o nome com o qual ele será chamado é “Senhor justiça nossa” (Jeremias 23:6).
As Escrituras referem-se nestas palavras sobre a realeza do sacerdócio de Cristo: “E dize-lhe: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; ele brotará do seu lugar e edificará o templo do SENHOR. Ele mesmo edificará o templo do SENHOR e será revestido de glória; assentar-se-á no seu trono, e dominará, e será sacerdote no seu trono; e reinará perfeita união entre ambos os ofícios” (Zacarias 6:12 e 13). O poder que por ele Cristo, como sacerdote, faz reconciliação pelos pecados do povo, é o poder do trono de Deus sobre o qual se senta.
Porém o ponto principal, em referência a Melquisedeque, é que Abraão viveu na mesma “dispensação” que nós vivemos. O sacerdócio era então da mesma ordem que agora. Não é somente que sejamos os filhos de Abraão, se somos da fé; além disso, o nosso Sumo Sacerdote - que subiu aos céus -, foi feito pelo juramento de Deus Sumo Sacerdote para sempre “segundo a ordem de Melquisedeque”. Assim em um duplo sentido, está claro que “Se sois de Cristo, certamente sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa”. “Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se” (João 8:56).
Abraão, portanto, era cristão como os que viveram após a crucifixão de Cristo. “Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (Actos 11:26). Porém, os discípulos não eram diferentes depois de os chamarem cristãos, do que foram antes disso. Quando eram conhecidos simplesmente como judeus, eram tão cristãos quanto depois de serem chamados dessa maneira. O nome não significa muito. Foram chamados de cristãos por serem seguidores de Cristo; no entanto, seguiam a Cristo antes que lhe chamassem cristãos, tanto quanto o seguiram depois. Abraão, centenas de anos antes dos dias de Jesus de Nazaré, foi precisamente o que seria cada discípulo em Antioquia a quem chamaram-no cristão: um seguidor de Cristo. Por tanto, em sentido mais pleno da palavra, foi um cristão. Todos os cristãos, e ninguém mais que eles, são os filhos de Abraão.
Observe que o sétimo capítulo de Hebreus nos mostra o caso de Abraão e Melquisedeque como prova de que ele pagou dos dízimos não é uma ordenança levítica. Muito antes do nascimento de Levi, Abraão pagou os dízimos. E os pagou a Melquisedeque cujo sacerdócio era um sacerdócio cristão. Por tanto, os que estão em Cristo, e por tanto são filhos de Abraão, darão também o dízimo de tudo.
Devemos notar que o dízimo era algo bem conhecido nos dias de Abraão. Este deu os dízimos ao sacerdote de Deus como algo natural. Reconheceu o fato de que a décima parte é do Senhor. O registo de Levítico não é a origem do sistema do dízimo, mas uma simples constatação do fato. Até a própria ordem levítica pagou os dízimos em Abraão (Hebreus 7:9). Não se diz acerca de quando foi dada essa instituição ao homem pela primeira vez, porém vemos que era bem conhecida nos dias de Abraão. No livro de Malaquias, que está especialmente dirigido àqueles que vivem justamente “antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” (Malaquias 4:5), nos diz que aqueles que retém os dízimos estão roubando ao Senhor.
O argumento é simples: Abraão deu o dízimo a Melquisedeque; o sacerdócio de Melquisedeque é o sacerdócio pelo qual vem a justiça e a paz, o sacerdócio que por ele somos salvos. Abraão deu o dízimo a Melquisedeque por que Melquisedeque era o representante do Deus Altíssimo, e o dízimo é do Senhor. Se somos de Cristo, somos filhos de Abraão; e se não somos filhos de Abraão, então não somos de Cristo. Entretanto, se somos filhos de Abraão temos de fazer as obras de Abraão. De quem somos?
Existe ainda outro ponto a destacar. Se você é observador lhe chamará a atenção o fato de que Melquisedeque, que foi feito rei de justiça e paz, e sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe a Abraão pão e vinho: são os emblemas do corpo e o sangue de nosso Senhor. Pode-se concluir que o pão e o vinho tinham por objectivo o sustento físico de Abraão e seus acompanhantes. No entanto, isso em nada diminui o significado do fato. Melquisedeque saiu em sua qualidade de rei e sacerdote, e Abraão o reconheceu como tal. Observe a relação em Gênesis 14:18 e 19: “Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra”. É evidente que o pão e o vinho que Melquisedeque ofereceu adquiriu significado especial pelo fato de que era sacerdote do Deus Altíssimo. Os judeus do tempo de Cristo se enganaram a respeito de sua afirmação de que Abraão se alegrou por ver o dia de Cristo. Não podiam ver evidência alguma deste fato. Podemos nós ver nessa transacção uma evidência de que Abraão viu o dia de Cristo, que é o dia da salvação?

