Onde quer que a Palavra de Deus tenha sido fielmente pregada, seguiram-se resultados que atestaram da sua origem divina. O Espírito de Deus acompanhou a mensagem dos Seus servos, e a Palavra era proclamada com poder. Os pecadores sentiam despertar-se-lhes a consciência. A "luz que alumia a todo o homem que vem ao mundo" iluminava-lhes os íntimos recessos da alma, e as coisas ocultas das trevas eram manifestas. Coração e espírito eram possuídos de profunda convicção. Convenciam-se do pecado, da justiça e do juízo vindouro. Tinham a intuição da justiça de Jeová, e sentiam terror de aparecer, em sua culpa e impureza, perante Aquele que examina os corações. Com angústia exclamavam: "Quem me livrará do corpo desta morte?" Ao revelar-se a cruz do Calvário, com o infinito sacrifício pelos pecados dos homens, viram que nada, senão os méritos de Cristo, seria suficiente para a expiação de suas transgressões; somente esses méritos poderiam reconciliar os homens com Deus. Com fé e humildade, aceitaram o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Pelo sangue de Jesus tiveram "a remissão dos pecados passados".
Aquelas almas produziram frutos dignos de arrependimento. Creram e foram batizadas, e levantaram-se para andar em novidade de vida - como novas criaturas em Cristo Jesus; não para se conformarem aos desejos anteriores, mas, pela fé no Filho de Deus, seguir-Lhe os passos, refletir-Lhe o caráter, e purificar-se assim como Ele é puro. As coisas que antes odiavam, agora amavam; e as que antes amavam, passaram a odiar. Os orgulhosos e presunçosos tornaram-se mansos e humildes de coração. Os vaidosos e arrogantes se fizeram sérios e acessíveis. Os profanos se tornaram reverentes, sóbrios os bêbados, os devassos puros. As modas vãs do mundo foram postas de parte. Os cristãos procuravam não o "enfeite ... exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura dos vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus". I Ped. 3:3 e 4.
Os despertamentos resultaram em profundo exame de coração e humildade. Caracterizavam-se pelos solenes e fervorosos apelos ao pecador, pela terna misericórdia para com a aquisição efetuada pelo sangue de Cristo. Homens e mulheres oravam e lutavam com Deus, pela salvação de almas. Os frutos de semelhantes avivamentos eram vistos nas almas que não recuavam da renúncia e do sacrifício, mas que se regozijavam de que fossem consideradas dignas de sofrer o vitupério e provação por amor de Cristo. Notava-se uma transformação na vida dos que tinham professado o nome de Jesus. A comunidade se beneficiava por sua influência. Uniam-se com Cristo e semeavam no Espírito, a fim de ceifar a vida eterna.
Podia-se dizer deles: "Fostes contristados para o arrependimento." "Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte. Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós, que segundo Deus fostes contristados! que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! em tudo mostrastes estar puros neste negócio." II Cor. 7:9-11.
Este é o resultado da obra do Espírito de Deus. Não há prova de genuíno arrependimento a menos que ele opere reforma na vida. Se restitui o penhor, devolve o que tinha roubado, confessa os pecados, e ama a Deus e seus semelhantes, pode o pecador estar certo de que encontrou paz com Deus. Foram estes os efeitos que, em anos anteriores, se seguiram às ocasiões de avivamento religioso. Julgados pelos seus frutos, sabia-se que eram abençoados por Deus para a salvação dos homens e para reerguimento da humanidade.
Muitos dos despertamentos dos tempos modernos têm, no entanto, apresentado notável contraste com aquelas manifestações de graça divina que nos primitivos tempos se seguiam aos labores dos servos de Deus. É verdade que se desperta grande interesse, muitos professam conversão, e há larga afluência às igrejas; não obstante, os resultados não são de molde a autorizar a crença de que houve aumento correspondente da verdadeira vida espiritual. A luz que chameja por algum tempo logo fenece, deixando as trevas mais densas do que antes.
