Manuscrito geral redigido em 1890, por ocasião dos
congressos ministeriais em Battle Creek, arquivado como Manuscrito 36, 1890, e
publicado na The Review and Herald, 24 de Fevereiro e 3 de Março de 1977. Esta
importantíssima declaração elucidativa constitui uma introdução apropriada para
as dezoito apresentações que vêm em seguida, dispostas em seqüência
cronológica.
Disse o apóstolo Paulo: “Não sabeis que os injustos não
herdarão o reino de Deus?... Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes,
mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus e
pelo Espírito do nosso Deus.” 1 Coríntios 6:9-11. A ausência de devoção,
piedade e santificação do homem exterior provém de negar a Jesus Cristo,
Justiça nossa. O amor de Deus precisa ser cultivado constantemente... {FO 13.1}
Enquanto uma classe de pessoas deturpa a doutrina da
justificação pela fé e deixa de concordar com as condições estabelecidas na
Palavra de Deus — “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” — há um erro
tão grande como este da parte dos que pretendem crer nos mandamentos de Deus e
obedecer-lhes mas se colocam em oposição aos preciosos raios de luz — novos
para eles — refletidos da cruz do Calvário. A primeira classe não vê as
maravilhosas coisas na lei de Deus para todos os que são praticantes de Sua
Palavra. Os outros entretêm-se com as insignificâncias e negligenciam as
questões mais importantes, a misericórdia e o amor de Deus. {FO 13.2}
Muitos têm perdido muita coisa por não haverem aberto os
olhos de seu entendimento para discernir as maravilhas da lei de Deus. Por um
lado, os religiosos em geral divorciam a lei do evangelho, ao passo que nós,
por outra parte, quase fizemos o mesmo de outro ponto de vista. Não expusemos
às pessoas a justiça de Cristo e a ampla significação de Seu grande plano de
redenção. Deixamos de lado a Cristo e Seu incomparável amor, introduzimos
teorias e raciocínios, e pregamos sermões argumentativos. {FO 13.3}
Homens não convertidos têm ocupado o púlpito pregando. Seu
coração nunca experimentou, por meio de viva, apegada e confiante fé, a
agradável evidência do perdão de seus pecados. Como, então, podem eles pregar o
amor, a simpatia, o perdão de Deus para todos os pecados? Como podem dizer:
“Olhai, e vivei”? Olhando para a cruz do Calvário, sentireis o desejo de levar
a cruz. O Redentor do mundo esteve suspenso na cruz do Calvário. Contemplai o
Salvador do mundo, no qual habita corporalmente toda a plenitude da Divindade.
Pode alguém olhar e contemplar o sacrifício do amado Filho de Deus, sem que seu
coração seja sensibilizado e quebrantado, pronto a entregar-se a Deus de
coração e alma? {FO 14.1}
Seja este ponto plenamente estabelecido em todas as mentes:
Se aceitamos a Cristo como Redentor, precisamos aceitá-Lo como Soberano. Não
podemos ter certeza e perfeita confiança em Cristo como nosso Salvador enquanto
não O reconhecermos como nosso Rei e formos obedientes a Seus mandamentos.
Assim evidenciamos nossa lealdade a Deus. Nossa fé tem, então, o timbre
genuíno, pois é uma fé operante. Ela opera pelo amor. Dizei isto de vosso
coração: “Senhor, creio que morreste para resgatar minha alma. Se deste tanto
valor à alma que chegaste a dar Tua vida pela minha, mostrar-me-ei sensível.