O CHAMADO A ABRAÃO - 3

O PACTO
O capítulo 15 de Génesis contém o primeiro relato do pacto feito com Abraão. “Depois destes acontecimentos, veio a palavra do SENHOR a Abrão, numa visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande”. Observe: Deus afirmou que ele mesmo era a recompensa [galardão] de Abraão. Se somos de Cristo, somos semente de Abraão, e conforme a promessa, herdeiros. Herdeiros de quem? – “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Romanos 8:17). O salmista referiu-se à mesma herança: “O SENHOR é a porção da minha herança” (Salmo 16:5). Temos, pois, aqui, outro argumento que relaciona a todo o povo de Deus com Abraão. A promessa para si, é a que foi feita por Deus a Abraão.
A promessa que Deus fez a Abraão não se referia somente a ele, mas também à sua semente. De forma que Abraão disse ao Senhor: “SENHOR Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro” (Génesis 15:2 e 3). Abraão não conhecia o plano do Senhor. Conhecia e cria na promessa, porém, sendo que envelhecia e não tinha filhos, supôs que a semente que lhe fora prometida viria através do seu servo. Entretanto, esse não era o plano de Deus. Abraão não haveria de ser o progenitor de uma raça de servos, mas sim de homens livres.
Então o Senhor lhe disse: “Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti será o teu herdeiro. Então, conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade. Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça” (Génesis 15:4-6).
“E Abraão creu no Senhor”. A raiz do verbo traduzido como “creu” é a palavra “Amém”. A ideia é de firmeza, de um fundamento. Quando Deus pronunciou a promessa, Abraão disse “Amém”, isto é, edificou em Deus, tomando a palavra de Deus como fundamento seguro. Relacionado com Mateus 7:24 e 25.
Deus prometeu a Abraão uma grande casa. No entanto, essa casa deveria ser edificada no Senhor, e assim o compreendeu Abraão, que começou a edificar sem demora. Jesus Cristo é o fundamento, já que “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” I Coríntios 3:11. A casa de Abrão é a casa de Deus, edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Efésios 2:20). “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado” (I Pedro 2:4-6)
“E Abraão creu no Senhor, e isso lhe foi imputado como justiça”. Porquê? Porque fé significa edificar sobre Deus e sua a palavra, e isso significa receber a vida de Deus e a Sua Palavra. Preste atenção nos versículos citados pelo apóstolo Pedro, que o fundamento sobre o qual se edifica a casa é uma pedra viva. O fundamento é um fundamento vivo, de quem recebem vida os que vêm a Ele, de forma que, a casa que é edificada é uma casa viva. Cresce a partir da vida do seu fundamento. Porém, o fundamento é recto: “para anunciar que o SENHOR é recto... nele não há injustiça” (Salmo 92:15). Por tanto, visto que fé significa edificar em Deus e a sua santa palavra, torna-se evidente que a fé há de ser justiça para quem a possui e a exercite.
Jesus Cristo é a origem de toda a fé. A fé tem n´Ele o seu princípio e o seu fim. Não pode haver fé real que não tenha o seu centro em Cristo. Por tanto, quando Abrão creu no Senhor, creu no Senhor Jesus Cristo. Deus revelou-Se ao homem, por meio de Cristo (João 1:18). Que a crença de Abraão foi fé pessoal no Senhor Jesus Cristo, fica também evidenciado pelo facto de que isso lhe foi imputado por justiça. E não há justiça, excepto pela fé de Jesus Cristo, “o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (I Coríntios 1:30). Nenhuma justiça terá o menor valor quando o Senhor aparecer, excepto “a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:9). Porém, visto que Deus mesmo considerou a fé de Abraão como justiça, torna-se claro que a fé de Abraão estava centrada unicamente em Cristo, de quem procedia a sua justiça.
Isso demonstra que a promessa de Deus a Abraão foi unicamente mediante Cristo. A semente ou descendência seria exclusivamente a que é pela fé de Cristo, já que Cristo mesmo é a semente. A posteridade de Abraão, que haveria de ser tão incontável como as estrelas, será composta pela hoste inumerável que lavou as suas vestes no sangue do Cordeiro. As nações, que haveriam de proceder dele, serão “as nações que foram salvas” (Apocalipse 21:24). Ver Mateus 8:11. “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm n´Ele o sim; porquanto também por Ele é o amém” (II Coríntios 1:20).
“Naquele mesmo dia, fez o SENHOR aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra”, etc (Génesis 15:18). Nos versículos anteriores encontramos o estabelecimento desse pacto. Temos primeiramente a promessa de uma posteridade incontável, e também da terra. Deus disse: “Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te por herança esta terra” (verso 7). É necessário recordar esse versículo ao ler o verso 18, porque, neste caso, poderíamos ter a impressão errada de que houve algo [a terra] que foi prometida somente aos descendentes de Abraão, excluindo o próprio Abraão. “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência” (Gálatas 3:16). À sua descendência não lhe foi prometida nada que não lhe tenha sido prometido a ele.
