Pe Manuel Lacunza escreve o primeiro opúsculo sobre a vinda de Jesus. |
Na profecia da mensagem do primeiro anjo, no capítulo 14 de Apocalipse, é predito um grande despertamento religioso sob a proclamação da breve vinda de Jesus. É visto um anjo a voar "pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo". "Com grande voz" ele proclama a mensagem: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo. E adorai Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas." Apoc. 14:6 e 7.
É significativo o fato de afirmar-se ser um anjo o arauto desta advertência. Pela pureza, glória e poder do mensageiro celestial, a sabedoria divina foi servida de representar o caráter exaltado da obra a cumprir-se pela mensagem, e o poder e glória que a deveriam acompanhar. E o voo do anjo "pelo meio do céu", "a grande voz" com que é proferida a advertência, e sua proclamação a todos os "que habitam sobre a Terra", "a toda a nação, e tribo, e língua, e povo", evidenciam a rapidez e extensão mundial do movimento.
A própria mensagem derrama luz sobre o tempo em que este movimento deve ocorrer. Declara-se que faz parte do "evangelho eterno", e anuncia a abertura do juízo. A mensagem da salvação tem sido pregada em todos os séculos; mas esta mensagem é uma parte do evangelho que só poderia ser pregada nos últimos dias, pois somente então seria verdade que a hora do juízo havia chegado. As profecias apresentam uma sucessão de acontecimentos que nos levam ao início do juízo. Isto se observa especialmente no livro de Daniel. Entretanto, a parte de sua profecia que se refere aos últimos dias, Daniel teve ordem de fechar e selar, até "o tempo do fim". Não poderia, antes que alcançássemos o tempo do juízo, ser proclamada uma mensagem relativa ao mesmo juízo e baseada no cumprimento daquelas profecias. Mas, no tempo do fim, diz o profeta, "muitos correrão de uma parte para outra, e a Ciência se multiplicará". Dan. 12:4.
O apóstolo Paulo advertiu a igreja a não esperar a vinda de Cristo em seu tempo. "Porque não será assim", diz ele, "sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado." II Tess. 2:3. Não poderemos esperar pelo advento de nosso Senhor senão depois da grande apostasia e do longo período do domínio do "homem do pecado". Este "homem do pecado", que também é denominado "mistério da injustiça", "filho da perdição", e "o iníquo", representa o papado, que, conforme foi anunciado pelos profetas, deveria manter sua supremacia durante 1.260 anos. Este período terminou em 1798. A vinda de Cristo não poderia ocorrer antes daquele tempo. Paulo, com a sua advertência, abrange toda a dispensação cristã até ao ano de 1798. É depois dessa data que a mensagem da segunda vinda de Cristo deve ser proclamada.
Semelhante mensagem jamais foi apresentada nos séculos passados. Paulo, como vimos, não a pregou; indicara aos irmãos a vinda do Senhor num futuro então muito distante. Os reformadores não a proclamaram. Martinho Lutero admitiu o juízo para mais ou menos trezentos anos no futuro, a partir de seu tempo. Desde 1798, porém, o livro de Daniel foi descerrado, aumentou-se o conhecimento das profecias, e muitos têm proclamado a mensagem solene do juízo próximo.
Como a grande reforma do século XVI, o movimento do advento apareceu simultaneamente em vários países da cristandade. Tanto na Europa como na América, homens de fé e oração foram levados a estudar as profecias e, seguindo o relatório inspirado, viram provas convincentes de que o fim de todas as coisas estava próximo. Em diferentes países houve grupos isolados de cristãos que, unicamente pelo estudo das Escrituras, creram na proximidade do advento do Salvador.
Em 1821, três anos depois de Miller chegar à sua explicação das profecias que apontavam para o tempo do juízo, o Dr. José Wolff, "o missionário a todo o mundo", começou a proclamar a próxima vinda do Senhor. Wolff nasceu na Alemanha, de filiação hebréia, sendo seu pai rabino judeu. Quando ainda muito jovem, convenceu-se da verdade da religião cristã. Dotado de espírito ativo e inquiridor, fora ávido ouvinte das conversas em casa do pai, ao congregarem-se diariamente judeus devotos para recordarem as esperanças e expectativas de seu povo, a glória do Messias vindouro e a restauração de Israel. Ouvindo, certo dia, mencionar a Jesus de Nazaré, o menino perguntou quem era Ele. "Um judeu do maior talento", foi a resposta; "mas como pretendesse ser o Messias, o tribunal judaico O condenou à morte." "Por que então" - volveu o que fizera a pergunta - "se acha Jerusalém destruída e por que nos encontramos em cativeiro?" "Ai de nós!" - respondeu o pai - "porque os judeus assassinaram os profetas." Logo se insinuou na criança o pensamento: "Talvez fosse também Jesus um profeta, e os judeus O mataram sendo Ele inocente." - Viagens e Aventuras, do Rev. José Wolff. Tão forte foi esse pensamento que, embora lhe fosse proibido entrar em qualquer igreja cristã, muitas vezes se demorava do lado de fora a escutar a pregação.