Entrego minha vida, com todas as suas possibilidades, em toda a minha fraqueza,
aos Teus cuidados.” {FO 14.2}
A vontade deve ser colocada em completa harmonia com a
vontade de Deus. Quando isto é efetuado, não será repelido nenhum raio de luz
que incide sobre o coração e sobre os recessos da mente. A alma não será obstruída
pelo preconceito, chamando a luz trevas, e as trevas luz. A luz do Céu é bem
recebida, como luz que inunda os recessos da alma. Isto é entoar melodias a
Deus. {FO 14.3}
Crença e descrença
Quanto cremos de coração? Chegai-vos a Deus e Ele Se chegará
a vós outros. Isto significa estar muito com o Senhor em oração. Quando os que
se educaram no ceticismo e acalentaram a descrença, entretecendo dúvidas em sua
experiência, estão sob a convicção do Espírito de Deus, reconhecem ser seu
dever pessoal confessar sua descrença. Abrem o coração para aceitar a luz que
lhes foi enviada, e, pela fé, passam do pecado para a justiça, e da dúvida para
a fé. Consagram-se a Deus sem reservas, para seguir Sua luz em lugar das
faíscas que eles mesmos acenderam. Ao manterem sua consagração, verão crescente
luz, e ela vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. {FO 14.4}
A descrença que é acalentada na alma tem um poder sedutor.
As sementes da dúvida que eles estiveram semeando produzirão sua colheita, mas
devem continuar a arrancar toda raiz de descrença. Quando são desarraigadas
essas plantas nocivas, elas cessam de crescer por falta de nutrição em palavra
e ação. A alma deve ter as preciosas plantas da fé e do amor introduzidas no
solo do coração e entronizadas ali. {FO 15.1}
Ideias confusas
acerca da salvação
Não podemos compreender que a coisa mais dispendiosa no
mundo é o pecado? Ele ocorre à custa da pureza de consciência, ao preço de
perder o favor de Deus e d´Ele separar a alma, perdendo afinal o Céu. O pecado
de entristecer o Santo Espírito de Deus e de andar em desacordo com Ele tem
custado a muitos indivíduos a perda de sua alma. {FO 15.2}
Quem pode avaliar as responsabilidades da influência de todo
instrumento humano a quem o Salvador adquiriu pelo sacrifício de Sua própria
vida? Que cena se apresentará quando se assentar o tribunal e se abrirem os
livros para atestar a salvação ou a perda de toda alma! Será necessário a
infalível decisão d´Aquele que viveu na humanidade, amou a humanidade, deu a
vida pela humanidade, para fazer a atribuição final das recompensas aos justos
leais, e da punição aos desobedientes, aos desleais e injustos. Ao Filho de
Deus é confiada a completa avaliação de toda ação e responsabilidade
individuais. Para os que foram participantes dos pecados de outros homens e
agiram contra a decisão de Deus, será uma cena terrivelmente solene. {FO 15.3}
Reiteradas vezes me tem sido apresentado o perigo de nutrir,
como um povo, falsas ideias da justificação pela fé. Durante anos tem-me sido
mostrado que Satanás trabalharia de maneira especial para confundir a mente
quanto a esse ponto. Tem-se alongado sobre a lei de Deus e ela tem sido
apresentada às congregações quase de modo tão destituído do conhecimento de
Jesus Cristo e de Sua relação para com a lei como a oferta de Caim. Foi-me
mostrado que muitos se conservam longe da fé devido às ideias embaralhadas e
confusas acerca da salvação, e porque os pastores têm trabalhado de maneira errónea
para alcançar os corações. O ponto que durante anos tem sido recomendado com
insistência à minha mente é a justiça imputada de Cristo. Tenho estranhado que
este assunto não se tenha tornado o tema de sermões em nossas igrejas em todas
as partes do país, sendo que tão constantemente é realçado perante mim e eu o
tenho tornado o assunto de quase todo sermão e palestra que hei proferido para
o povo. {FO 15.4}
Ao examinar meus escritos de quinze e vinte anos atrás,
[verifico] que eles apresentam a questão sob a mesma luz — a saber, que os que
ingressam na solene e sagrada obra do ministério devem primeiro receber um
preparo nas lições sobre os ensinos de Cristo e dos apóstolos quanto aos vivos
princípios da piedade prática. Devem ser instruídos a respeito do que constitui
fervorosa e viva fé. {FO 16.1}
Unicamente pela fé
Muitos jovens são enviados a trabalhar, embora não
compreendam o plano da salvação e o que é verdadeira conversão; na realidade,
precisam converter-se. Precisamos ser esclarecidos sobre este ponto, e os