Abrão creu no Senhor. Apesar disso, disse: “Perguntou-lhe Abrão: SENHOR Deus, como saberei que hei de possuí-la?” (Génesis 15:8). Segue a continuação o relato da partilha ao meio do novilho, da cabra e o cordeiro. Refere-se a ele em Jeremias 34:18-20, quando Deus reprovou o povo por transgredir o pacto.
“Ao pôr-do-sol, caiu profundo sono sobre Abrão, e grande pavor e cerradas trevas o acometeram; então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas. E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus” (Génesis 15:12-16).
Temos visto que esse pacto era um pacto de justiça pela fé, visto que a descendência e a terra se obteriam pela fé na palavra de Deus; fé que a Abraão lhe foi considerada como justiça [Romanos 4:20-22]. Vejamos agora o que mais podemos aprender dos textos citados anteriormente.
Fica claro que Abraão haveria de morrer antes que lhe fosse dada a possessão. Morreria idade avançada, e a sua descendência seria estrangeira em terra alheia durante quatrocentos anos.
Não é somente Abraão morreria, mas também os seus descendentes imediatos, ante que a semente possuísse a terra que se lhes havia prometido. De facto, sabemos que Isaac morreu antes que os filhos de Israel fossem para o Egipto, e que Jacó e todos os seus filhos morreram na terra do Egipto.
“A Abraão foram feitas as promessas, e à sua descendência”. O capítulo que estamos estudando nos diz o mesmo. É evidente que uma promessa feita à semente de Abraão não pode cumprir-se dando-se o prometido somente a uma parte dela; e o que foi prometido a Abraão e sua semente não pode chegar ao cumprimento a menos que Abrão participe, tanto como sua semente.
O que demonstra o texto anterior? – Simplesmente isto, que promessa do capítulo 15 de Génesis segundo a qual Abraão e a sua semente possuiriam a terra, se referia à ressurreição dos mortos, e nada menos que isso. O anterior segue sendo correcto, ainda se excluíssemos o próprio Abraão do pacto que ali se enuncia; posto que, como já temos visto, é indiscutível que muitos dos descendentes imediatos de Abraão estariam já mortos no tempo do cumprimento da promessa; e sabemos que Isaac, Jacó e os doze patriarcas morreram muito antes desse momento.
Ainda que deixando Abraão fora, permanece o facto de que a promessa à semente tem de incluir a semente inteira, e não somente a uma parte dela. Porém, não podemos excluir da promessa a Abraão. Por tanto, temos positiva evidência de que neste capítulo encontramos o registo de como foi pregado a Abraão acerca de Jesus e a ressurreição.
O CUMPRIMENTO DA PROMESSA TRAZ A RESSURREIÇÃO
Esta promessa leva-nos a compreender melhor por que Estêvão, quando teve que enfrentar o tribunal por pregar a Jesus, começou o seu discurso com uma referência a estas mesmas palavras. Falando da permanência de Abraão na terra de Canaã, afirmou que Deus “não lhe deu herança, nem sequer o espaço de um pé; mas prometeu dar-lhe a posse dela e, depois dele, à sua descendência, não tendo ele filho” (Actos 7:5). Na sua referência e essa promessa, que era bem conhecida por todos os judeus, Estevão mostrou-lhes de forma indiscutível que só poderia haver cumprimento pela ressurreição dos mortos, por meio de Jesus.
“E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus”. Isto nos permite conhecer a razão pela qual Abraão morreu na fé, apesar de não haver recebido a promessa. Se ele tivesse esperado recebê-la nesta vida actual, terminaria decepcionado ao chegar à sua morte sem vê-la cumprida. Porém, Deus lhe disse claramente que haveria de morrer antes de ver seu cumprimento. Por tanto, visto que Abraão creu em Deus, está claro que compreendeu o cumprimento da promessa como relativo à ressurreição, e que creu nela. A ressurreição dos mortos, como veremos esteve sempre no centro da esperança de todo verdadeiro filho de Abraão.
Porém, aprendemos algo mais. Na quarta geração, ou depois dos quatrocentos anos, a sua descendência haveria de ser libertada da escravidão, na terra prometida. Porque não haveria de possuir a terra de uma vez? – Por que a maldade dos amorreus não tinha chegado à sua plenitude. Isso mostra que Deus daria ao amorreus tempo para arrepender-se, e por consequência, tempo para que cumprissem a medida da sua maldade, demonstrando assim a sua a desqualificação para possuir a terra.
E isto acentua uma vez mais que a terra que Deus prometeu a Abraão e à sua semente só pode se possuída por um povo justo. Deus não expulsaria da terra aqueles em que houvesse a mínima possibilidade de chegarem a ser justos. Porém, o facto de que o povo que haveria de ser destruído de diante dos filhos de Abraão devido à sua maldade, mostra que se espera que os possuidores da terra sejam justos. Por tanto, vemos que a descendência de Abraão, a quem foi prometida a terra, haveria de ser um povo justo. Isto já ficou demonstrado pelo facto de que a Abraão foi prometida descendência somente por meio da justiça da fé.