Tendo apenas sete anos de idade, estava ele a jactar-se, diante de um idoso vizinho cristão, do triunfo futuro de Israel pelo advento do Messias, quando o ancião disse amavelmente: "Meu caro menino, dir-te-ei quem foi o verdadeiro Messias: Foi Jesus de Nazaré, ... a quem teus antepassados crucificaram, assim como fizeram com os profetas da antiguidade. Vai para casa e lê o capítulo 53 de Isaías, e te convencerás de que Jesus Cristo é o Filho de Deus." - Viagens e Aventuras, do Rev. José Wolff. A convicção prontamente se apoderou dele. Foi para casa, leu a passagem e admirou-se de ver quão perfeitamente ela se havia cumprido em Jesus de Nazaré. Seriam verdadeiras as palavras do cristão? Pediu o rapaz ao pai uma explicação da profecia, mas defrontou com um silêncio tão rigoroso que nunca mais ousou referir-se ao assunto. Isto, entretanto, apenas lhe aumentou o desejo de saber mais a respeito da religião cristã.
Era-lhe cautelosamente conservado fora do alcance o conhecimento que buscava em seu lar hebreu; mas, quando contava apenas onze anos de idade, deixou a casa paterna e saiu para o mundo a fim de obter por si mesmo educação, escolher sua religião e ofício. Encontrou durante algum tempo um lar entre os parentes, mas não tardou a ser por eles expulso como apóstata e, sozinho e sem dinheiro, teve de se conduzir entre estranhos. Ia de lugar em lugar, estudando diligentemente e conseguindo a subsistência com o ensino do hebraico. Por influência de um professor católico foi levado a aceitar a fé romana e formulou o propósito de se fazer missionário para o seu próprio povo. Com este objetivo foi, alguns anos mais tarde, prosseguir os seus estudos no Colégio da Propaganda, em Roma. Ali, seu hábito de pensar independentemente e falar com franqueza, acarretou-lhe a acusação de heresia. Atacava abertamente os abusos da igreja e insistia na necessidade de reforma. Embora a princípio fosse tratado com favor especial pelos dignitários papais, depois de algum tempo o removeram de Roma. Foi de um lugar para outro, sob a vigilância da igreja, até que se tornou evidente que nunca poderia ser levado a submeter-se ao cativeiro do catolicismo. Declararam-no incorrigível; deixaram-no em liberdade para que fosse onde lhe aprouvesse. Encaminhou-se então para a Inglaterra e, professando a fé protestante, uniu-se à Igreja Anglicana. Depois de dois anos de estudo se entregou, em 1821, à sua missão.
Ao mesmo tempo que Wolff aceitava a grande verdade do primeiro advento de Cristo como "homem de dores, e experimentado nos trabalhos", via que as profecias apresentavam, com igual clareza, Seu segundo advento com poder e glória. E, ao passo que procurava conduzir seu povo a Jesus de Nazaré como o Prometido, e indicar-lhes a Sua primeira vinda em humilhação, como sacrifício pelos pecados dos homens, ensinava-lhes também Sua segunda vinda como rei e libertador.
"Jesus de Nazaré, o verdadeiro Messias, dizia ele, cujas mãos e pés foram trespassados; que como um cordeiro foi levado ao matadouro; que foi o homem de dores e experimentado em trabalhos; que veio pela primeira vez, depois de ser o ceptro tirado de Judá, e o poder legislativo de entre seus pés, virá pela segunda vez, nas nuvens do céu, e com a trombeta do Arcanjo" (Pesquisas e Trabalhos Missionários, de Wolff) "e estará em pé sobre o Monte das Oliveiras; e aquele domínio sobre a criação, que uma vez fora entregue a nosso primeiro pai, e por ele perdido (Gên. 1:26; 3:17), será dado a Jesus. Ele será rei sobre a Terra toda. Cessarão os gemidos e lamentações da criação, e cânticos de louvor e ações de graças serão ouvidos. ... Quando Jesus vier na glória de Seu Pai, com os santos anjos, ... os crentes que estiverem mortos ressuscitarão primeiro (I Tess. 4:16; I Cor. 15:23). Isto é o que nós, cristãos, chamamos primeira ressurreição. Então, o reino animal mudará a sua natureza (Isa. 11:6-9), e se submeterá a Jesus (Sal. 8). Prevalecerá a paz universal." (Diário do Rev. José Wolff.) "O Senhor novamente olhará para a Terra, e dirá que tudo é muito bom." - Ibidem.
