O verdadeiro médico é um educador. Ele reconhece sua
responsabilidade, não somente para com o doente que se acha sob seu cuidado
imediato, mas também para com a coletividade no meio da qual vive. Ocupa o
lugar de um guardião tanto da saúde física como da moral. É seu esforço, não
somente conseguir métodos corretos no tratamento dos enfermos, mas incentivar
hábitos sãos de vida, e disseminar o conhecimento dos retos princípios.{CBVc
41.1}
Educação nos princípios de saúde — Nunca foram mais
necessários os conhecimentos dos princípios de saúde do que o são na
atualidade. Apesar dos maravilhosos progressos em tantos ramos relativos aos
confortos e comodidades da vida, mesmo no que respeita a questões sanitárias e
tratamento de doenças, é alarmante o declínio do vigor físico e do poder de
resistência. Isso exige a atenção de todos quantos levam a sério o bem-estar de
seus semelhantes.
Nossa civilização artificial está fomentando males que
destroem os sãos princípios. Os costumes e as modas se acham em guerra com a
natureza. As práticas a que eles obrigam, e as condescendências que fomentam,
estão diminuindo rapidamente a resistência física e mental, e trazendo sobre a
raça insuportável fardo. A intemperança e o crime, a doença e a miséria
encontram-se por toda parte.
Muitos transgridem as leis de saúde devido à ignorância, e
necessitam instruções. A maioria, porém, sabe melhor do que aquilo que pratica.
Esses precisam ser impressionados quanto à importância de tornar o conhecimento
que têm um guia de vida. O médico tem muitas oportunidades tanto de comunicar o
conhecimento dos princípios de saúde como de mostrar a importância de pô-los em
prática. Mediante as devidas instruções, muito pode fazer para corrigir males
que estão produzindo indizível dano.
Um costume que está deitando bases a vasta soma de doenças e
males mais sérios ainda é o livre uso
de drogas venenosas. Quando atacados pela
enfermidade, muitos não se darão ao trabalho de descobrir a causa do mal. Sua
principal ansiedade é verem-se livres da dor e dos desconfortos. Recorrem
portanto a panaceias, cujas reais propriedades eles mal conhecem, ou recorrem a
um médico para neutralizar os efeitos de seu mau proceder, mas sem nenhuma ideia
de mudar seus nocivos hábitos. Caso não sintam benefícios imediatos,
experimentam outro remédio, e depois outro. Assim continua o mal.
O povo precisa que se lhes ensine que as drogas não curam as
doenças. É verdade que elas por vezes proporcionam temporário alívio, e o
paciente parece restabelecer-se em resultado de havê-las usado; isso acontece
porque a natureza possui bastante força vital para expelir o veneno, e corrigir
as condições ocasionadoras do mal. A saúde é recuperada a despeito da droga.
Mas na maioria dos casos ela apenas muda a forma e o local da doença. Muitas
vezes o efeito do veneno parece ser vencido por algum tempo, mas os resultados
permanecem no organismo, operando posteriormente grande dano.
Com o uso de drogas venenosas, muitos trazem sobre si doença
para toda a vida, e perdem-se muitos que poderiam ser salvos com o emprego de
métodos naturais. Os venenos contidos em muitos dos chamados remédios formam
hábitos e apetites que importam em ruína tanto para o corpo como para a alma.
Muitos dos populares remédios patenteados, e mesmo algumas drogas receitadas
por médicos, desempenham seu papel em deitar bases para o hábito da bebida, do
ópio, da morfina, os quais são uma tão terrível maldição para a sociedade.
A única esperança de coisas melhores está na educação do
povo nos verdadeiros princípios. Ensinem os médicos ao povo que o poder
restaurador não se encontra em drogas, porém na natureza. A doença é um esforço
da natureza para libertar o organismo de condições resultantes da violação das
leis da saúde. Em caso de doença, convém verificar a causa. As condições
insalubres devem ser mudadas, os maus hábitos corrigidos. Então se auxilia a
natureza em seu esforço para expelir as impurezas e restabelecer as condições
normais no organismo.
