Onde quer que a Palavra de Deus tenha sido fielmente
pregada, seguiram-se resultados que atestaram de sua origem divina. O Espírito
de Deus acompanhou a mensagem de Seus servos, e a Palavra era proclamada com
poder. Os pecadores sentiam despertar-lhes a consciência. A “luz... que alumia
a todo homem que vem ao mundo” (João 1:9) iluminava-lhes os íntimos recessos da
alma, e as coisas ocultas das trevas eram manifestas. Coração e espírito eram
possuídos de profunda convicção. Convenciam-se do pecado, da justiça e do juízo
vindouro. Tinham a intuição da justiça de Jeová, e sentiam terror de aparecer,
em sua culpa e impureza, perante Aquele que examina os corações. Com angústia
exclamavam: “Quem me livrará do corpo desta morte?” Romanos 7:24. Ao revelar-se
a cruz do Calvário, com seu infinito sacrifício pelos pecados dos homens, viram
que nada, senão os méritos de Cristo, seria suficiente para a expiação de suas
transgressões; somente esses méritos poderiam reconciliar os homens com Deus.
Com fé e humildade, aceitaram o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Pelo sangue de Jesus tiveram “a remissão dos pecados dantes cometidos”. Romanos
3:25. {RR 2.1}
Novo estilo de vida
Aquelas pessoas produziram frutos dignos de
arrependimento. Creram e foram batizadas, e levantaram-se para {RR 2.2}
andar em novidade de vida — como novas criaturas em
Cristo Jesus; não para se conformarem aos desejos anteriores, mas, pela fé no
Filho de Deus, seguir-Lhe os passos, refletir-Lhe o caráter, e purificar-se,
assim como Ele é puro. As coisas que antes odiavam, agora amavam; e as que
antes amavam, passaram a odiar. Os orgulhosos e presunçosos tornaram-se mansos
e humildes de coração. Os vaidosos e arrogantes se fizeram graves e acessíveis.
Os profanos se tornaram reverentes, sóbrios os ébrios, os devassos puros. As
modas vãs do mundo foram postas de parte. Os cristãos procuravam não o
“enfeite... exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na
compostura de vestes, mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo
de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus”. 1 Pedro 3:3, 4.
{RR 2.3}
Os reavivamentos resultaram em profundo exame de coração
e humildade. Caracterizavam-se pelos apelos solenes e fervorosos ao pecador,
pela terna misericórdia para com a aquisição efetuada pelo sangue de Cristo.
Homens e mulheres oravam e lutavam com Deus pela salvação de outros. Os frutos
de semelhantes avivamentos eram vistos nas pessoas que não fugiam da renúncia e
do sacrifício, mas que se regozijavam de que fossem consideradas dignas de
sofrer dificuldade e provação por amor de Cristo. Notava-se uma transformação
na vida dos que tinham professado o nome de Jesus. A comunidade se beneficiava
por sua influência. ... {RR 2.4}
Esse é o resultado da obra do Espírito de Deus. Não há
prova de genuíno arrependimento a menos que ele opere reforma na vida. Se
restitui o penhor, devolve o que tinha roubado, confessa os pecados e ama a
Deus e seus semelhantes, o pecador pode estar certo de que encontrou paz com
Deus. Foram esses os efeitos que, em anos anteriores, se seguiram às ocasiões
de reavivamento espiritual. Julgados pelos seus frutos, sabia-se que eram
abençoados por Deus para a salvação dos homens e para reerguimento da
humanidade. {RR 3.1}
Reavivamentos falsos — Qual a diferença?