Avivamentos populares são muitas vezes levados a efeito por meio de apelos à imaginação, excitando-se as emoções, satisfazendo-se o amor ao que é novo e surpreendente. Conversos ganhos desta maneira têm pouco desejo de ouvir a verdade bíblica, pouco interesse no testemunho dos profetas e apóstolos. A menos que o culto assuma algo de caráter sensacional, não lhes oferece atração. Não é atendida a mensagem que apele para a razão desapaixonada. As claras advertências da Palavra de Deus, que diretamente se referem aos seus interesses eternos, não são tomadas a sério.
Para toda alma verdadeiramente convertida, a relação com Deus e com as coisas eternas será o grande objetivo da vida. Mas onde, nas igrejas populares de hoje, o espírito de consagração a Deus? Os conversos não renunciam ao orgulho e amor do mundo. Não estão mais dispostos a negar-se, tomar a cruz, e seguir o manso e humilde Nazareno, do que estiveram antes de se converter. A religião tornou-se o entretenimento dos incrédulos e céticos, porque tantos que são portadores de seu nome lhes desconhecem os princípios. O poder da piedade quase desapareceu de muitas das igrejas.
Piqueniques, representações teatrais nas igrejas, quermesses, casas elegantes, ostentação pessoal, desviaram de Deus os pensamentos. Terras e bens, e ocupações mundanas absorvem a mente, e as coisas de interesse eterno mal recebem atenção passageira.
Apesar do generalizado declínio da fé e da piedade, há verdadeiros seguidores de Cristo nestas igrejas. Antes de os juízos finais de Deus caírem sobre a Terra, haverá, entre o povo do Senhor, tal avivamento da primitiva piedade como não fora testemunhado desde os tempos apostólicos. O Espírito e o poder de Deus serão derramados sobre Seus filhos. Naquele tempo muitos se separarão das igrejas em que o amor deste mundo suplantou o amor a Deus e à Sua Palavra. Muitos, tanto pastores como leigos, aceitarão alegremente as grandes verdades que Deus providenciou fossem proclamadas no tempo presente, a fim de preparar um povo para a segunda vinda do Senhor. O inimigo das almas deseja estorvar esta obra; e antes que chegue o tempo para tal movimento, esforçar-se-á para impedi-la, introduzindo uma contrafação. Nas igrejas que puder colocar sob seu poder sedutor, fará parecer que a bênção especial de Deus foi derramada; manifestar-se-á o que será considerado como grande interesse religioso. Multidões exultarão de que Deus esteja operando maravilhosamente por elas, quando a obra é de outro espírito. Sob o disfarce religioso, Satanás procurará estender sua influência sobre o mundo cristão.
Em muitos dos avivamentos ocorridos durante o último meio século, têm estado a operar, em maior ou menor grau, as mesmas influências que se manifestarão em movimentos mais extensos no futuro. Há um excitamento emotivo, mistura do verdadeiro com o falso, muito apropriado para transviar. Contudo, ninguém necessita ser enganado. À luz da Palavra de Deus não é difícil determinar a natureza destes movimentos. Onde quer que os homens negligenciem o testemunho da Escritura Sagrada, desviando-se das verdades claras que servem para provar a alma e que exigem a renúncia de si mesmo e a do mundo, podemos estar certos de que ali não é outorgada a bênção de Deus. E, pela regra que o próprio Cristo deu - "Por seus frutos os conhecereis" (Mat. 7:16) - é evidente que esses movimentos não são obra do Espírito de Deus.
Nas verdades de Sua Palavra, Deus deu aos homens a revelação de Si mesmo; e a todos os que as aceitam servem de escudo contra os enganos de Satanás. Foi a negligência destas verdades que abriu a porta aos males que tanto se estão generalizando agora no mundo religioso. Tem-se perdido de vista, em grande parte, a natureza e importância da lei de Deus. Uma concepção errónea do caráter, perpetuidade e vigência da lei divina, tem ocasionado erros quanto à conversão e santificação, resultando em baixar, na igreja, a norma da piedade. Aqui deve encontrar-se o segredo da falta do Espírito e poder de Deus nos avivamentos de nosso tempo.