pastores têm de ser ensinados a alongar-se mais pormenorizadamente sobre os
assuntos que explicam a verdadeira conversão. Todos os que são batizados devem
tornar evidente que se converteram. Não há um ponto que necessite ser realçado
com mais diligência, repetido com mais frequência ou estabelecido com mais
firmeza na mente de todos, do que a impossibilidade de o homem caído merecer
alguma coisa por suas próprias e melhores boas obras. A salvação é unicamente
pela fé em Jesus Cristo. {FO 16.2}
Quando é examinada essa questão, ficamos com o coração
magoado ao ver quão triviais são as observações dos que deviam compreender o
mistério da piedade. Eles falam tão irrefletidamente das verdadeiras ideias de
nossos irmãos que professam crer na verdade e ensiná-la! Ficam muito aquém dos
fatos reais, segundo me têm sido revelados. O inimigo confundiu sua mente de
tal modo na névoa do mundanismo, e ela parece estar tão arraigada em seu
entendimento, que se tornou uma parte de sua fé e de seu caráter. Só uma nova
conversão pode transformá-los e levá-los a abandonar essas falsas ideias — pois
isso é exatamente o que elas são, segundo me foi revelado. Apegam-se a elas
como quem está afogando se apega a um salva-vidas, para evitar que desanimem e
naufraguem na fé. {FO 16.3}
Cristo me deu estas palavras a serem proferidas: “Se alguém
não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus.” Portanto, todos os que têm
correta compreensão desse assunto devem deixar de lado seu espírito polémico e
buscar o Senhor de todo o coração. Então acharão a Cristo e poderão dar um
caráter distinto a sua experiência religiosa. Devem manter este assunto — a
simplicidade da verdadeira piedade — distintamente perante as pessoas em todo
sermão. Isso impressionará o coração de todo ser faminto e sedento que almeja
desfrutar a segurança de esperança, fé e perfeita confiança em Deus por meio de
nosso Senhor Jesus Cristo. {FO 17.1}
Torne-se distinto e claro o assunto de que não é possível
efetuar coisa alguma em nossa posição diante de Deus ou no dom de Deus para
nós, por meio do mérito de seres criados. Se a fé e as obras adquirissem o dom
da salvação para alguém, o Criador estaria em obrigação para com a criatura.
Eis aqui uma oportunidade para a falsidade ser aceita como verdade. Se alguém
pode merecer a salvação por alguma coisa que faça, encontra-se, então, na mesma
posição que os católicos para fazer penitência por seus pecados. A salvação,
nesse caso, consiste em parte numa dívida, que pode ser quitada com o
pagamento. Se o homem não pode, por qualquer de suas boas obras, merecer a
salvação, então ela tem de ser inteiramente pela graça, recebida pelo homem
como pecador, porque ele aceita a Jesus e crê n´Ele. A salvação é inteiramente
um dom gratuito. A justificação pela fé está fora de controvérsia. E toda essa
discussão estará terminada logo que seja estabelecida a questão de que os
méritos do homem caído, em suas boas obras, jamais poderão obter a vida eterna
para ele. {FO 17.2}
Inteiramente de graça
A luz que me foi dada por Deus coloca este importante
assunto acima de qualquer dúvida em minha mente. A justificação é inteiramente
de graça, não sendo obtida por nenhuma obra que o homem caído possa efetuar. Em
linhas claras foi-me apresentado o assunto de que se o rico possui dinheiro e
propriedades, e faz uma oferta dos mesmos ao Senhor, surgem falsas ideias para
arruinar a oferta com o pensamento de que ele mereceu o favor de Deus, e de que
o Senhor está sob a obrigação para com ele de considerá-lo com especial favor
por causa dessa dádiva. {FO 17.3}
Tem havido mui pouca instrução, em linhas claras, sobre esse
ponto. O Senhor emprestou ao homem, em custódia, os Seus próprios bens — meios
que Ele requer sejam devolvidos a Ele quando Sua providência o indicar e a
edificação de Sua Causa o exigir. O Senhor deu o intelecto. Ele deu a saúde e a
habilidade de obter lucros terrenos. Criou as coisas da Terra. Manifesta Seu
poder divino para desenvolver todas as suas riquezas. Elas são os Seus frutos
provenientes de Sua própria lavoura. Ele deu o Sol, as nuvens, as pancadas de
chuva, para fazer com que a vegetação floresça. Como servos empregados por
Deus, colhestes Seus frutos a fim de usar de maneira económica o que vossas
necessidades requeriam e deixar o restante à disposição de Deus. Podeis dizer
com Davi: “Porque tudo vem de Ti, e das Tuas mãos To damos.” 1 Crónicas 29:14.