Muitos reavivamentos dos tempos modernos têm, no entanto,
apresentado notável contraste com aquelas manifestações de graça divina que nos
tempos primitivos se seguiam aos esforços dos servos de Deus. É verdade que se
desperta grande interesse, muitos professam conversão, vão às igrejas; não
obstante, os resultados não são de molde a autorizar a crença de que houve
aumento correspondente da verdadeira vida espiritual. A luz que brilha por
algum tempo logo se apaga, deixando as trevas mais densas do que antes. {RR
3.2}
Avivamentos populares são muitas vezes levados a efeito
por meio de apelos à imaginação, despertando-se as emoções, satisfazendo-se o
amor ao que é novo e surpreendente. Conversos ganhos dessa maneira têm pouco
desejo de ouvir a verdade bíblica, pouco interesse no testemunho dos profetas e
apóstolos. A menos que o culto assuma algo de caráter sensacional, não lhes
oferece atração. Não é atendida a mensagem que apele para a razão
desapaixonada. As claras advertências da Palavra de Deus, que diretamente se
referem aos seus interesses eternos, não são tomadas a sério. {RR 3.3}
Para todo indivíduo verdadeiramente convertido, a relação
com Deus e com as coisas eternas será o grande objeto da vida. ... Antes dos
juízos finais de Deus caírem sobre a Terra, haverá, entre o povo do Senhor, tal
avivamento da primitiva piedade como não fora testemunhado desde os tempos
apostólicos. O Espírito e o poder de Deus serão derramados sobre Seus filhos.
Naquele tempo muitos se separarão das igrejas em que o amor deste mundo
suplantou o amor a Deus e à Sua Palavra. Muitos, tanto pastores como leigos,
aceitarão alegremente as grandes verdades que Deus providenciou fossem
proclamadas no tempo presente, a fim de preparar um povo para a segunda vinda
do Senhor. {RR 3.4}
O inimigo das almas deseja estorvar esta obra; e antes
que chegue o tempo para tal movimento, esforçar-se-á para impedi-la,
introduzindo uma contrafação. Nas igrejas que puder colocar sob seu poder
sedutor, fará parecer que a bênção especial de Deus foi derramada; se
manifestará o que será considerado como grande interesse religioso. Multidões
exultarão de que Deus esteja operando maravilhosamente por elas, quando a obra
é de outro espírito. Sob o disfarce religioso, Satanás procurará estender sua influência
sobre o mundo cristão. {RR 4.1}
Por que ser enganado?
Em muitos dos reavivamentos ocorridos durante o último
meio século, têm estado a operar, em maior ou menor grau, as mesmas influências
que se manifestarão em movimentos mais extensos no futuro. Há um reavivamento
apenas emotivo, mistura do verdadeiro com o falso, muito apropriado para
desviar. Contudo, ninguém necessita ser enganado. À luz da Palavra de Deus não
é difícil determinar a natureza desses movimentos. Onde quer que os homens
negligenciem o testemunho da Escritura Sagrada, desviando-se das verdades
claras que servem para provar a alma e que exigem a renúncia de si mesmo e a do
mundo, podemos estar certos de que ali não é outorgada a bênção de Deus. E,
pela regra que o próprio Cristo deu — “por seus frutos os conhecereis” (Mateus
7:16) — é evidente que esses movimentos não são obra do Espírito de Deus. {RR
4.2}
Nas verdades de Sua Palavra, Deus deu aos homens a
revelação de si mesmo; e a todos os que as aceitam servem de escudo contra os
enganos de Satanás. Foi a negligência dessas verdades que abriu a porta aos
males que tanto se estão generalizando agora no mundo religioso. Tem-se perdido
de vista, em grande parte, a natureza e importância da lei de Deus. Uma
concepção errônea do caráter, perpetuidade e vigência da lei divina, tem
ocasionado erros quanto à conversão e santificação, resultando em baixar, na
igreja, a norma de piedade. Aqui deve encontrar-se o segredo da falta do
Espírito e poder de Deus nos avivamentos de nosso tempo. ... {RR 4.3}
Pode ser mudada a lei de Deus?