Há, nas várias denominações, homens eminentes por sua piedade, que reconhecem e lamentam este fato. O Prof. Eduardo A. Park, apresentando os perigos atuais de natureza religiosa, diz acertadamente: "Fonte de perigos é a negligência, por parte do púlpito, de insistir sobre a lei divina. Nos dias passados o púlpito era o eco da voz da consciência. ... Os nossos mais ilustres pregadores davam admirável majestade aos seus discursos, seguindo o exemplo do Mestre, e pondo em preeminência a lei, seus preceitos e ameaças. Repetiam as duas grandes máximas de que a lei é a transcrição das perfeições divinas e de que o homem que não ame a lei, não ama o evangelho; pois a lei, bem como o evangelho, é um espelho que reflete o verdadeiro caráter de Deus. Este perigo leva a outro, o de não avaliar devidamente o mal do pecado e sua extensão e demérito. Em proporção com a justiça do mandamento está o erro de desobedecer-lhe . ...
"Unido aos perigos já mencionados, está o de depreciar a justiça de Deus. A tendência do púlpito moderno é separar da benevolência divina a justiça divina, reduzir a benevolência a um sentimento em vez de exaltá-la a um princípio. O novo prisma teológico divide ao meio o que Deus havia ajuntado. É a lei divina um bem ou um mal? É um bem. Então a justiça é um bem; pois que ela é uma disposição para executar a lei. Do hábito de desvalorizar a lei e a justiça divinas e o alcance e demérito da desobediência humana, os homens facilmente resvalam para o hábito de depreciar a graça que proveu a expiação do pecado." Assim o evangelho perde seu valor e importância no espírito dos homens, não tardando estes em, praticamente, pôr de lado a própria Escritura Sagrada.
Muitos ensinadores religiosos afirmam que Cristo, pela Sua morte, aboliu a lei, e, em virtude disso, estão os homens livres de suas reivindicações. Alguns há que a representam como um jugo penoso; e em contraste com a servidão da lei apresentam a liberdade a ser gozada sob o evangelho.
Não foi, porém, assim que profetas e apóstolos consideravam a santa lei de Deus. Disse Davi: "Andarei em liberdade, pois busquei os Teus preceitos." Sal. 119:45. O apóstolo Tiago, que escreveu depois da morte de Cristo, refere-se ao decálogo como a "lei real" e a "lei perfeita da liberdade". Tia. 2:8; 1:25. E o escritor do Apocalipse, meio século depois da crucifixão, pronuncia uma bênção aos que "guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas". Apoc. 22:14.
A declaração de que Cristo por Sua morte aboliu a lei do Pai, não tem fundamento. Se tivesse sido possível mudar a lei, ou pô-la de parte, não teria sido necessário que Cristo morresse para salvar o homem da pena do pecado. A morte de Cristo, longe de abolir a lei, prova que ela é imutável. O Filho do homem veio para "engrandecer a lei, e torná-la gloriosa". Isa. 42:21. Disse Ele: "Não cuideis que vim destruir a lei"; "até que o céu e a Terra passem nem um jota ou um til se omitirá da lei." Mat. 5:17 e 18. E, com relação a Si próprio, declara Ele: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração." Sal. 40:8.
A lei de Deus, pela sua própria natureza, é imutável. É uma revelação da vontade e caráter do Autor. Deus é amor, e Sua lei é amor. Seus dois grandes princípios são amor a Deus e amor ao homem. "O cumprimento da lei é o amor." Rom. 13:10. O caráter de Deus é justiça e verdade; esta é a natureza de Sua lei. Diz o salmista: "Tua lei é a verdade"; "todos os Teus mandamentos são justiça." Sal. 119:142 e 172. E o apóstolo Paulo declara: "A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom." Rom. 7:12. Tal lei, sendo expressão do pensamento e vontade de Deus, deve ser tão duradoura como o Seu Autor.