Remédios naturais — Ar puro, luz solar, abstinência,
repouso, exercício, regime conveniente, uso de água e confiança no poder divino
— eis os verdadeiros remédios. Toda pessoa deve possuir conhecimentos dos meios
terapêuticos naturais, e da maneira de aplicá-los. É essencial tanto
compreender os princípios envolvidos no tratamento do doente, como ter um
preparo prático que habilite a empregar devidamente esse conhecimento.
O uso dos remédios naturais requer certo cuidado e esforço
que muitos não estão dispostos a exercer. O processo da natureza para curar e
construir é gradual, e isso parece vagaroso ao impaciente. Demanda sacrifício e
abandono das nocivas condescendências. Mas no fim se verificará que a natureza,
não sendo estorvada, faz seu trabalho sabiamente e bem. Aqueles que perseveram
na obediência a suas leis, ganharão em saúde de corpo e de alma.
Bem pouca é a atenção dada em geral à conservação da saúde.
É incomparavelmente melhor evitar a doença do que saber tratá-la uma vez contraída.
É o dever de toda pessoa, por amor de si mesma, e por amor
da humanidade, instruir-se quanto às leis da vida, e a elas prestar
conscienciosa obediência. Todos precisam familiarizar-se com esse organismo, o
mais maravilhoso de todos, que é o corpo humano. Devem compreender as funções
dos vários órgãos, e a dependência de uns para com os outros quanto ao são
funcionamento de todos. Cumpre-lhes estudar a influência da mente sobre o
corpo, e deste sobre aquela, e as leis pelas quais são eles regidos.
O preparo para a luta da vida — Nunca será demais lembrar
que a saúde não depende do acaso. É resultado da obediência da lei. Isso é
reconhecido pelos competidores nos jogos atléticos e nas provas de resistência.
Esses homens preparam-se da maneira mais cuidadosa. Submetem-se a um treino
perfeito, e uma estrita disciplina. Todo hábito físico é cuidadosamente
regulado. Sabem que a negligência, o excesso ou a indiferença, que enfraquecem
ou prejudicam qualquer órgão ou função do corpo, resultariam na derrota certa.
Quão mais importante é tal cuidado para assegurar o êxito na
luta da vida! Não são arremedos de batalhas, aquelas em que nos achamos
empenhados. Estamos pelejando um combate do qual dependem resultados eternos.
Temos inimigos invisíveis a enfrentar. Anjos maus estão se esforçando para
obter o domínio sobre toda criatura humana. Tudo quanto prejudica a saúde não
somente diminui o vigor físico como tende a enfraquecer as faculdades mentais e
morais. A condescendência com qualquer prática nociva à saúde torna mais
difícil a uma pessoa o discernir entre o bem e o mal, e daí mais difícil
resistir ao mal. Aumenta o perigo de fracasso e derrota.
“Os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um
só leva o prémio.” 1 Coríntios 9:24. Na luta em que nos achamos empenhados
podem ganhar todos quantos se disciplinam a si mesmos pela obediência aos retos
princípios. A prática desses princípios nos detalhes da vida é demasiado frequente
considerada como sem importância — coisa muito trivial para exigir atenção. Mas
em vista das consequências em jogo coisa alguma daquilo com que temos de tratar
é insignificante. Toda ação lança seu peso na balança que determina a vitória
ou a derrota da vida. O texto nos manda: “Correi de tal maneira que o
alcanceis.” 1 Coríntios 9:24.
Quanto a nossos primeiros pais, o desejo imoderado trouxe em
resultado a perda do Éden. A temperança em todas as coisas tem mais que ver com
nossa restauração no Éden, do que os homens o imaginam.
Indicando a renúncia praticada pelos competidores nos
antigos jogos gregos, escreve o apóstolo Paulo: “Todo aquele que luta de tudo
se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma
incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato,
não como batendo no ar. Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para
que, pregando aos outros, eu mesmo não venha dalguma maneira a ficar reprovado”.