15.6.09

A VERDADE PRESENTE: OS PILARES DA FÉ

1 Deus Preservou a Bíblia
“Vi que Deus havia de maneira especial guardado a Bíblia, ainda quando dela existiam poucos exemplares; e homens doutos nalguns casos mudaram as palavras, achando que a estavam tornando mais compreensível quando, na realidade, estavam mistificando aquilo que era claro, fazendo-a apoiar suas estabelecidas opiniões, que eram determinadas pela tradição. Vi, porém, que a Palavra de Deus, como um todo, é uma cadeia perfeita, prendendo-se uma parte à outra, e explicando-se mutuamente.”
Primeiros Escritos, pág. 220-221 – História da Redenção, pág. 391
“Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de fé e prática. Por essa Palavra seremos julgados. Na Bíblia Deus prometeu dar visões nos últimos dias; não para uma nova regra de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que se desviam da verdade bíblica”.
Mensagens Escolhidas. Vol. III, pág. 29.
“Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas”. O Grande Conflito, Capítulo Nossa Única Salvaguarda, pág. 594/596.
“Estou de pleno acordo convosco quando apresentais a Bíblia, e a Bíblia tão somente, como fundamento de nossa fé.” Mensagens Escolhidas. Vol. II, pág.85.
2 A Verdade Presente – Pilares da Fé
Cuidadoso estudo de documentos da época revela o que era denominado “verdade presente” nesse período de formação. Ela não abrangia como alguns tem pensado, a riqueza da interpretação profética, detalhes da qual foram desdobrados durante as duas ou três décadas seguintes, mas constituía-se de “pontos essenciais”, “colunas”, “fundamentos” de importância vital. Estes pontos podem ser assim numerados:
1-) O Segundo advento de Cristo.
2-) A Obrigatoriedade do Sábado.
3-) A Terceira Mensagem Angélica.
Em sua plenitude na correcta relação para com primeira e a segunda mensagens angélicas.
4-) O Santuário Celestial
O ministério de Cristo no santuário celestial, o qual terminaria não muito antes do segundo advento. (com ênfase na obra iniciada no décimo dia do sétimo mês de 1844)
5-) A NÃO IMORTALIDADE DA ALMA
Estas doutrinas estruturais formavam a “firme plataforma” que, em 1858 foi descrita por Ellen G. White, sobre a qual “quase todos estavam firmes”. (Primeiros Escritos, pág. 259) Estas constituíam os “marcos” enumerados por Ellen White trinta anos mais tarde, em relação a uma discussão, em que alguns desejavam incluir pontos menores que estavam sendo considerados.
A Mensageira da Igreja Remanescente, pág. 87 (CPB-1959)
A Verdade Presente em Textos de E.G.W.
3 Desprezar o Espírito de Profecia
"É plano de Satanás enfraquecer a fé do povo de Deus nos Testemunhos. A seguir vem o cepticismo com respeito a pontos vitais de nossa fé, os pilares de nossa posição, daí a dúvida quanto às Escrituras Sagradas, seguindo-se a marcha descendente à perdição. Quando os Testemunhos, que outrora foram cridos, são postos em dúvida e desprezados, Satanás sabe que os que foram enganados não se deterão aí; e ele redobra os seus esforços até colocá-los em aberta rebelião, o que se torna incurável, e o fim é a destruição". -- Testimonies, Vol.4, pág. 210-211 (5 de Janeiro de 1875).
“O derradeiro engano de Satanás será anular o testemunho do Espírito de Deus. "Não havendo profecia, o povo se corrompe" [no inglês, "o povo perece"]. Prov. 29:18. Satanás operará habilmente de várias maneiras e usando diferentes instrumentos, para perturbar a confiança do povo remanescente de Deus no verdadeiro testemunho.” - Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 48
"Uma coisa é certa: Os adventistas do sétimo dia que se colocam sob o estandarte de Satanás abandonarão primeiro sua fé nas advertências e repreensões contidas nos Testemunhos do Espírito de Deus."
Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 84.
4 A Igreja será achada em Falta
"Não está distante o tempo em que a prova virá para cada alma. A marca da besta será instada sobre nós. Aqueles que, passo a passo, submeteram-se às exigências mundanas e se conformaram com os costumes mundanos não acharão difícil submeter-se às autoridades superiores, antes que se sujeitarem ao desprezo, insultos, ameaça de prisão e morte. A disputa é entre os mandamentos de Deus e os mandamentos dos homens. Neste tempo, o ouro será separado da escória na igreja… A voz da fiel sentinela será ouvida:
'Saí do meio dela, não toqueis nada imundo; saí do meio dela; sede puros, vós que levais os vasos do Senhor. A igreja não pode medir-se pelo mundo, nem pela opinião dos homens, nem pelo que outrora foi… A igreja será pesada nas balanças do santuário. Se o seu carácter moral e estado espiritual não corresponderem ao benefício e bênçãos que Deus lhe tem conferido, ela será achada em falta".
Testimonies, vol. 5, pág. 81-83.