É obra da conversão e santificação reconciliar os homens com Deus, pondo-os em harmonia com os princípios de Sua lei. No princípio, o homem foi criado à imagem de Deus. Estava em perfeita harmonia com a natureza e com a lei de Deus; os princípios da justiça lhe estavam escritos no coração. O pecado, porém, alienou-o do Criador. Não mais refletia a imagem divina. O coração estava em guerra com os princípios da lei de Deus. "A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser." Rom. 8:7. Mas "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito" (João 3:16), para que o homem pudesse reconciliar-se com Ele. Mediante os méritos de Cristo, pode aquele se restabelecer à harmonia com o Criador. O coração deve ser renovado pela graça divina; deve receber nova vida de cima. Esta mudança é o novo nascimento, sem o que, diz Jesus, o homem "não pode ver o reino de Deus".
O primeiro passo na reconciliação com Deus, é a convicção de pecado. "Pecado é o quebrantamento da lei." "Pela lei vem o conhecimento do pecado." I João 3:4; Rom. 3:20. A fim de ver sua culpa, o pecador deve provar o caráter próprio pela grande norma divina de justiça. É um espelho que mostra a perfeição de um viver justo, habilitando o pecador a discernir seus defeitos de caráter.
A lei revela ao homem os seus pecados, mas não provê remédio. Ao mesmo tempo que promete vida ao obediente, declara que a morte é o quinhão do transgressor. Unicamente o evangelho de Cristo o pode livrar da condenação ou contaminação do pecado. Deve ele exercer o arrependimento em relação a Deus, cuja lei transgrediu, e fé em Cristo, seu sacrifício expiatório. Obtém assim "remissão dos pecados passados", e se torna participante da natureza divina. É filho de Deus, tendo recebido o espírito de adoção, pelo qual clama: "Aba, Pai!"
Estaria agora na liberdade de transgredir a lei de Deus? Diz Paulo: "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei." "Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" E João declara: "Esta é a caridade de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; e os Seus mandamentos não são pesados." Rom. 3:31; 6:2; I João 5:3. No novo nascimento o coração é posto em harmonia com Deus, ao colocar-se em conformidade com a Sua lei. Quando esta poderosa transformação se efetua no pecador, passou ele da morte para a vida, do pecado para a santidade, da transgressão e rebelião para a obediência e lealdade. Terminou a velha vida de afastamento de Deus, começando a nova vida de reconciliação, de fé e amor. Então, "a justiça da lei" se cumpre "em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito". Rom. 8:4. E a linguagem da alma será: "Oh! quanto amo a Tua lei! é a minha meditação em todo o dia." Sal. 119:97.
"A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma." Sal. 19:7. Sem a lei os homens não têm uma concepção justa da pureza e santidade de Deus, ou da culpa e impureza deles mesmos. Não têm verdadeira convicção do pecado, e não sentem necessidade de arrependimento. Não vendo a sua condição perdida, como transgressores da lei de Deus, não se compenetram da necessidade do sangue expiatório de Cristo. A esperança de salvação é aceita sem a mudança radical do coração ou reforma da vida. São assim abundantes as conversões superficiais, e unem-se às igrejas multidões que nunca se uniram a Cristo.
Outrossim, teorias erróneas sobre a santificação, procedentes da negligência ou rejeição da lei divina, ocupam lugar preeminente nos movimentos religiosos da época. Essas teorias não somente são falsas no que respeita à doutrina, mas também perigosas nos resultados práticos; e o fato de que estejam tão geralmente alcançando aceitação, torna duplamente essencial que todos tenham clara compreensão do que as Escrituras ensinam a tal respeito.