Assim a satisfação do mérito da criatura não pode consistir em restituir ao
Senhor o que Lhe pertence, pois isso sempre foi Sua própria propriedade a ser
usada como Ele determinar em Sua providência. {FO 18.1}
Perdendo o favor de
Deus
Pela rebelião e apostasia o homem perdeu o favor de Deus;
não os seus direitos, pois ele só teria valor se fosse revestido do amado Filho
de Deus. Este ponto precisa ser compreendido. Ele perdeu os privilégios que
Deus, em Sua misericórdia, lhe concedera como dom gratuito, como tesouro em
custódia, a ser usado para promover Sua Causa e Sua glória, e para favorecer os
seres criados por Ele. No momento em que a obra das mãos de Deus recusou
obedecer às leis do reino de Deus, nesse próprio instante ele se tornou desleal
ao governo de Deus e se fez inteiramente indigno de todas as bênçãos com as
quais Deus o havia favorecido. {FO 18.2}
Esta foi a posição da raça humana depois que o homem se
divorciou de Deus pela transgressão. Então ele não tinha mais direito a uma
inspiração de ar, a um raio da luz do Sol ou a uma partícula de alimento. E a
razão de o homem não ter sido destruído era que Deus o amou de tal maneira que
deu o Seu Filho amado para que sofresse a penalidade da transgressão dele.
Cristo Se prontificou a tornar-Se o penhor e substituto do homem, para que
este, por meio de graça sem igual, tivesse outra prova — uma segunda
oportunidade — tendo a experiência de Adão e Eva como advertência para não
transgredir a lei de Deus como eles o fizeram. E, visto que o homem desfruta as
bênçãos de Deus na dádiva da luz do Sol e na dádiva do alimento, deve haver da
parte do homem um respeito diante de Deus em grato reconhecimento de que todas
as coisas provêm d´Ele. Tudo que Lhe é prestado como retribuição é somente o
que Lhe pertence por ser o Doador. {FO 18.3}
O homem quebrou a lei de Deus, e, por intermédio do
Redentor, foram feitas novas e recentes promessas numa base diferente. Todas as
bênçãos precisam vir por meio de um Mediador. Agora todo membro da família
humana está inteiramente entregue nas mãos de Cristo, e tudo que possuímos —
quer seja o dom de dinheiro, de casas, de terras, de faculdades de raciocínio,
de força física, ou de talentos intelectuais — nesta vida presente, e as
bênçãos da vida futura, é colocado em nosso poder como tesouros de Deus a serem
aplicados fielmente para benefício do homem. Todo dom é assinalado pela cruz e
traz a imagem e a inscrição de Jesus Cristo. Todas as coisas provêm de Deus.