13.6.09

O SENHOR JUSTIÇA NOSSA

1- Qual é, da parte de Deus, a base da justificação? “Para que, sendo justificados pela Sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.” Tiago 3:7
2- Qual é o meio por que essa graça justificadora se torna proveitosa ao pecador? “Logo muito mais agora, sendo justificados pelo Seu (de Cristo) sangue, seremos por Ele salvos da ira.” Romanos 5:9
3- De que maneira nos apossamos da justificação? “Concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” Romanos 3:28
4- Qual é o único meio através do qual os pecadores podem ser justificados, ou tornados justos? “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” Gálatas 2:16

5- Que exemplo positivo torna claro o sentido dessa doutrina? “Então o levou fora, disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua semente. E creu ele (Abraão) no Senhor, e foi-lhe imputado por justiça.” Génesis 15:5,6

6- Como é definida a justiça assim alcançada? “E seja achado n´Ele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé.” Filipenses 3:9

7- Sobre que base é garantida a justificação?“ E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para a justificação.” Romanos 5:16

8- Porque motivo o que faz qualquer obra recebe a recompensa? “Ora àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça mas segundo a dívida.” Romanos 4:4

9- Sob que condição é a fé imputada como justiça? “Mas aquele que não pratica, mas crê n´Aquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.” Romanos 4:5

10- Como é que a graça, como base de justificação, exclui a justiça pelas obras? “E se isto é por graça já não é pelas obras: de outra maneira, a graça já não é graça: se porém é pelas obras, já não há mais graça: doutra maneira a obra já não é obra.” Romanos 11:6

11- De que maneira devem ser justificados tanto os judeus como os gentios? “É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente, se Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão.” Romanos 3:29,30

12- Que declaração testemunha da fé de Abraão em Deus?“ E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus; e estando certíssimo de que o que Ele tinha prometido também era poderoso para o fazer.” Romanos 4:20,21

13- Qual foi o resultado da fé de Abraão? “Pelo que isso lhe foi também imputado como justiça.” Romanos 4:22

14- Como podemos nós receber essa mesma justiça imputada? “Ora não só por cauda dele está escrito, que lhe fosse tomado em conta, mas também por nós, a quem será tomado em conta; os que cremos n´Aquele que dos mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor.” Romanos 4:23,24

15- Porque deve a fé que justifica ter relação tanto com a morte como com a ressurreição de Cristo? “O qual por nosso pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação.” Romanos 4:25 – 1ª Coríntios 15:17-19.

16- Que é inseparável da experiência da justificação pela fé? “Seja-vos pois notório, varões irmãos, que por Este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados por Ele é justificado todo aquele que crê.” Actos 13:38,39

17- De que modo tornou Cristo possível ser imputada a justiça ao crente? “Porque, como pela obediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos foram feitos justos.” Romanos 5:19

18- Que declaração do profeta Isaías aclara esta grande verdade? “Com o Seu conhecimento o Meu Servo, o Justo, justificará a muitos: porque as iniquidades deles levará sobre Si.” Isaías 53:11

19- O que habilita a Deus imputar a justiça de Cristo, sem por isso, deixar de ser Justo? “Para demonstração da Sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” Romanos 3:26

20- Com que nome com toda a justiça Cristo é chamado? “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a David u Renovo justo; e, sendo Rei, reinará e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na Terra. Nos Seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro: e este será o Seu nome, com que O nomearão: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” Jeremias 23:5,6