A verdadeira santificação é doutrina bíblica. O apóstolo Paulo, em carta à igreja de Tessalónica, declara: "Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação." E roga: "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo." I Tess. 4:3; 5:23. A Bíblia ensina claramente o que é a santificação, e como deve ser alcançada. O Salvador orou pelos discípulos: "Santifica-os na verdade: A Tua Palavra é a verdade." João 17:17. E Paulo ensina que os crentes devem ser santificados pelo Espírito Santo (Rom. 15:16). Qual é a obra do Espírito Santo? Disse Jesus aos discípulos: "Quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade." João 16:13. E o salmista declara: "Tua lei é a verdade." Pela Palavra e Espírito de Deus se revelam aos homens os grandes princípios de justiça incorporados em Sua lei. E desde que a lei de Deus é santa, justa e boa, e cópia da perfeição divina, segue-se que o caráter formado pela obediência àquela lei será santo. Cristo é um exemplo perfeito de semelhante caráter. Diz Ele: "Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai." "Eu faço sempre o que Lhe agrada." João 15:10; 8:29. Os seguidores de Cristo devem tornar-se semelhantes a Ele - pela graça de Deus devem formar caráter em harmonia com os princípios de Sua santa lei. Isto é santificação bíblica.
Esta obra unicamente pode ser efetuada pela fé em Cristo, pelo poder do Espírito de Deus habitando em nós. Paulo admoesta aos crentes: "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade." Filip. 2:12 e 13. O cristão sentirá as insinuações do pecado, mas sustentará luta constante contra ele. Aqui é que o auxílio de Cristo é necessário. A fraqueza humana se une à força divina, e a fé exclama: "Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." I Cor. 15:57.
As Escrituras claramente revelam que a obra da santificação é progressiva. Quando na conversão o pecador acha paz com Deus mediante o sangue expiatório, apenas iniciou a vida cristã. Deve agora aperfeiçoar-se; crescer até "a medida da estatura completa de Cristo". Diz o apóstolo Paulo: "Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." Filip. 3:13 e 14. E Pedro nos apresenta os passos por que a santificação bíblica deve ser atingida: "Pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência temperança, e à temperança paciência, e à paciência piedade, e à piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade ... porque fazendo isto nunca jamais tropeçareis." II Ped. 1:5-10.
Os que experimentam a santificação bíblica manifestarão um espírito de humildade. Como Moisés, depois de contemplarem a augusta e majestosa santidade, vêem a sua própria indignidade contrastando com a pureza e excelsa perfeição do Ser infinito.
O profeta Daniel é um exemplo da verdadeira santificação. Seus longos anos foram cheios de nobre serviço a seu Mestre. Foi um homem "mui desejado" do Céu (Dan. 10:11). Todavia, ao invés de pretender ser puro e santo, este honrado profeta, quando pleiteava perante Deus em prol de seu povo, identificou-se com os que positivamente eram pecadores em Israel: "Não lançamos as nossas súplicas perante Tua face fiados em nossas justiças, mas em Tuas muitas misericórdias." "Pecamos; obramos impiamente." Declara ele: "Estando eu ainda falando e orando, e confessando o meu pecado, e o pecado do meu povo." E quando, em ocasião posterior, o Filho de Deus lhe apareceu a fim de lhe dar instrução, diz Daniel: "Transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma." Dan. 9:18, 15 e 20; 10:8.
Quando Jó ouviu do redemoinho, a voz do Senhor, exclamou: "Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza. Jó 42:6. Foi quando Isaías viu a glória do Senhor e ouviu os querubins a clamar - "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos" - que exclamou: "Ai de mim, que vou perecendo!" Isa. 6:3 e 5. Arrebatado ao terceiro Céu, Paulo ouviu coisas que não era possível ao homem proferir e fala de si mesmo como "o mínimo de todos os santos". II Cor. 12:2-4; Efés. 3:8. Foi o amado João, que se reclinou ao peito de Jesus, e Lhe contemplou a glória, que caiu como morto aos pés de um anjo (Apoc. 1:17).
Não pode haver exaltação própria, jactanciosa pretensão à libertação do pecado, por parte dos que andam à sombra da cruz do Calvário. Sentem eles que foi seu pecado o causador da agonia que quebrantou o coração do Filho de Deus, e este pensamento os levará à humilhação própria. Os que mais perto vivem de Jesus, mais claramente discernem a fragilidade e pecaminosidade do ser humano, e sua única esperança está nos méritos de um Salvador crucificado e ressurgido.