Muitos ensinadores religiosos afirmam que Cristo, pela
Sua morte, aboliu a lei e, em virtude disso, estão os homens livres de seus
requisitos. Alguns há que a representam como um jugo penoso; e em contraste com
a servidão da lei apresentam a liberdade a ser desfrutada sob o evangelho. {RR
4.4}
Não foi, porém, assim que profetas e apóstolos
consideravam a santa lei de Deus. Disse David: “Andarei em liberdade, pois
busquei os Teus preceitos.” Salmos 119:45. O apóstolo Tiago, que escreveu
depois da morte de Cristo, refere-se ao Decálogo como a “lei real” (Tiago 2:8)
e a “lei perfeita da liberdade”. Tiago 1:25. E o autor do Apocalipse, meio
século depois da crucifixão, pronuncia uma bênção aos que guardam os Seus
mandamentos, “para que tenham direito à árvore da vida e possam entrar na
cidade pelas portas”. Apocalipse 22:14. A declaração de que Cristo por Sua
morte aboliu a lei do Pai, não tem fundamento. Se tivesse sido possível mudar a
lei ou pô-la de parte, não teria sido necessário que Cristo morresse para
salvar o homem da pena do pecado. ... {RR 4.5}
Separado e reconciliado
É a obra da conversão e santificação reconciliar os
homens com Deus, pondo-os em harmonia com os princípios de Sua lei. No
princípio, o homem foi criado à imagem de Deus. Estava em perfeita harmonia com
a natureza e com a lei de Deus; os princípios da justiça lhe estavam escritos
no coração. O pecado, porém, alienou-o do Criador. Não mais refletia a imagem
divina. O coração estava em guerra com os princípios da lei de Deus. “A
inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus,
nem, em verdade, o pode ser.” Romanos 8:7. Mas “Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o Seu Filho unigénito” (João 3:16), para que o homem pudesse
reconciliar-se com Ele. Mediante os méritos de Cristo a humanidade pode se
restabelecer à harmonia com o Criador. O coração deve ser renovado pela graça
divina; deve receber nova vida de cima. Essa mudança é o novo nascimento, sem o
que, diz Jesus, o homem “não pode ver o reino de Deus”. João 3:3. {RR 5.1}
O primeiro passo na reconciliação com Deus, é a convicção
do pecado. “Pecado é a transgressão da lei.” 1 João 3:4. “Pela lei vem o
conhecimento do pecado.” Romanos 3:20. A fim de ver sua culpa, o pecador deve
provar o caráter próprio pela grande norma divina de justiça. É um espelho que
mostra a perfeição de um viver justo, habilitando o pecador a discernir seus
defeitos de caráter. {RR 5.2}
A lei revela ao homem os seus pecados, mas não provê
remédio. Ao mesmo tempo que promete vida ao obediente, declara que a morte é a
consequência para o transgressor. Unicamente o evangelho de Cristo o pode
livrar da condenação ou contaminação do pecado. Deve ele exercer o
arrependimento em relação a Deus, cuja lei transgrediu, e fé em Cristo, seu
sacrifício expiatório. Obtém assim “remissão dos pecados dantes cometidos”
(Romanos 3:25), e se torna participante da natureza divina. ... {RR 5.3}
Estaria agora na liberdade de transgredir a lei de Deus?
Diz Paulo: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes,
estabelecemos a lei.” Romanos 3:31. “Nós que estamos mortos para o pecado, como
viveremos ainda nele?” Romanos 6:2. E João declara: “Este é o amor de Deus: que
guardemos os Seus mandamentos; ora, os Seus mandamentos não são penosos.” 1
João 5:3. No novo nascimento o coração é posto em harmonia com Deus, ao
colocar-se em conformidade com a Sua lei. Quando essa poderosa transformação se
efetua no pecador, passou ele da morte para a vida, do pecado para a santidade,
da transgressão e rebelião para a obediência e lealdade. ... {RR 5.4}
Santificação — Quem efetua a obra?
Teorias errôneas sobre a santificação, procedentes da
negligência ou rejeição da lei divina, ocupam lugar preeminente nos movimentos
religiosos da época. Essas teorias não somente são falsas no que respeita à
doutrina, mas também perigosas nos resultados práticos; e o fato de que estejam
tão geralmente alcançando aceitação, torna duplamente essencial que todos
tenham clara compreensão do que as Escrituras ensinam a tal respeito. {RR 6.1}
A verdadeira santificação é doutrina bíblica. O apóstolo
Paulo, em carta à igreja de Tessalônica, declara: “Esta é a vontade de Deus, a
vossa santificação.” 1 Tessalonicenses 4:3. E roga: “E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo.” 1 Tessalonicenses 5:23. A Bíblia ensina claramente o que é
a santificação, e como deve ser alcançada. O Salvador orou pelos discípulos:
“Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade.” João 17:17. E Paulo
ensina que os crentes devem ser santificados pelo Espírito Santo. Romanos
15:16. Qual é a obra do Espírito Santo? Disse Jesus aos discípulos: “Quando
vier aquele Espírito da verdade, Ele vos guiará em toda a verdade.” João 16:13.