1 Coríntios 9:25-27.
O progresso da reforma depende de um claro reconhecimento da
verdade fundamental. Ao passo que, de um lado, espreita o perigo em uma
estreita filosofia e numa rígida e fria ortodoxia, há, por outro lado, maior
perigo num descuidado liberalismo. O fundamento de toda reforma estável é a Lei
de Deus. Cumpre-nos apresentar em linhas distintas e claras a necessidade de
obedecer a essa lei. Seus princípios devem ser mantidos perante o povo. Eles
são tão eternos e inexoráveis como o próprio Deus.
Um dos mais deploráveis efeitos da apostasia original foi a
perda do poder de domínio próprio por parte do homem. Unicamente à medida que
esse poder é reconquistado pode haver real progresso.
O corpo é o único agente pelo qual a mente e a alma se
desenvolvem para a edificação do caráter. Daí o adversário dirigir suas
tentações para o enfraquecimento e degradação das faculdades físicas. Seu êxito
nesse ponto importa na entrega de todo o corpo ao mal. As tendências de nossa
natureza física, a menos que estejam sob o domínio de um poder mais alto, hão
de operar por certo ruína e morte.
O corpo tem de ser posto em sujeição. As mais elevadas
faculdades do ser devem dominar. As paixões devem ser regidas pela vontade, e
essa deve, por sua vez, achar-se sob a direção de Deus. A régia faculdade da
razão, santificada pela graça divina, deve ter domínio em nossa vida.
As exigências de Deus devem impressionar a consciência.
Homens e mulheres precisam ser despertados para o dever do império de si
mesmos, para a necessidade da pureza, a liberdade de todo aviltante apetite e
todo hábito contaminador. Precisam ser impressionados com o fato de que todas
as suas faculdades de mente e corpo são dons de Deus, e destinam-se a ser
preservadas nas melhores condições possíveis, para Seu serviço.
Naquele antigo ritual que era o evangelho em símbolo,
nenhuma oferta defeituosa podia ser levada ao altar de Deus. O sacrifício que
devia representar a Cristo tinha de ser sem mancha. A Palavra de Deus refere-se
a isso como uma ilustração do que devem ser Seus filhos — um “sacrifício vivo,
santo”, “irrepreensível”, e “agradável a Deus”. Romanos 12:1; Efésios 5:27.
À parte do poder divino, nenhuma reforma genuína pode ser
efetuada. As barreiras humanas erguidas contra as tendências naturais e
cultivadas não são mais que bancos de areia contra uma torrente. Enquanto a
vida de Cristo não se torna um poder vitalizante em nossa vida, não nos é possível
resistir às tentações que nos assaltam interior e exteriormente.
Cristo veio a este mundo e viveu a Lei de Deus, a fim de que
o homem pudesse ter perfeito domínio sobre as naturais inclinações que
corrompem a alma. Médico da alma e do corpo, Ele dá a vitória sobre as
concupiscências em luta no íntimo. Proveu toda facilidade para que o homem possa
possuir inteireza de caráter.
Quando uma pessoa se entrega a Cristo, seu espírito é posto
sob o domínio da lei; mas é a lei real que proclama liberdade a todo cativo.
Fazendo-se um com Cristo, o homem é tornado livre. A sujeição à vontade de
Cristo significa restauração à perfeita varonilidade.
Obediência a Deus é liberdade do cativeiro do pecado,
livramento das paixões e impulsos humanos. O homem pode ser vencedor de si
mesmo, vencedor de suas inclinações, vencedor dos principados e potestades, e
dos “príncipes das trevas deste século”, e das “hostes espirituais da maldade,
nos lugares celestiais”. Efésios 6:12.
Em lugar algum são tais instruções mais necessárias, e em
nenhum lugar produzem elas maior benefício que no lar. Os pais têm que ver com
o próprio fundamento do hábito e do caráter. O movimento reformador deve
começar por apresentar-lhes os princípios da Lei de Deus como influindo tanto
sobre a saúde física como sobre a moral. Mostrai que a obediência à Palavra de
Deus é nossa única salvaguarda contra os males que estão compelindo o mundo à
destruição. Fazei clara a responsabilidade dos pais, não só quanto a si mesmos,
mas quanto a seus filhos. Eles dão a esses filhos um exemplo, seja de
obediência, seja de transgressão. Por seu exemplo e ensino, é decidido o
destino de sua casa. Os filhos serão aquilo que os pais os fizerem.