A santificação que ora adquire preeminência no mundo religioso, traz consigo o espírito de exaltação própria e o desrespeito pela lei de Deus, os quais a estigmatizam como estranha à religião da Escritura Sagrada. Seus defensores ensinam que a santificação é obra instantânea, pela qual, mediante a fé apenas, alcançam perfeita santidade. "Crede tão-somente", dizem, "e a bênção será vossa." Nenhum outro esforço, por parte do que recebe, se pressupõe necessário. Ao mesmo tempo negam a autoridade da lei de Deus, insistindo em que estão livres da obrigação de guardar os mandamentos. Mas é possível aos homens ser santos, de acordo com a vontade e caráter de Deus, sem ficar em harmonia com os princípios que são a expressão de Sua natureza e vontade, e que mostram o que Lhe é agradável?
O desejo de uma religião fácil, que não exija esforço, renúncia, nem ruptura com as loucuras do mundo, tem tornado popular a doutrina da fé, e da fé somente; mas que diz a Palavra de Deus? Declara o apóstolo Tiago: "Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? ... Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. ... Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé." Tia. 2:14-24.
O testemunho da Palavra de Deus é contra esta doutrina perigosa da fé sem as obras. Não é fé pretender o favor do Céu sem cumprir as condições necessárias para que a graça seja concedida: é presunção; pois que a fé genuína se fundamenta nas promessas e disposições das Escrituras.
Ninguém se engane com a crença de que pode tornar-se santo enquanto voluntariamente transgride um dos mandamentos de Deus. O cometer o pecado conhecido faz silenciar a voz testemunhadora do Espírito e separa a alma de Deus. "Pecado é o quebrantamento da lei." E "qualquer que peca [transgride a lei] não O viu nem O conheceu". I João 3:6. Conquanto João em suas epístolas trate tão amplamente do amor, não hesita, todavia, em revelar o verdadeiro caráter dessa classe de pessoas que pretende ser santificada ao mesmo tempo em que vive a transgredir a lei de Deus. "Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas qualquer que guarda a Sua Palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado." I João 2:4 e 5. Essa é a pedra de toque de toda profissão de fé. Não podemos atribuir santidade a qualquer pessoa sem julgá-la pela medida da única norma divina de santidade, no Céu e na Terra. Se os homens não sentem o peso da lei moral, se amesquinham e consideram levianamente os preceitos de Deus, se violam o menor desses mandamentos, e assim ensinam os homens, não serão de nenhum apreço à vista do Céu, e podemos saber que suas pretensões são destituídas de fundamento.
E a alegação de estarem sem pecado é em si mesma evidência de que aquele que a alimenta longe está de ser santo. É porque não tem nenhuma concepção verdadeira da infinita pureza e santidade de Deus, ou do que devem ser os que se hão de harmonizar com Seu caráter; é porque não aprendeu o verdadeiro conceito da pureza e perfeição supremas de Jesus, bem como da malignidade e horror do pecado, que o homem pode considerar-se santo. Quanto maior a distância entre ele e Cristo, e quanto mais impróprias forem suas concepções do caráter e requisitos divinos, tanto mais justo parecerá a seus próprios olhos.
A santificação apresentada nas Escrituras compreende o ser inteiro: espírito, alma e corpo. Paulo orou pelos tessalonicenses para que todo o seu espírito, e alma, e corpo fossem plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (I Tess. 5:23). Outra vez escreve ele aos crentes: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus." Rom. 12:1. No tempo do antigo Israel, toda oferta trazida como sacrifício a Deus era cuidadosamente examinada. Se se descobria qualquer defeito no animal apresentado, era rejeitado; pois Deus recomendara que a oferta fosse "sem mancha". Assim se ordena aos cristãos que apresentem o corpo "em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus". A fim de fazerem isto, todas as faculdades devem ser conservadas na melhor condição possível. Todo uso ou costume que enfraquece a força física ou mental, inabilita o homem para o serviço de seu Criador. E agradar-Se-á Deus com qualquer coisa que seja menos do que o melhor que podemos oferecer? Disse Cristo: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração." Os que amam a Deus de todo o coração, desejarão prestar-Lhe o melhor serviço de sua vida, e estarão constantemente procurando pôr toda faculdade do ser em harmonia com as leis que os tornarão aptos a fazer a Sua vontade. Não aviltarão nem mancharão, pela condescendência com o apetite ou paixões, a oferta que apresentam a seu Pai celestial.