Wolff cria na próxima vinda do Senhor, e sua interpretação dos períodos proféticos colocava o grande acontecimento em muito poucos anos de diferença do tempo indicado por Miller. Aos que insistiam nesta passagem: "Daquele dia e hora ninguém sabe" que os homens nada devem saber em relação à proximidade do advento, Wolff replicava: "Disse nosso Senhor que aquele dia e hora nunca deveriam ser conhecidos? Não nos deu Ele sinais dos tempos, a fim de que possamos ao menos saber a aproximação de Sua vinda, como alguém sabe da proximidade do verão pelo brotar das folhas na figueira? (Mat. 24:32.) Não deveremos jamais conhecer esse tempo, quando Jesus mesmo nos exorta, não somente a ler o profeta Daniel, mas a compreendê-lo? E o mesmo livro de Daniel, em que se diz que as palavras estavam fechadas até ao tempo do fim (conforme era o caso em seu tempo), declara que 'muitos correrão de uma parte para outra' (expressão hebraica para significar - observar e pensar a respeito do tempo), e a 'ciência' (em relação ao tempo) 'se multiplicará'. Dan. 12:4. Demais, nosso Senhor não tem o intuito de dizer com isto que a proximidade do tempo não será conhecida, mas que o 'dia e hora' exatos 'ninguém sabe'. Pelos sinais dos tempos, diz Ele, será conhecido o suficiente para nos induzir ao preparo para a Sua vinda, tal como Noé preparou a arca." - Pesquisas e Trabalhos Missionários, de Wolff.
Em relação ao sistema popular de interpretar as Escrituras, ou de mal-interpretá-las, escreveu Wolff: "A maior parte da igreja cristã tem-se separado do claro sentido das Escrituras, volvendo ao sistema fantasioso dos budistas; estes crêem que a futura felicidade dos homens consistirá em mover-se pelo ar. Admitem que, quando lêem judeus, devem entender gentios; e quando lêem Jerusalém, devem compreender igreja; e se se fala de Terra, significa Céu; e pela vinda do Senhor devem compreender o progresso das sociedades missionárias; e subir ao monte da casa do Senhor, significa imponente reunião religiosa dos metodistas." - Diário, do Rev. José Wolff.
Durante vinte e quatro anos, de 1821 a 1845, Wolff viajou extensamente: na África, visitando o Egito e a Etiópia; na Ásia, atravessando a Palestina, Síria, Pérsia, Usbequistão e a Índia. Visitou também os Estados Unidos, pregando, na viagem para lá, na ilha de Santa Helena. Chegou a Nova Iorque em agosto de 1837; e, depois de falar naquela cidade, pregou em Filadélfia e Baltimore, dirigindo-se finalmente a Washington. Ali, diz ele, "por uma proposta apresentada pelo ex-presidente John Quincy Adams, em uma das casas do Congresso, concedeu-se-me unanimemente o uso do salão do Congresso para uma conferência que eu pronunciei em um sábado, honrada com a presença de todos os congressistas, e também do bispo de Virgínia e do clero e cidadãos de Washington. A mesma honra me foi conferida pelos membros do governo de Nova Jersey e Pensilvânia, em cuja presença fiz conferências sobre minhas pesquisas na Ásia, e também sobre o reino pessoal de Jesus Cristo". - Diário.
O Dr. Wolff viajou nos países mais bárbaros, sem a proteção de qualquer autoridade europeia, suportando muitas dificuldades e cercado de inumeráveis perigos. Foi espancado e sofreu fome, sendo vendido como escravo, e três vezes condenado à morte. Foi assediado por ladrões, e algumas vezes quase pereceu de sede. Uma ocasião despojaram-no de tudo que possuía, obrigando-o a viajar centenas de quilómetros a pé, através de montanhas, descalço e com os pés enregelados ao contato do chão frio, e o rosto açoitado pela neve.
Quando advertido pelo fato de ir desarmado entre tribos selvagens e hostis, declarava estar "provido de armas - oração, zelo para com Cristo e confiança em Seu auxílio. - "Também estou provido", disse ele, "do amor de Deus e do meu próximo, em meu coração, e da Bíblia em minhas mãos." - Em Perigos Muitas Vezes, W. H. D. Adams. Aonde quer que fosse, levava consigo as Escrituras em hebraico e inglês.
De uma de suas últimas jornadas diz ele: "Eu ... conservava a Bíblia aberta na mão. Sentia que o meu poder estava no Livro e que sua força me sustentaria." - Ibidem.
Assim perseverou em seus labores até que a mensagem do juízo foi levada a uma grande parte habitável do globo. Entre judeus, turcos, persas, hindus e muitas outras nacionalidades e povos, ele distribuiu a Palavra de Deus nessas várias línguas, e em toda parte anunciou a proximidade do reino do Messias.
Em suas viagens pelo Usbequistão encontrou a doutrina da próxima vinda do Senhor, professada por um povo remoto e isolado.
Os árabes do Iémen, diz ele, "acham-se de posse de um livro chamado 'Seera', que dá informação sobre a segunda vinda de Cristo e Seu reino em glória; e esperam ocorrerem grandes acontecimentos no ano de 1840". - Diário. "No Iémen... passei seis dias com os filhos de Recabe. Não bebem vinho, não plantam vinhedos, não semeiam, e vivem em tendas; lembram-se do bom e velho Jonadabe, filho de Recabe; e encontrei em sua companhia filhos de Israel, da tribo de Dã, ... que esperam com os filhos de Recabe a breve vinda do Messias nas nuvens do céu." - Ibidem.
Outro missionário verificou existir crença semelhante na Tartária. Um sacerdote tártaro perguntou ao missionário quando Cristo viria pela segunda vez. Ao responder o missionário que nada sabia a respeito, o sacerdote pareceu ficar grandemente surpreso com tal ignorância em quem professava ser ensinador da Bíblia, e declarou sua própria crença baseada na profecia, de que Cristo viria aproximadamente em 1844.