21- Que bendita experiência se segue à aceitação de Cristo como nossa justiça? “Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.” Romanos 5:1

22- Deste modo, que se torna Jesus para o crente? “Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; derribando a parede de separação que estava no meio.” Efésios 2:14

23- Sobre que fundamento não há possibilidade de justificação para o pecador? “Por isso nenhuma carne será justificada diante d´Ele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.” Romanos 3:20

24- Como é testemunha desta verdade a morte de Cristo? “Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde.” Gálatas 2:21

25- Que se demonstra por qualquer tentativa de justificação pela lei? “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído.” Gálatas 5:4

26- Porque deixou Israel de alcançar a justiça?“Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Porquê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; tropeçaram na pedra de tropeço.” Romanos 9:31,32

27- Que nos revela a lei? “Pela lei vem o conhecimento do pecado.” Romanos 3:20

28- Que testemunha da genuinidade da justiça recebida pela fé, à parte das obras da lei? “Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas.” Romanos 3:21

29- Anulamos a lei de Deus pela fé? “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei.” Romanos 3:31

30- Que texto das Escrituras mostra que a justiça que é recebida pela graça, por meio da fé, não deve ser desculpa para continuar no pecado? “Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” Romanos 6:1,2

31- Exclui a fé as obras? “Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?” Tiago 2:20

32- Qual é a prova da fé genuína, viva? “Mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” Tiago 2:18

33- Quais são, então, as provas visíveis da verdadeira justificação pela fé? “Vede então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.” Tiago 2:22 – ver 2:22

34- Que grande permuta se operou no em nosso favor em Cristo? “Àquele que não conheceu pecado, O fez pecado por nós; para que n´Ele fossemos feitos justiça de Deus.” 2ª Coríntios 5:21
Conclusão: Disse um líder do passado: “Aprendei a conhecer a Cristo, e a Ele crucificado. Aprendei a cantar um novo cântico – a desesperar das vossas próprias obras, e a clamar a Ele: Senhor Jesus, Tu és a minha justiça, e eu o Teu pecado. Tomaste sobre Ti o que era meu, e deste-me o que Te pertencia; o que não eras Te tornaste, a fim de que me pudesse tornar aquilo que eu não era.” – História da Reforma, d´Aubigné, vol.2, cap. 8.
Nenhum ser humano tem méritos em si mesmo para ser salvo, todos pecaram. Só Jesus, viveu sem pecado, morreu para nos imputar a Sua jutiça (a Sua inocência). Aceite Jesus agora, este é o momento, porque esperar?

4.6.09

QUANDO VIRÁ JESUS?