Desde os menores benefícios até à maior bênção, tudo flui através do único
Conduto — uma mediação sobre-humana salpicada com o sangue cujo valor é
inestimável porque era a vida de Deus em Seu Filho. {FO 19.1}
Ora, nenhuma pessoa pode dar alguma coisa a Deus que já não
seja d´Ele. Tende isto em mente: “Tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos.” 1 Crónicas
29:14. Deve ser mantido diante do povo, aonde quer que formos, que não
possuímos nada, nem podemos oferecer coisa alguma, em valor, em obra, em fé,
que primeiro não tenhamos recebido de Deus e sobre que Ele não possa colocar a
mão em qualquer tempo e dizer: Eles são Meus — dons, bênçãos e talentos que Eu
vos confiei, não para vos enriquecerdes, mas para sábio desenvolvimento em
benefício do mundo. {FO 19.2}
Tudo é de Deus
A criação pertence a Deus. Se abandonasse o homem, o Senhor
poderia deter-lhe imediatamente a respiração. Tudo que ele é e tudo que ele
possui pertence a Deus. O mundo inteiro é de Deus. As casas dos homens, suas
aquisições pessoais, tudo que é valioso ou brilhante é a própria dotação de
Deus. Tudo isto é Sua dádiva para ser devolvida a Deus para ajudar a cultivar o
coração humano. As ofertas mais esplêndidas podem ser colocadas sobre o altar
de Deus, e os homens enaltecerão, exaltarão e louvarão o doador por sua
liberalidade. Em quê? “Tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos.” 1 Crónicas
29:14. Nenhuma obra do homem pode fazer com que mereça o amor perdoador de
Deus, mas o amor de Deus, imbuindo a alma, o levará a efetuar as coisas que
sempre foram requeridas por Deus e que o homem deve realizar com prazer. Ele só
efetuou o que o dever sempre requereu dele. {FO 19.3}
Os anjos de Deus no Céu que nunca caíram fazem continuamente
a Sua vontade. Em tudo que eles fazem no seu laborioso encargo de misericórdia
para nosso mundo, amparando, guiando e guardando a obra das mãos de Deus
através dos séculos — tanto os justos como os injustos —, eles podem dizer
verdadeiramente: “Tudo é Teu. Das Tuas mãos To damos.” Oxalá o olhar humano
pudesse ter vislumbres dos anjos! Oxalá a imaginação pudesse compreendê-los e
demorar-se sobre o esplêndido e glorioso serviço dos anjos de Deus e dos
conflitos em que se empenham em favor dos homens, para os proteger, guiar e
conquistar, e para desviá-los das ciladas de Satanás. Quão diferente seria a
conduta e o sentimento religioso! {FO 20.1}
Mérito das criaturas
Poderão ser travadas discussões por seres humanos que
defendem ardorosamente o mérito das criaturas e por todo homem que luta pela
supremacia, mas eles simplesmente não sabem que durante todo esse tempo, em
princípio e caráter, estão deturpando a verdade como ela é em Jesus.
Encontram-se num nevoeiro de perplexidade. Necessitam do divino amor de Deus
que é representado pelo ouro provado no fogo; necessitam das vestiduras brancas
do puro caráter de Cristo; e necessitam também do colírio celestial, para que
possam discernir com assombro a completa desvalia do mérito das criaturas para
ganhar a recompensa da vida eterna. Pode haver fervorosa labuta e intensa
afeição, elevada e nobre realização intelectual, amplitude de compreensão e a
maior humilhação, que sejam depositadas aos pés de nosso Redentor; mas não há
nisso nem um pouquinho mais do que a graça e o talento originalmente dados por
Deus. Não deve ser dado nada menos do que ordena o dever, mas não se pode dar
nada mais do que se recebeu a princípio; e tudo precisa ser colocado sobre o
fogo da justiça de Cristo, a fim de que seja purificado de seu odor terreno,
antes que ascenda numa nuvem de fragrante incenso ao grande Jeová e seja aceito
como aroma suave. {FO 20.2}
Pergunto: Como posso apresentar este assunto assim como é? O
Senhor Jesus comunica todo o poder, toda a graça, toda a penitência, toda a
inclinação, todo o perdão dos pecados, ao apresentar Sua justiça para que o
homem dela se apodere por meio de fé viva — a qual também é o dom de Deus. Se
juntássemos tudo que é bom e santo, nobre e belo no homem, e apresentássemos o
resultado aos anjos de Deus, como se desempenhasse uma parte na salvação da
alma humana ou na obtenção de mérito, a proposta seria rejeitada como traição.