Se os pais pudessem seguir o resultado de seu procedimento,
e ver como, por seu exemplo e ensinos, perpetuam e aumentam o poder do pecado
ou o da justiça, certamente se operaria uma mudança. Muitos se desviariam da
tradição e do costume, e aceitariam os divinos princípios da vida.
O poder do exemplo — O médico que ministra nos lares do
povo, velando ao pé do leito dos doentes, aliviando-lhes a aflição, tirando-os
das portas da morte, dirigindo palavras de esperança ao moribundo,
conquista-lhes na confiança e nas afeições um lugar que a poucos outros é dado
ocupar. Nem mesmo ao ministro do evangelho são concedidas tão grandes
possibilidades, ou uma influência de tão vasto alcance.
O exemplo do médico, não menos que seu ensino, deve ser uma
força positiva para o lado do direito. A causa da reforma exige homens e
mulheres cuja maneira de viver seja uma ilustração do domínio de si mesmos. É
nossa observância dos princípios que recomendamos que lhes dá peso. O mundo
necessita de uma demonstração prática do que a graça de Deus pode fazer para
restaurar aos homens sua perdida realeza, dando-lhes o governo de si mesmos.
Não há nada de que o mundo tanto precise como do conhecimento do poder salvador
do evangelho revelado em vidas semelhantes à de Cristo.
O médico é continuamente posto em contato com os que
necessitam da força e da ânimo de um bom exemplo. Muitos são fracos em poder
moral. Carecem de domínio próprio, e são facilmente presa da tentação. O médico
só pode auxiliar a essas pessoas na medida em que revela na própria vida uma
firmeza de princípios que o habilita a triunfar sobre todo hábito nocivo e toda
contaminadora concupiscência. Em sua vida, deve ser notada a operação de um
poder de origem divina. Se ele falha nisso, por mais vigorosas e convincentes
que sejam suas palavras, sua influência se demonstrará nociva.
Muitos dos que procuram conselho e tratamento médico
tornaram-se ruínas morais mediante seus próprios maus hábitos. Estão
alquebrados e fracos, e feridos, sentindo a própria loucura e sua incapacidade
para vencer. Esses nada deviam ter em seu ambiente que os incitasse a continuar
nos pensamentos e sentimentos que os tornaram o que são. Necessitam respirar
uma atmosfera de pureza, de nobres e elevados pensamentos. Quão terrível é a
responsabilidade quando aqueles que lhes deviam dar um bom exemplo, são, eles
próprios, escravos de maus hábitos, acrescentando, por sua influência, nova
força à tentação!
O médico e a obra da temperança — Buscam os cuidados do
médico muitos que se estão arruinando, alma e corpo, pelo uso do fumo ou de
bebidas intoxicantes. O médico fiel às suas responsabilidades, deve indicar a
esses pacientes a causa de seus sofrimentos. Se ele próprio, porém, é fumante
ou dado a tóxicos, que peso terão suas palavras? Com a consciência de
condescender ele mesmo com isso, não hesitará em apontar o lugar da infecção na
vida do doente? Enquanto ele próprio usar essas coisas, como poderá convencer o
jovem de seus efeitos prejudiciais?
Quanto mais urgentes seus deveres e maiores suas
responsabilidades, tanto maior necessidade tem o médico de poder divino. É
mister salvar, das coisas temporais, tempo para meditar nas eternas. Deve
resistir a um mundo usurpador, capaz de exercer sobre ele tamanha pressão que o
separe da Fonte da resistência. Ele, mais que todos os outros homens, deve, por
meio de oração e estudo das Escrituras, colocar-se sob a proteção de Deus.
Cumpre-lhe viver em incessante comunhão com os princípios da verdade, da
justiça e da misericórdia que revelam os atributos de Deus na alma.
Tal vida será um elemento de força na coletividade. Será uma
barreira contra o mal, uma salvaguarda para o tentado, uma luz guiadora aos
que, por entre dificuldades e desânimos, estão buscando o caminho
verdadeiro.{CBVc 46.4}
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