Muitas são as promessas registadas na Bíblia, mas com toda segurança, a mais lembrada e esperada nos últimos dois mil anos pelos cristãos do mundo inteiro é a seguinte:
"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver estejais vós também" (João 14:1-3). [a]
Jesus Cristo, depois de sua morte e ressurreição no ano 31 de nossa era, subiu aos céus prometendo que voltaria para destruir a maldade e instaurar seu reino onde a paz e a felicidade eternas serão estabelecidas. [b] Será possível conhecer a data deste evento? O próprio Jesus responde:
"Porém daquele Dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente meu Pai... Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também, porque o Filho do Homem há de vir à hora em que não penseis"(Mateus 24:36,43,44).
É por esta razão que não devemos nos deter em especulações quanto às datas, que Deus não revelou. Jesus nos disse que vigiemos, mas sem fixar uma data definida. Não podemos nos assegurar que Jesus regressará dentro de um, dois ou cinco anos, nem tampouco devemos atrasar sua vinda dizendo que talvez não se produza nem em dez, nem em vinte anos [c]
Contudo é claro que nenhum ser humano sabe o momento exacto da vinda de Cristo, Deus o sabe e não permitira que este acontecimento chegue sem aviso para aqueles que o estejam esperando: "Porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite. Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; de modo nenhum escaparão. Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele Dia vos surpreenda como ladrão"(1 Tessalonicenses 5:2-4).
Por quê razão este grupo não permanece em trevas? O que lhes permite conhecer o que o resto do mundo ignora?
"E temos, mui firme, a palavra dos profetas, a qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro..." (2 Pedro 1:19).
Segundo o ensinado pelo Senhor Jesus Cristo, estar atento à palavra dos profetas é o que nos permitirá conhecer quão perto se encontra o dia de seu segundo advento:
"Aprendei, pois, esta parábola da figueira: quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas essas coisas, sabei que ele está próximo, às portas" (Mateus 24:32-33).
Que coisas? Há aproximadamente dois mil anos os discípulos preocupados com este mesmo assunto consultaram a seu mestre, que lhe revelou as mais importantes. Esta conversa está registada na Bíblia para nosso conhecimento.
"E, estando assentado no monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos, em particular, dizendo: Dize-nos quando serão essas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. E ouvireis de guerras e rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terramotos em vários lugares. Mas todas essas coisas são o princípio das dores" (Mateus 24 3-8).
Se você é daquelas pessoas que gostam de estar em dia com as notícias certamente verá nesta declaração de Jesus Cristo, uma impressionante descrição do que está acontecendo agora mesmo no mundo. Se você comprar o jornal de hoje é muito provável que encontre informações acerca de `seres iluminados' que asseguram que são a encarnação de Cristo e que vieram para salvar o mundo. Também lerá sobre as últimas guerras suscitadas no Oriente Médio e outras zonas de conflito. Lerá acerca dos últimos rumores de guerras anunciadas por astrólogos lendários como Nostradamus ou outros videntes modernos, se inteirará dos milhares de mortos e milhões de feridos deixados pelo último terramoto em algum lugar do planeta, se informará da última epidemia colectiva nos países europeus e do novo vírus letal criado por acidente em um laboratório de prestigio em manipulação genética. Tomará consciência da desolação na Etiópia, onde seus habitantes morrem por falta de alimentos. Lerá sobre a crise económica mundial e da terrível taxa de desemprego que está fazendo que cada vez mais pessoas tenham fome, mesmo nos países mais industrializados.
Apesar do incrível cumprimento das palavras de Cristo, devemos levar em conta que embora elas anunciem que Ele vem, estes sinais não são os últimos nem os definitivos. Se leres esta passagem com cuidado notarás que Jesus Cristo disse: "mas ainda não é o fim" e "tudo isto é só o princípios das dores". [d] Isto mostra que ainda faltam algumas coisas por vir, quais são? Leia com atenção a continuação do sermão pregado pelo Senhor Jesus aos discípulos:
"Então, vos hão de entregar para serdes atormentados e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo. E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim" (Mateus 24:9-14).
Observe a diferença da primeira parte de seu sermão, neste trecho Jesus faz alusão directa aos eventos que devem acontecer pouco antes do fim do tempo, pois termina com as palavras "e então vira o fim". Resumamos estes eventos:
O povo de Deus será entregue à tribulação. Se levantará um ódio generalizado contra eles e lhes perseguirão até a morte.
Os homens odiarão uns aos outros, a maldade multiplicará e o amor de muitos se esfriará.
Falsos profetas se levantarão e enganarão a muitos.
O evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações.
Embora muitos intérpretes citem estes quatros pontos como se tratassem de fatos isolados, o contexto mostra que eles na realidade, fazem parte de uma mesma profecia, pois o ódio e o desamor dos habitantes da terra, somados à obra dos falsos profetas darão como resultado a perseguição e morte daqueles que se levantam para pregar o evangelho do Reino de Deus. Esta conclusão é completamente confirmada por Jesus no livro de Apocalipse:
Advertência: O que é descrito na passagem seguinte não é literal em todos os seus aspectos. Apenas mostra, por meio de símbolos, os personagens e os eventos implicados no grande conflito que se desencadeará antes da vinda de Cristo.