E o salmista declara: “Tua lei é a verdade.” Salmos 119:142. Pela Palavra e
Espírito de Deus se revelam aos homens os grandes princípios de justiça
incorporados em Sua lei. E desde que a lei de Deus é santa, justa e boa, e
imagem da perfeição divina, segue-se que o caráter formado pela obediência
àquela lei será santo. Cristo é um exemplo perfeito de semelhante caráter. Diz
Ele: “Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai.” João 15:10. “Eu faço sempre
o que Lhe agrada.” João 8:29. Os seguidores de Cristo devem tornar-se
semelhantes a Ele — pela graça de Deus devem formar caracteres em harmonia com
os princípios de Sua santa lei. Isto é santificação bíblica. Esta obra
unicamente pode ser efetuada pela fé em Cristo, pelo poder do Espírito de Deus
habitando em nós. Paulo adverte os crentes: “Operai a vossa salvação com temor
e tremor; porque Deus é O que opera em vós tanto o querer como o efetuar,
segundo a Sua boa vontade.” Filipenses 2:12, 13. O cristão sentirá as
insinuações do pecado, mas sustentará luta constante contra ele. Aqui é que o
auxílio de Cristo é necessário. A fraqueza humana se une à força divina, e a fé
exclama: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.” 1
Coríntios 15:57. {RR 6.2}
As Escrituras claramente revelam que a obra da
santificação é progressiva. Quando na conversão o pecador acha paz com Deus
mediante o sangue expiatório, apenas iniciou a vida cristã. Deve agora
aperfeiçoar-se; crescer até “à medida da estatura completa de Cristo”. Efésios
4:13. ... {RR 7.1}
Não há lugar para arrogância
Os que experimentam a santificação bíblica manifestarão
um espírito de humildade. Como Moisés, depois de contemplarem a augusta e
majestosa santidade, vêem a sua própria indignidade contrastando com a pureza e
excelsa perfeição do Ser infinito. {RR 7.2}
O profeta Daniel é um exemplo da verdadeira santificação.
Seus longos anos foram cheios de nobre serviço a Seu Mestre. Foi um homem “mui
desejado” do Céu. Daniel 10:11. Todavia, ao invés de ter a pretensão de ser
puro e santo, este honrado profeta, quando pleiteava perante Deus em prol de
seu povo, identificou-se com os que positivamente eram pecadores em Israel:
“Não lançamos as nossas súplicas perante a Tua face fiados em nossas justiças,
mas em Tuas muitas misericórdias. ... Pecamos; procedemos impiamente.” Daniel
9:18, 15. Declara ele: “Estando eu ainda falando, e orando, e confessando o meu
pecado e o pecado do meu povo.” Daniel 9:20. Quando Jó ouviu, do redemoinho, a
voz do Senhor, exclamou: “Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na
cinza.” Jó 42:6. Foi quando Isaías viu a glória do Senhor e ouviu os querubins
a clamar — “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos” — que exclamou: “Ai
de mim, que vou perecendo!” Isaías 6:3, 5. Arrebatado ao terceiro Céu, Paulo
ouviu coisas que não era possível ao homem proferir, e fala de si mesmo como “o
mínimo de todos os santos.” Efésios 3:8; 2 Coríntios 12:2-4. Foi o amado João,
que se reclinou ao peito de Jesus, e Lhe contemplou a glória, que caiu como
morto aos pés de um anjo. Apocalipse 1:17. {RR 7.3}
Não pode haver exaltação própria, orgulhosa pretensão à
liberdade do pecado, por parte dos que andam à sombra da cruz do Calvário.
Sentem eles que foi seu pecado o causador da agonia que quebrantou o coração do
Filho de Deus, e este pensamento os levará à humilhação própria. Os que mais
perto vivem de Jesus, mais claramente discernem a fragilidade e pecaminosidade
do ser humano, e sua única esperança está nos méritos de um Salvador
crucificado e ressurgido. {RR 7.4}
Sem comentários:
Enviar um comentário