Já em 1826 a mensagem do advento começou a ser pregada na Inglaterra. O movimento ali não tomou forma definida como na América do Norte; o tempo exato do advento não era geralmente tão ensinado, mas proclamava-se vastamente a grande verdade da próxima vinda de Cristo em poder e glória. E isto não somente entre os dissidentes e não conformistas. Mourante Brock, escritor inglês, declara que mais ou menos setecentos pastores da Igreja Anglicana estavam empenhados na pregação deste "evangelho do reino". A mensagem que indicava 1844 como o tempo da vinda do Senhor, foi também dada na Grã-Bretanha. Publicações sobre o advento, provenientes dos Estados Unidos, eram amplamente disseminadas. Livros e revistas reeditavam-se na Inglaterra. E, em 1842, Robert Winter, inglês nato, que recebera na América do Norte a fé do advento, voltou a seu país natal para anunciar a vinda do Senhor. Muitos se uniram a ele na obra, e a mensagem do juízo foi proclamada em várias partes da Inglaterra.
Na América do Sul, em meio de desumanidade e artimanha dos padres, Lacunza, jesuíta espanhol, teve acesso às Escrituras, e recebeu assim a verdade da imediata volta de Cristo. Constrangido a fazer a advertência, e desejando contudo escapar das censuras de Roma, publicou suas ideias sob o pseudónimo de "Rabbi Ben-Israel", representando-se a si mesmo como judeu converso. Lacunza viveu no século XVIII, mas foi aproximadamente em 1825 que seu livro, encontrando acesso em Londres, foi traduzido para a língua inglesa. Sua publicação serviu para aprofundar o interesse que já se despertava na Inglaterra pelo assunto do segundo advento.
Na Alemanha, a doutrina fora ensinada no século XVIII por Bengel, pastor da Igreja Luterana e célebre sábio e crítico da Bíblia. Completando sua educação, Bengel "havia-se dedicado ao estudo de teologia, a quem o pendor de seu espírito grave e religioso, acentuado e fortalecido pelo seu primitivo ensino e disciplina, naturalmente o inclinava. Como outros jovens de caráter meditativo, antes e depois dele, teve que lutar com dúvidas e dificuldades de natureza religiosa; e ele faz alusão, muito sentidamente, às muitas setas que lhe trespassavam o pobre coração, tornando-lhe a juventude difícil de suportar". - Enciclopédia Britânica, art. Bengel. Ao tornar-se membro do consílio de Wuerttemberg, advogou a causa da liberdade religiosa. "Ao passo que mantinha os direitos e privilégios da igreja, defendia toda liberdade razoável aos que se sentiam obrigados, por motivos de consciência, a retirar-se de sua comunhão." - Enciclopédia Britânica. Os bons efeitos desta política são ainda sentidos em sua província natal.
Foi enquanto preparava um sermão sobre Apocalipse 21, para o "Domingo do Advento", que a luz da segunda vinda de Cristo raiou no espírito de Bengel. As profecias do Apocalipse desvendaram-se-lhe à compreensão como nunca dantes. Vencido pela intuição da importância estupenda e extraordinária glória das cenas apresentadas pelo profeta, foi obrigado a desviar-se por algum tempo da contemplação do assunto. No púlpito este se lhe apresentou novamente em toda a sua clareza e poder. Desde aquele tempo se dedicou ao estudo das profecias, especialmente as do Apocalipse, e logo chegou à crença de que elas mostravam a proximidade da vinda de Cristo. A data que fixou como o tempo do segundo advento diferia, em muito poucos anos, da que mais tarde Miller admitiu.
Os escritos de Bengel têm sido espalhados por toda a cristandade. Suas ideias sobre profecias foram, de modo geral, recebidas em seu próprio Estado de Wuerttemberg, e até certo ponto em outras partes da Alemanha. O movimento continuou depois de sua morte, e a mensagem do advento ouviu-se na Alemanha ao mesmo tempo em que despertava a atenção dos homens em outras terras. Logo no início alguns dos crentes foram à Rússia e ali formaram colónias; e a crença na próxima vinda de Cristo é ainda mantida pelas igrejas alemãs daquele país.
A luz brilhou também na França e Suíça. Em Genebra, onde Farel e Calvino tinham propagado as verdades da reforma, Gaussen pregou a mensagem do segundo advento. Na escola, como estudante, Gaussen encontrou o espírito de racionalismo que invadiu a Europa toda durante a última parte do século XVIII e início do XIX; e, ao entrar para o ministério, não somente ignorava a verdadeira fé, mas se inclinava ao cepticismo. Em sua mocidade se interessara pelo estudo da profecia. Depois de ler a História Antiga de Rollin, sua atenção foi despertada para o capítulo 2 de Daniel, e surpreendeu-se com a maravilhosa exactidão com que a profecia se cumprira, conforme se via no relato do historiador. Ali estava um testemunho da inspiração das Escrituras, que lhe serviu como âncora entre os perigos dos últimos anos. Não podia ficar satisfeito com os ensinos do racionalismo e, estudando a Bíblia e procurando luz mais clara, foi ele, depois de algum tempo, levado a uma fé positiva.