"6 E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, 7 dizendo com grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, porque vinda é a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. 8 E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu! Caiu babilónia, aquela grande cidade que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição! 9 E os seguiu o terceiro anjo, dizendo com grande voz: se alguém adorar a besta e a sua imagem e receber o sinal na testa ou na mão, 10 também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. 11 E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso, nem de dia de noite, os que adoram a besta e a sua imagem e aquele que receber o sinal do seu nome. 12 Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. 13 E ouvi uma voz do céu, que dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam. 14 E olhei, e eis uma nuvem branca e, assentado sobre a nuvem, um semelhante ao Filho do Homem, que tinha sobre a cabeça uma coroa de ouro e, na mão, uma foice aguda. 15 E outro anjo saiu do templo, clamando com grande voz ao que estava assentado sobre a nuvem: Lança a tua foice e sega! É já vinda a hora de segar, porque a seara da terra está madura! 16 E aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a sua foice à terra, e a terra foi segada" (Apocalipse 14:6-16).
Note que esta passagem de Apocalipse menciona os mesmos elementos de Mateus 24 com uma semelhança impressionante. Comparemos as duas passagens:
Mateus 24:9 diz: "então os entregarão à tribulação, os matarão, e sereis odiados por todos por causa do meu nome" e Apocalipse 14: 12,13. Refere-se aos que tem a fé de Jesus. "Aqui está a paciência dos santos... Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor". A causa de sua morte tem relação directa com a adoração da "imagem" do versículo 9, pois segundo Apocalipse 13:15 a esta haveria de permitir que falasse e fizesse matar a todo o que não a adorasse.
Mateus 24:9,12 assegura que para esta época se haverá "multiplicado a iniquidade" e que o povo de Deus será odiado por "todos". Apocalipse 14:9 fala de uma entidade chamada "a besta", a qual aparece em Apocalipse 13:6-8 "blasfemando contra Deus" e fazendo "guerra contra os santos". E embora pareça inacreditável, "todos os habitantes da terra" chegarão a estar de acordo com ela (vs. 8).
Mateus 24:11 diz que "muitos falsos profetas se levantarão e enganarão a muitos." Apocalipse 14:9 fala acerca da imposição da "marca da besta" e da adoração a esta entidade "e a sua imagem" fatos que precisamente terão sua origem na obra de um falso profeta: "... o falso profeta, que, diante dela, fizera os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta e adoraram a sua imagem"(Apocalipse 19:20).
Mateus 24:13 diz que "o que perseverar até o fim será salvo". Apocalipse 14:12, falando do povo de Deus diz: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus".
Mateus 24:14 falando da pregação da última mensagem de misericórdia, diz: "E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo". Apocalipse 14:6 diz: "... o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda nação, e tribo e língua, e povo".
Mateus 24:14 diz que imediatamente depois de pregar-se o Evangelho a todas as nações "virá o fim". Apocalipse 14:16 apresenta esta mesma verdade ao dizer "... e a terra foi ceifada"; pois o Senhor Jesus ensinou em Mateus 13:39 que "a ceifa é o fim do mundo".
Todo o anterior confirma que Apocalipse é, em si mesmo uma extraordinária ampliação dos eventos expostos pelo Senhor Jesus em Mateus 24:9-14 e que na realidade são uma mesma profecia, por meio da qual podemos saber com exactidão quão perto ou quão distante se encontra o "fim do mundo".
É importante ressaltar que apesar da vinda de Jesus estar muito perto, ainda não está "às portas". Somente quando o mundo inteiro se unir contra o povo de Deus, quando se decrete a morte sobre os que se negam prestar adoração a besta e a sua imagem (lembre que são símbolos), poderemos saber com certeza que a vinda de Cristo é iminente.
Amigo leitor, não permita que seu coração se angustie e desanime com o que diz esta profecia. É certo que os que se neguem a adorar a besta e a sua imagem serão perseguidos até as últimas consequências, mas também é certo que Deus é nosso Pai, nos ama e não nos deixará sozinhos na prova:
"Dizei aos turbados de coração: Esforçai-vos e não temais; eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; Ele virá e vos salvará." (Isaías 35:4).
Ainda se necessário fosse dar a vida por causa da pregação do evangelho, ou se nosso corpo sofresse dor, e aflição nosso coração, tão pouco devemos temer, pois se cultivamos nossa amizade com Jesus e fazemos dele o centro de nossas vidas, finalmente venceremos:
"Porque qualquer um que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho esse a salvará" (Marcos 8:35).
"Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá. Crês tu nisso? (João 11:25,26).
A Bíblia nos diz, também, que não será necessário que todos os filhos de Deus percam a vida, pois haverá um grande número deles que serão protegidos durante este tempo e verão Cristo voltar sem terem conhecido a morte. O apóstolo Paulo descreve esta verdade de modo que nos anima a colocar nossa esperança no glorioso destino que espera aos que permaneçam firmes e constantes:
"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (1 Tessalonicenses 4:16-18).
• Os personagens que intervirão no conflito final já estão presentes e apenas esperam a oportunidade para tomar seu papel no último grande drama da história deste mundo. É importante que todo aquele que crê na palavra bíblica como única regra de fé e prática, investigue com diligência a quê ou a quem se referia Jesus Cristo nas passagens proféticas de Mateus 24 e Apocalipse. • Perguntas como: Quem é a besta? Qual será sua marca? Quem é a imagem? Quem é o falso profeta? Quem é a grande Babilónia? Estas são questões que você quer ver respondidas e nós o faremos na graça de Deus.
[a] A menos que se mostre o contrário as citações bíblicas incluídas neste livro (na versão em português) foram retiradas da Bíblia traduzida por João Ferreira de Almeida, edição revista e corrigida, 1995, da Sociedade Bíblica Brasileira. A ênfase presente em todas as referências, tanto bíblicas como seculares, foi colocada pelo autor com a finalidade de ressaltar a parte mais importante de cada texto.
[b] Mateus 25:31-34; Apocalipse 21:1-7
[c] Ellen White, Mesajes Selectos, tomo 1, págs. 221, 222.
[d] Mateus 24:6,8.