Encontrando-se na presença de seu Criador e contemplando a glória insuperável
que envolve Sua Pessoa, eles consideram o Cordeiro de Deus dado desde a
fundação do mundo a uma vida de humilhação, a ser rejeitado por homens
pecaminosos, e a ser desprezado e crucificado. Quem pode avaliar a imensidão
desse sacrifício! {FO 21.1}
Cristo Se fez pobre por amor de nós, para que pela Sua
pobreza nos tornássemos ricos. E quaisquer obras que o homem pode prestar a
Deus serão muito menos do que nada. Meus pedidos só se tornam aceitáveis por
estarem baseados na justiça de Cristo. A idéia de fazer algo para merecer a
graça do perdão é errônea do começo até o fim. “Senhor, não trago na mão valor
algum; simplesmente me apego a Tua cruz.” {FO 21.2}
O que o homem não pode fazer
O homem não pode realizar proezas dignas de louvor que lhe
dêem alguma glória. Os homens têm o hábito de glorificar os homens e de
exaltá-los. Estremeço ao ver ou ouvir algo a esse respeito, pois me foram revelados
não poucos casos em que a vida familiar e a obra no interior do coração desses
próprios homens se acham repletas de egoísmo. Eles são corruptos, desprezíveis
e vis; e nada que procede de todos seus feitos pode elevá-los diante de Deus,
pois tudo que fazem constitui uma abominação à Sua vista. Não pode haver
verdadeira conversão sem o abandono do pecado, e não é discernida a grave
natureza do pecado. Com uma agudeza de percepção jamais atingida pela vista
humana, anjos de Deus discernem que seres tolhidos por influências corruptoras,
com a mente e mãos impuras, estão decidindo seu destino para a eternidade. No
entanto, muitos têm pouca compreensão do que constitui pecado e qual é o
remédio. {FO 21.3}
Ouvimos serem pregadas tantas coisas a respeito da conversão
da pessoa que não são verdade. Os homens são ensinados a pensar que se alguém
se arrepende, será perdoado, supondo que o arrependimento é o caminho e a porta
para o Céu; que há no arrependimento certo valor garantido que compre o perdão
para ele. Pode o homem arrepender-se por si mesmo? Não mais do que pode perdoar
a si próprio. Lágrimas, suspiros, resoluções — tudo isso constitui apenas o
apropriado exercício das faculdades que Deus concede ao homem e o ato de
afastar-se do pecado na regeneração de uma vida que é de Deus. Onde está o
mérito do homem para ganhar sua salvação ou para colocar diante de Deus algo
que seja valioso e excelente? Pode uma oferta de dinheiro, casas, terras,
colocar-vos na lista do merecimento? Impossível! {FO 22.1}
Há o perigo de considerar que a justificação pela fé concede
algum mérito à fé. Quando aceitamos a justiça de Cristo como um dom gratuito
somos justificados gratuitamente por meio da redenção de Cristo. Que é fé? “O
firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não
vêem.” Hebreus 11:1. É uma aprovação do entendimento às palavras de Deus que
leva o coração a uma voluntária consagração e serviço a Deus, o qual deu o
entendimento, o qual sensibilizou o coração, o qual primeiro levou a mente a
contemplar a Cristo na cruz do Calvário. Fé é entregar a Deus as faculdades
intelectuais, submeter-Lhe a mente e a vontade e fazer de Cristo a única porta
de entrada no reino dos Céus. {FO 22.2}
Quando os homens aprendem que não podem obter a justiça pelo
mérito de suas próprias obras e olham com firme e inteira confiança para Jesus
Cristo como sua única esperança, não haverá tanto do próprio eu e tão pouco de
Jesus. Almas e corpos são maculados e poluídos pelo pecado, o coração é
alienado de Deus, contudo muitos estão-se debatendo, em sua própria força
finita, para conquistar a salvação por boas obras. Jesus, pensam eles, efetuará
uma parte da salvação, e eles precisam fazer o resto. Necessitam ver pela fé a
justiça de Cristo como sua única esperança para o tempo e para a eternidade.
{FO 22.3}
Deus trabalha, e o
homem trabalha
Deus deu aos homens faculdades e aptidões. Deus trabalha e
coopera com os dons que Ele comunicou ao homem, e este, sendo participante da
natureza divina e fazendo a obra de Cristo, pode ser um vencedor e ganhar a
vida eterna. O Senhor não tenciona realizar a obra que Ele concedeu ao homem
poderes para efetuar. A parte do homem precisa ser realizada. Ele deve ser
cooperador de Deus, unindo-se a Cristo, e aprendendo de Sua mansidão e de Sua
humildade. Deus é o poder que domina sobre tudo. Ele concede os dons; o homem
os recebe e age com o poder da graça de Cristo como instrumento vivo. {FO 23.1}
“Lavoura de Deus... sois vós.” 1 Coríntios 3:9. O coração
deve ser trabalhado, subjugado, arado, nivelado e semeado, para que produza sua
colheita a Deus em boas obras. “Edifício de Deus sois vós.” 1 Coríntios 3:9.