Prosseguindo com as pesquisas sobre as profecias, chegou à crença de que a vinda do Senhor estava próxima. Impressionado com a solenidade e importância desta grande verdade, desejou levá-la ao povo; mas a crença popular de que as profecias de Daniel são mistérios e não podem ser compreendidas, foi-lhe sério obstáculo no caminho. Decidiu-se finalmente - como antes dele fizera Farel ao evangelizar Genebra - a começar o trabalho com as crianças, esperando, por meio delas, interessar os pais.
"Desejo que seja compreendido" - disse ele mais tarde, falando de seu objetivo neste empreendimento - "que não é por considerá-lo de pequena importância, mas, ao contrário, por causa do seu grande valor, que desejei apresentá-lo desta maneira familiar, e que falei às crianças. Quis ser ouvido, e receei que não o seria se me dirigisse primeiramente às pessoas adultas." "Decidi-me, portanto, a ir aos mais jovens. Arranjo um auditório de crianças; se ele aumenta e os ouvintes escutam com interesse e agrado, compreendem e explicam o assunto, estou certo de que terei logo uma segunda reunião, e os adultos, por sua vez, hão de ver também que vale a pena sentar-se e estudar. Feito isto, a causa está ganha." - Daniel, o Profeta, de L. Gaussen, Prefácio.
O esforço foi bem-sucedido. Ao falar às crianças, pessoas mais velhas vieram também para ouvir. As galerias da igreja ficavam repletas de ouvintes atentos. Entre esses havia homens de posição e saber, bem como desconhecidos e estrangeiros que visitavam Genebra; e assim a mensagem foi levada para outras partes.
Animado com o êxito, Gaussen publicou suas lições, esperando promover o estudo dos livros proféticos nas igrejas do povo de língua francesa. "Publicar a instrução dada às crianças", diz Gaussen, "é dizer aos adultos que muitas vezes negligenciam os ditos livros sob o falso pretexto de que são obscuros - 'Como podem eles ser obscuros, se vossos filhos os compreendem?'" "Eu tinha grande desejo", acrescenta ele, "de tornar popular, se possível, o conhecimento das profecias em nossos rebanhos." "Estudo algum existe, na verdade, que me pareça responder melhor às necessidades do tempo." "É por meio dele que devemos preparar-nos para a tribulação próxima, e vigiar e esperar por Jesus Cristo."
Conquanto um dos mais distintos e queridos pregadores da língua francesa, Gaussen, depois de algum tempo, foi suspenso do ministério pela falta principal de usar a Bíblia, ao dar instrução aos jovens, em vez do catecismo da igreja - manual fraco e racionalista, quase destituído de fé positiva. Mais tarde se tornou professor numa escola de teologia, e aos domingos continuava seu trabalho como catequista, falando às crianças e instruindo-as nas Escrituras. Suas obras sobre as profecias despertaram também muito interesse. Da cátedra de professor, por intermédio da imprensa, e pela sua ocupação favorita como mestre de crianças continuou durante muitos anos a exercer vasta influência, sendo o instrumento a chamar a atenção de muitos para o estudo das profecias que indicavam a próxima vinda do Senhor.
Na Escandinávia, também, a mensagem do advento foi proclamada e suscitou grande interesse. Muitos despertaram do descuidado sentimento de segurança para confessar e abandonar seus pecados, buscando perdão em Cristo. O clero da igreja do Estado, porém, opôs-se ao movimento, e por meio de sua influência alguns que pregavam a mensagem foram lançados na prisão. Em muitos lugares, onde os pregadores da próxima vinda do Senhor foram desta maneira silenciados, Deus Se serviu enviar a mensagem de um modo miraculoso, por meio de criancinhas. Como fossem menores, a lei do Estado não as poderia proibir, e foi-lhes permitido falar sem serem molestadas.
O movimento ocorreu, principalmente, entre as classes mais humildes, e o povo reunia-se nas modestas moradas dos trabalhadores para ouvir a advertência. Os mesmos pregadores infantis eram na maior parte habitantes pobres de cabanas. Alguns deles não tinham mais de seis ou oito anos de idade; e, ao mesmo tempo que sua vida testificava que amavam o Salvador e procuravam viver em obediência aos santos mandamentos de Deus, manifestavam, de ordinário, apenas a habilidade e inteligência que geralmente se vêem nas crianças daquela idade. Quando se encontravam em pé diante do povo, evidenciava-se, entretanto, que eram movidos por uma influência acima dos seus dotes naturais. O tom da voz e as maneiras se transformavam, e com poder solene faziam a advertência do juízo, empregando as próprias palavras das Escrituras: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora de Seu juízo." Reprovavam os pecados do povo, não somente condenando a imoralidade e o vício, mas repreendendo o mundanismo e a apostasia, admoestando os ouvintes a que fugissem apressadamente da ira vindoura.
O povo ouvia com tremor. O Espírito convincente de Deus falava-lhes ao coração. Muitos eram levados a pesquisar as Escrituras com novo e mais profundo interesse; os intemperantes e imorais corrigiam-se; outros abandonavam as práticas desonestas, e fazia-se uma obra tão assinalada, que mesmo pastores da igreja do Estado eram obrigados a reconhecer que a mão de Deus estava no movimento.