Diz Pedro: "Peço-vos ... que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma." I Ped. 2:11. Toda condescendência pecaminosa tende a embotar as faculdades e a destruir o poder de percepção mental e espiritual, e a Palavra ou o Espírito de Deus apenas poderão impressionar debilmente o coração. Paulo escreve aos coríntios: "Purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." II Cor. 7:1. E entre os frutos do Espírito - "caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão" - enumera a "temperança". Gál. 5:22 e 23.
A despeito destas declarações inspiradas, quantos professos cristãos se acham a debilitar suas faculdades em busca de ganhos ou na adoração da moda! quantos há que estão a aviltar a varonilidade à semelhança de Deus pela glutonaria, pelo beber vinho, pelos prazeres proibidos! E a igreja, em vez de reprovar, muitas vezes promover o mal, apelando para o apetite, para o desejo de lucros, ou para o amor ao prazer, a fim de encher o seu tesouro, que o amor a Cristo é demasiado fraco para suprir. Se Jesus entrasse nas igrejas de hoje, e visse as festas e comércio iníquo ali levados a efeito em nome da religião, não expulsaria Ele a esses profanadores, assim como baniu do templo os cambistas?
O apóstolo Tiago declara que a sabedoria de cima é "primeiramente, pura". Houvesse ele encontrado os que proferem o precioso nome de Jesus com lábios poluídos pelo fumo, aqueles cujo hálito e pessoa se acham contaminados pelo seu desagradável odor, e que corrompem o ar do céu, forçando a todos a seu redor a respirar o veneno, sim, houvesse o apóstolo tomado conhecimento de prática tão contrária à pureza do evangelho, e não a teria ele denunciado como "terrena, animal e diabólica"? Escravos do fumo, pretendendo a bênção da santificação completa, falam sobre sua esperança do Céu; mas a Palavra de Deus claramente diz que "não entrará nela coisa alguma que contamine". Apoc. 21:27.
"Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." I Cor. 6:19 e 20. Aquele cujo corpo é o templo do Espírito Santo, não se escravizará por hábito pernicioso. Suas faculdades pertencem a Cristo, que o comprou com preço de sangue. Sua propriedade é do Senhor. Como poderia ficar sem culpa malbaratando o capital que lhe é confiado? Cristãos professos gastam anualmente soma considerável com inúteis e perniciosas condescendências, enquanto almas estão perecendo à falta da Palavra da Vida. Deus é roubado nos dízimos e ofertas, enquanto consomem no altar das destruidoras concupiscências mais do que dão para socorrer os pobres ou para o sustento do evangelho. Se todos os que professam ser seguidores de Cristo fossem verdadeiramente santificados, seus meios, em vez de serem gastos com desnecessárias e mesmo nocivas condescendências, reverteriam para o tesouro do Senhor, e os cristãos dariam um exemplo de temperança, renúncia e sacrifício. Seriam então a luz do mundo.
O mundo está entregue à satisfação de si mesmo. "A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, e a soberba da vida" dominam as massas populares. Os seguidores de Cristo, porém, possuem uma vocação mais elevada. "Saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo." À luz da Palavra de Deus estamos autorizados a declarar que não pode ser genuína a santificação que não opere a completa renúncia de todo desejo pecaminoso e prazeres do mundo.