Não podeis edificar-vos a vós mesmos. Há um Poder fora de vós mesmos que deve
realizar a edificação da igreja, colocando tijolo sobre tijolo, sempre
cooperando com as faculdades e aptidões por Deus concedidas ao homem. O
Redentor deve encontrar um lar em Seu edifício. Deus trabalha, e o homem
trabalha. Precisa haver contínua apropriação dos dons de Deus, para que haja a
mesma distribuição espontânea desses dons. É uma contínua recepção e, depois,
restituição. O Senhor determinou que a alma receba nutrição d´Ele, para que
seja distribuída novamente na execução de Seus propósitos. A fim de que haja
uma efusão, deve haver uma infusão da divindade na humanidade. “Habitarei e
entre eles andarei.” 2 Coríntios 6:16. {FO 23.2}
O templo da alma tem de ser sagrado, santo, puro e impoluto.
Deve haver uma co-participação em que todo o poder é de Deus e toda a glória
pertence a Ele. A responsabilidade recai sobre nós. Precisamos receber em
pensamentos e em sentimentos, para dar em expressão. A lei da ação humana e
divina torna o recebedor um cooperador de Deus. Ela conduz o homem onde ele,
unido com a Divindade, pode efetuar as obras de Deus. A humanidade se põe em
contato com a humanidade. O poder divino e a atuação humana combinados serão um
êxito total, pois a justiça de Cristo cumpre tudo. {FO 23.3}
Poder sobrenatural
para obras sobrenaturais
A razão por que tantos não conseguem ser obreiros bem-sucedidos
é agirem como se Deus dependesse deles e terem de sugerir a Deus o que Ele deve
fazer com eles, em vez de confiarem no Senhor. Põem de lado o poder
sobrenatural e deixam de realizar a obra sobrenatural. Confiam em todo o tempo
em suas próprias faculdades humanas e nas de seus irmãos. São tacanhos em si
mesmos e sempre estão julgando segundo sua finita compreensão humana. Precisam
de ajuda, pois não têm poder do alto. Deus nos dá o corpo, vigor cerebral,
tempo e oportunidade para trabalhar. Requer-se que todos sejam utilizados ao
máximo. Unindo a humanidade com a Divindade, podeis realizar uma obra tão
duradoura como a eternidade. Quando os homens pensam que o Senhor cometeu um
erro em seus casos individuais, e determinam seu próprio trabalho, depararão com
o desapontamento. {FO 23.4}
“Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de
vós; é dom de Deus.” Efésios 2:8. Aqui há verdade que desdobrará o assunto à
vossa mente, se não a vedardes aos raios de luz. A vida eterna é um dom
infinito. Isto a coloca fora da possibilidade de ser ganha por nós mesmos, pois
é infinita. Precisa ser forçosamente uma dádiva. E, como tal, tem de ser
recebida pela fé, e oferecendo a Deus gratidão e louvor. Sólida fé não
conduzirá ninguém ao fanatismo, nem a desempenhar o papel do servo indolente. É
o fascinante poder de Satanás que leva os homens a olharem para si mesmos, em
vez de olharem para Jesus. A justiça de Cristo deve ir à nossa frente para que
a glória do Senhor seja a nossa retaguarda. Se fazemos a vontade de Deus
podemos aceitar grandes bênçãos como generosa dádiva de Deus, mas não em
virtude de algum mérito em nós; este é sem valor. Realizai a obra de Cristo, e
honrareis a Deus e sereis mais do que vencedores por meio d´Aquele que nos amou
e deu a vida por nós, para que tivéssemos vida e salvação em Jesus Cristo. {FO
24.1}
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