Era vontade de Deus que as novas da vinda do Salvador fossem dadas nos países escandinavos; e, quando silenciou a voz de Seus servos, pôs Ele Seu Espírito sobre as crianças para que a obra pudesse cumprir-se. Quando Jesus Se aproximava de Jerusalém acompanhado das multidões jubilosas que, com brados de triunfo e agitação de ramos de palmeiras O aclamavam como Filho de David, os invejosos fariseus apelaram para Ele a fim de que as fizesse silenciar; Jesus, porém, respondeu que tudo aquilo era o cumprimento da profecia, e que, se aquelas vozes se calassem, as próprias pedras clamariam. O povo, intimidado pelas ameaças dos sacerdotes e príncipes, cessou com a alegre proclamação ao entrar pelas portas de Jerusalém; mas as crianças, nos pátios do templo, entoavam em seguida o estribilho e, agitando ramos de palmeira, clamavam: "Hosana ao Filho de Davi!" Mat. 21:8-16. Quando os fariseus, profundamente descontentes, Lhe disseram: "Ouves o que estes dizem?" - Jesus respondeu: "Sim; nunca lestes: pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?" Assim como Deus agiu por meio das crianças no tempo do primeiro advento de Cristo, também o fez ao dar a mensagem de Seu segundo advento. A Palavra de Deus deve cumprir-se para que a proclamação da vinda do Salvador seja feita a todos os povos, línguas e nações.
O Guilherme Miller e seus cooperadores coube a pregação desta advertência na América do Norte. Este país se tornou o centro da grande obra do advento. Foi aqui que a profecia da mensagem do primeiro anjo teve o cumprimento mais direto. Os escritos de Miller e seus companheiros foram levados a países distantes. Em todo o mundo, onde quer que houvessem penetrado missionários, para ali se enviaram as alegres novas da breve volta de Cristo. Por toda parte se propagou a mensagem do evangelho eterno: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo."
O testemunho das profecias que pareciam indicar a vinda de Cristo na primavera de 1844, apoderou-se profundamente do espírito do povo. Ao ir a mensagem de um Estado para outro, despertou-se por toda parte grande interesse. Muitos estavam convictos de que os argumentos tirados dos períodos proféticos eram corretos e, sacrificando o orgulho de suas opiniões, recebiam alegremente a verdade. Alguns pastores puseram de lado suas ideias e sentimentos sectaristas e, renunciando a seus salários e suas igrejas, uniram-se na proclamação da vinda de Jesus. Houve, entretanto, relativamente poucos pastores que aceitaram esta mensagem; foi, por conseguinte, confiada em grande parte aos humildes leigos. Lavradores deixavam os campos, mecânicos as ferramentas, negociantes as suas mercadorias, profissionais os seus cargos; não obstante, o número de obreiros era pequeno em comparação com a obra a ser empreendida. A condição de uma igreja ímpia, e um mundo jazendo na maldade, pesavam na alma dos verdadeiros vigias, e eles voluntariamente suportavam as fadigas, privações e sofrimento, a fim de que pudessem chamar os homens ao arrependimento para a salvação. A obra, ainda que Satanás se opusesse, prosseguia firmemente, sendo a verdade do advento aceita por muitos milhares.
Por toda parte se ouvia o penetrante testemunho, advertindo os pecadores, tanto mundanos como membros da igreja, a fugirem da ira vindoura. Quais João Batista, o precursor de Cristo, os pregadores punham o machado à raiz da árvore, e com todos insistiam em que produzissem frutos dignos de arrependimento. Seus fervorosos apelos achavam-se em evidente contraste com as afirmações de paz e segurança que se ouviam dos púlpitos populares; e, onde quer que a mensagem fosse apresentada, comovia o povo. O simples e direto testemunho das Escrituras, levado ao coração pelo poder do Espírito Santo, comunicava-lhes um peso de convicção a que poucos eram capazes de resistir inteiramente. Os que professavam a religião eram despertos de sua falsa segurança. Viam sua apostasia, mundanidade e incredulidade, seu orgulho e egoísmo. Muitos buscavam o Senhor com arrependimento e humilhação. Fixavam agora no Céu as afeições que durante tanto tempo se haviam apegado às coisas terrenas. O Espírito de Deus repousava sobre eles, e, com coração abrandado e subjugado, uniam-se para fazer soar o clamor: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo."
Pecadores, chorando, perguntavam: "Que devo fazer para me salvar?" Aqueles, cuja vida tinha sido assinalada pela desonestidade, estavam ansiosos por fazer a devida restituição. Todos os que encontravam paz em Cristo anelavam ver outros participarem desta bênção. O coração dos pais se convertia aos filhos, e o dos filhos aos pais. As barreiras do orgulho e reserva foram varridas. Fizeram-se confissões sinceras, e os membros da família trabalhavam pela salvação dos mais queridos e dos que mais perto se achavam. Frequentemente se ouvia a voz de fervorosa intercessão. Por toda parte havia almas em profunda angústia, lutando com Deus. Muitos passavam em oração a noite toda para obter a certeza de que seus pecados estavam perdoados, ou pela conversão dos parentes ou vizinhos.
