O mundo tinha-se tornado tão corrupto através da
condescendência com o apetite e aviltada paixão, nos dias de Noé, que Deus
destruiu seus habitantes pelas águas do Dilúvio. Ao multiplicarem-se os homens
sobre a Terra, a condescendência com o vinho causava uma pervertida intoxicação
dos sentidos e preparava o caminho para o intoxicante consumo de carne e o
fortalecimento das paixões sensuais. Os homens se levantaram contra o Deus dos
Céus; e suas faculdades e oportunidades foram devotadas à autoglorificação, ao
invés de honrarem seu Criador. Satanás facilmente obteve acesso ao coração dos
homens. Ele é um diligente estudioso da Bíblia e está mais familiarizado com as
profecias do que muitos professos religiosos. Sabe que é de interesse manter-se
bem informado sobre os revelados propósitos de Deus, para que possa desfazer os
planos do Infinito.
Assim, infiéis frequentemente estudam mais diligentemente as
Escrituras do que alguns que professam ser guiados por elas. Alguns descrentes
analisam as Escrituras para familiarizar-se com a verdade bíblica e fornecer a
si mesmos argumentos, para fazer parecer que a Bíblia se contradiz. Muitos
professos cristãos são tão ignorantes da Palavra de Deus, pela negligência do
seu estudo, que ficam cegos pelo raciocínio enganoso daqueles que pervertem a
verdade sagrada desviando as pessoas do conselho de Deus, apresentado em Sua
Palavra.
Satanás viu nas ofertas típicas um Redentor esperado, que
salvaria o homem do seu controle. Lançou seus planos profundos, para dominar o coração
dos homens de geração em geração, e para cegar seu entendimento quanto às
profecias, a fim de que, quando Jesus viesse, o povo O rejeitasse como seu
Salvador.
Deus designou Moisés para libertar Seu povo da escravidão da
terra do Egito, para que eles pudessem consagrar-se a fim de servi-Lo com
perfeição de coração, e ser um tesouro peculiar. Moisés era o seu líder
visível, enquanto Cristo estava na direção dos exércitos de Israel, seu Líder
invisível. Se eles tivessem tido a devida compreensão do que se passava, não se
teriam rebelado e provocado Deus no deserto, com as suas murmurações
irrazoáveis. Deus disse a Moisés: "Eis que Eu envio um Anjo diante de ti,
para que te guarde neste caminho e te leve ao lugar que te tenho aparelhado.
Guarda-te diante dEle, e ouve a Sua voz, e não O provoques à ira; porque não
perdoará a vossa rebelião; porque o Meu nome está nEle." Êxo. 23:20 e 21.
Quando Cristo, como líder, anjo guardião, condescendeu em
comandar os exércitos de Israel através do deserto até Canaã, Satanás foi
provocado, pois sentiu que seu poder não seria capaz de controlá-los tão bem.
Todavia, ao ver que os exércitos de Israel eram facilmente influenciados e
incitados à rebelião por suas insinuações, tinha esperança de levá-los à
murmuração e ao pecado, o que traria sobre eles a ira de Deus. Ao verificar que
o seu poder era admitido pelos homens, tornou-se audacioso nas suas tentações,
incitando-os ao crime e à violência. Por meio dos enganos de Satanás, cada
geração ia-se tornando mais fraca em poder físico, mental e moral. Isto lhe
dava coragem para pensar na possibilidade de ter êxito em sua guerra contra
Cristo em pessoa, quando Ele Se manifestasse.
São poucos em cada geração desde Adão os que têm resistido
aos seus artifícios e permanecido como nobres representantes daquilo que o
homem em seu poder é capaz de fazer e ser, enquanto Cristo coopera com os
esforços humanos para ajudar o homem a sobrepujar o poder de Satanás. Enoque e
Elias são representantes corretos do que a vida pode ser, por meio da fé em
nosso Senhor Jesus Cristo. Satanás ficou grandemente perturbado porque estes
homens nobres e santos eram imaculados no meio da corrupção que os cercava,
formando caráter perfeitamente justo e sendo considerados dignos da trasladação
para o Céu. Ao permanecerem firmes em poder moral, na justiça enobrecedora,
vencendo as tentações de Satanás, ele não podia colocá-los sob o domínio da
morte. Gabou-se de que tinha poder para com suas tentações dominar Moisés, e
que poderia manchar o seu nobre caráter e levá-lo a pecar, tomando para si,
diante do povo, a glória que pertencia a Deus.
Cristo ressuscitou a Moisés e o levou para o Céu. Isto
exasperou Satanás, levando-o a acusar o Filho de Deus de invadir seu domínio,
roubando da sepultura sua legítima presa. Disse Judas, referindo-se à
ressurreição de Moisés: "Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o
diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de
maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda." Jud. 9.
Quando Satanás tem êxito em tentar as pessoas a quem Deus
tem especialmente honrado, a cometer graves pecados, ele triunfa, porque ganha
para si mesmo uma grande vitória e causa dano ao reino de Cristo.
No Deserto da Tentação, pp. 30-32
E.G.White
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