Aos que satisfazem as condições: "Saí do meio deles, e apartai-vos, ... e não toqueis nada imundo", a promessa de Deus é: "Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor todo-poderoso." II Cor. 6:17 e 18. É privilégio e dever de todo cristão ter uma experiência rica e abundante nas coisas de Deus. "Eu sou a luz do mundo", disse Jesus. "Aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida." João 8:12. "A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito." Prov. 4:18. Cada passo de fé e obediência leva a alma em relação mais íntima com a Luz do mundo, em quem não há sinal de trevas. Os brilhantes raios do Sol da justiça resplandecem sobre os servos de Deus, e devem estes refletir os Seus raios. Assim como as estrelas nos falam de uma grande luz no céu, com cuja glória refulgem, assim também os cristãos devem tornar manifesto que há no trono do Universo um Deus, cujo caráter é digno de louvor e imitação. As graças de Seu Espírito, a pureza e santidade de Seu caráter, manifestar-se-ão em Suas testemunhas.
Paulo, em sua carta aos colossenses, apresenta as ricas bênçãos concedidas aos filhos de Deus. Diz ele: "Não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo." Col. 1:9-11.
Outra vez escreve acerca de seu desejo que os irmãos de Éfeso chegassem a compreender a altura do privilégio do cristão. Abre perante eles, na linguagem mais compreensiva, o poder e conhecimento maravilhosos que podiam possuir como filhos e filhas do Altíssimo. A eles tocava o serem "corroborados com poder pelo Seu Espírito no homem interior", "arraigados e fundados em amor", "compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento". Mas a oração do apóstolo atinge o auge do privilégio quando ora para que "sejais cheios de toda a plenitude de Deus". Efés. 3:16-19.
Aqui se revelam as culminâncias do aperfeiçoamento a que podemos atingir pela fé nas promessas de nosso Pai celestial, quando cumprimos os Seus preceitos. Mediante os méritos de Cristo temos acesso ao trono do Poder infinito. "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Rom. 8:32. O Pai deu ao Filho Seu Espírito sem medida, e também nós podemos participar de Sua plenitude. Diz Jesus: "Se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem?" Luc. 11:13. "Se pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei." "Pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra." João 14:14;16:24.
Posto que a vida do cristão deva ser caracterizada pela humildade, não deveria assinalar-se pela tristeza e depreciação de si mesmo. É privilégio de cada um viver de tal maneira que Deus o aprove e abençoe. Não é da vontade de nosso Pai celestial que sempre estejamos sob condenação e trevas. O andar cabisbaixo e com o coração cheio de preocupações não constitui prova de verdadeira humildade. Podemos ir a Jesus e ser purificados, permanecendo diante da lei sem opróbrio e remorsos. "Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rom. 8:1.
Por meio de Jesus os decaídos filhos de Adão se tornam "filhos de Deus". "Assim O que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não Se envergonha de lhes chamar irmãos." Heb. 2:11. A vida cristã deve ser de fé, vitória e alegria em Deus. "Todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé." I João 5:4. Com acerto disse Neemias, servo de Deus: "A alegria do Senhor é a vossa força." Nee. 8:10. E Paulo diz: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos." Filip. 4:4. "Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." I Tess. 5:16-18.
São estes os frutos da conversão e santificação bíblica; e é porque os grandes princípios da justiça apresentados na lei de Deus são com tanta indiferença considerados pelo mundo cristão, que esses frutos são tão raramente testemunhados. É por isso que tão pouco se manifesta dessa profunda e estável obra do Espírito de Deus, a qual assinalava os avivamentos em anos anteriores.
É ao contemplar que somos transformados. E, negligenciando os preceitos sagrados nos quais Deus revelou aos homens a perfeição e santidade de Seu caráter, e atraindo o espírito do povo aos ensinos e teorias humanos, que de estranho poderá haver no conseqüente declínio na viva piedade da igreja? Diz o Senhor: "A Mim Me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas." Jer. 2:13.
"Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios. ... Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na Sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem; e tudo quanto fizer prosperará." Sal. 1:1-3. É somente à medida que se restabeleça a lei de Deus à sua posição exata, que poderá haver avivamento da primitiva fé e piedade entre o Seu povo professo. "Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para vossa alma." Jer. 6:16.
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