Todas as classes se congregavam nas reuniões adventistas. Ricos e pobres, grandes e humildes, achavam-se, por vários motivos, ansiosos por ouvir, por si mesmos, a doutrina do segundo advento. O Senhor detinha o espírito de oposição enquanto Seus servos explicavam as razões de sua fé. Algumas vezes o instrumento era fraco; mas o Espírito de Deus dava poder a Sua verdade. Sentia-se a presença dos santos anjos nessas assembleias, e muitos eram diariamente acrescentados aos crentes. Ao serem repetidas as provas da próxima vinda de Cristo, vastas multidões escutavam silenciosas e extasiadas, as solenes palavras. O Céu e a Terra pareciam aproximar-se um do outro. O poder de Deus se fazia sentir em velhos e jovens, e nos de meia-idade. Os homens procuravam seus lares com louvores nos lábios, ressoando o som festivo no ar silencioso da noite. Pessoa alguma que haja assistido àquelas reuniões jamais poderá esquecer-se dessas cenas do mais profundo interesse.
A proclamação de um tempo definido para a vinda de Cristo despertou grande oposição de muitos, dentre todas as classes, desde o pastor, no púlpito, até ao mais ousado pecador. Cumpriram-se as palavras da profecia: "Nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa de Sua vinda? Porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação." II Ped. 3:3 e 4. Muitos que professavam amar ao Salvador, declaravam que não se opunham à doutrina do segundo advento; faziam objeções, unicamente, ao tempo definido. Mas os olhos de Deus, que vêem tudo, liam-lhes o coração. Não desejavam ouvir acerca da vinda de Cristo para julgar o mundo com justiça. Haviam sido servos infiéis; suas obras não resistiriam à inspecção do Deus que sonda os corações, e receavam encontrar-se com o Senhor. Tais como os judeus nos dias de Cristo, não estavam preparados para recebê-Lo. Não somente se recusavam a ouvir os claros argumentos das Escrituras Sagradas, mas procuravam ridicularizar aos que aguardavam o Senhor. Satanás e seus anjos exultavam e lançavam afronta ao rosto de Cristo e dos santos anjos, por ter Seu povo professo tão pouco amor por Ele que não desejavam o Seu aparecimento.
"Daquele dia e hora ninguém sabe", era o argumento mais frequentemente aduzido pelos que rejeitavam a fé do advento.
A passagem é: "Daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do Céu, nem o Filho, mas unicamente Meu Pai." Mat. 24:36. Uma explicação clara e harmoniosa desta passagem era apresentada pelos que aguardavam o Senhor, e o emprego erróneo que da mesma faziam seus oponentes foi claramente demonstrado. Estas palavras foram proferidas por Cristo na memorável conversação com os discípulos, no Monte das Oliveiras, depois que Ele, pela última vez, Se afastou do templo. Os discípulos haviam feito a pergunta: "Que sinal haverá de Tua vinda e do fim do mundo?" Jesus lhes deu sinais, e disse: "Quando virdes todas estas coisas, sabei que Ele está próximo às portas." Mat. 24:3 e 33. Não se deve admitir que uma declaração do Senhor destrua outra. Conquanto ninguém saiba o dia ou a hora de Sua vinda, somos instruídos quanto à sua proximidade, e isto nos é exigido saber. Demais, é-nos ensinado que desatender à advertência ou recusar saber a proximidade do advento do Salvador, ser-nos-á tão fatal como foi aos que viveram nos dias de Noé o não saber quando viria o dilúvio. E a parábola, no mesmo capítulo, põe em contraste o servo fiel com o infiel e dá a sentença ao que disse em seu coração - "O meu Senhor tarde virá". Mostra sob que luz Cristo olhará e recompensará os que encontrar vigiando e pregando Sua vinda, bem como os que a negam. "Vigiai, pois", diz Ele; "bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim." (Mat. 24:42-51.) "Se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei." Apoc. 3:3.
Paulo fala de uma classe para a qual o aparecimento do Senhor há de ser surpresa. "O dia do Senhor virá como o ladrão de noite; pois que quando disserem: Há paz e segurança; então lhes sobrevirá repentina destruição, ... e de modo nenhum escaparão." Mas ele diz aos que atendem à advertência do Salvador: "Vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão; porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas." I Tess. 5:2-5.
Mostrou-se assim que as Escrituras não oferecem garantia aos homens que permanecem em ignorância com relação à proximidade da vinda de Cristo. Aqueles, porém, que unicamente desejavam uma desculpa para rejeitar a verdade, fechavam os ouvidos a esta explicação; e as palavras - "Daquele dia e hora ninguém sabe" - continuaram a ser repetidas pelos audaciosos escarnecedores e mesmo pelos professos ministros de Cristo. Ao despertarem os homens e começarem a inquirir do caminho da salvação, interpuseram-se ensinadores religiosos, entre aqueles e a verdade, procurando acalmar-lhes os temores com interpretações falsas da Palavra de Deus. Infiéis vigias uniram-se na obra do grande enganador, clamando: "Paz, Paz!" quando Deus não havia falado de paz. Muitos, tais quais os fariseus do tempo de Cristo, se recusaram a entrar no reino do Céu e embaraçavam aos que estavam entrando. O sangue dessas almas ser-lhes-á requerido.
Os mais humildes e devotos nas igrejas eram geralmente os primeiros a receber a mensagem. Os que estudavam por si mesmos a Escritura Sagrada não podiam deixar de ver o desacordo das opiniões populares com os textos sagrados referentes à profecia. Onde quer que o povo não fosse dirigido pela influência do clero; onde quer que por si mesmos investigassem as Escrituras, a doutrina do advento precisava apenas ser comparada com as Escrituras para estabelecer-lhe a autoridade divina.
Muitos eram perseguidos por seus irmãos descrentes. Alguns, a fim de conservar sua posição na igreja, resolveram não falar a respeito de sua esperança; outros, porém, sentiam que a lealdade para com Deus não lhes permitia ocultar desta maneira as verdades que Ele lhes confiara. Não poucos foram separados da comunidade da igreja, unicamente pelo motivo de exprimirem sua crença na vinda de Cristo. Mui preciosas se tornaram, aos que suportavam esta prova de sua fé, as palavras do profeta: "Vossos irmãos que vos aborrecem e longe de si vos separam por amor do Meu nome, dizem: Glorifique-Se o Senhor; porém aparecerá para a vossa alegria, e eles serão confundidos." Isa. 66:5, Versão Inglesa.
Anjos de Deus observavam, com o mais profundo interesse, o resultado da advertência. Quando houve uma rejeição geral da mensagem por parte das igrejas, afastaram-se os anjos com tristeza. Muitos havia, porém, que ainda não tinham sido provados quanto à verdade do advento. Muitas pessoas eram transviadas por maridos, esposas, pais ou filhos, e fazia-se-lhes crer que era pecado até mesmo o escutar as heresias pregadas pelos adventistas. Os anjos receberam ordem de velar fielmente por aquelas almas; pois outra luz, procedente do trono de Deus, deveria ainda resplandecer sobre elas.
Com inexprimível desejo, os que haviam recebido a mensagem aguardavam a vinda do Salvador. O tempo em que esperavam encontrar-se com Ele estava às portas. Com calma e solenidade viam aproximar-se a hora. Permaneciam em doce comunhão com Deus, como que antegozando a paz que desfrutariam no glorioso porvir. Pessoa alguma que haja experimentado esta confiante esperança, poderá esquecer-se daquelas preciosas horas de expectativa. Algumas semanas antes do tempo, as ocupações seculares foram em sua maior parte postas de lado. Como se estivessem no leito de morte, e devessem dentro de poucas horas cerrar os olhos às cenas terrestres, os crentes sinceros examinavam cuidadosamente todos os pensamentos e emoções de seu coração. Não houve confecção de "vestes para a ascensão"; todos sentiam, porém, a necessidade de evidência íntima de que estavam preparados para encontrar-se com o Salvador; suas vestes brancas eram a pureza da alma - o caráter purificado do pecado pelo sangue expiatório de Cristo. Oxalá ainda houvesse entre o povo professo de Deus o mesmo espírito de exame do coração, a mesma fé, ardorosa e resoluta. Houvessem eles desta maneira continuado a humilhar-se perante o Senhor, a instar com suas petições no propiciatório, e estariam de posse de uma experiência muito mais rica do que aquela que ora possuem. Há muito pouca oração, muita falta de verdadeira convicção do pecado, e a ausência de uma fé viva deixa a muitos destituídos da graça tão ricamente provida por nosso Redentor.
Deus intentara provar o Seu povo. Sua mão ocultou um erro no cômputo dos períodos proféticos. Os adventistas não descobriram esse erro; tampouco foi descoberto pelos mais instruídos de seus oponentes. Estes últimos diziam: "Vossa contagem dos períodos proféticos é correta. Qualquer grande acontecimento está prestes a ocorrer; mas não é o que o senhor Miller prediz: é a conversão do mundo, e não o segundo advento de Cristo."
Passou-se o tempo de expectação e Cristo não apareceu para o libertamento de Seu povo. Os que com fé e amor sinceros haviam esperado o Salvador, experimentaram amargo desapontamento. Todavia, os propósitos de Deus se cumpriam: estava Ele a provar o coração dos que professavam estar à espera de Seu aparecimento. Muitos havia, entre eles, que não tinham sido constrangidos por motivos mais elevados do que o medo. A profissão de fé não lhes transformara o coração nem a vida. Não se realizando o acontecimento esperado declararam essas pessoas que não se achavam decepcionadas; nunca tinham crido que Cristo viria. Contavam-se entre os primeiros a ridicularizar a tristeza dos verdadeiros crentes.
Mas Jesus e toda a hoste celestial olhavam com amor e simpatia para os provados e fiéis, embora decepcionados. Pudesse descerrar-se o véu que separava o mundo visível do invisível, e ter-se-iam visto anjos aproximando-se daquelas almas constantes, escudando-as dos dardos de Satanás.
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