Eva, a princípio inconscientemente, absorvida em suas
ocupações, separou-se do marido. Quando percebeu o fato, sentiu a apreensão do
perigo, mas de novo imaginou estar segura, mesmo não estando ao lado do marido.
Tinha sabedoria e força suficientes para discernir o mal e resistir-lhe. Os
anjos haviam-na advertido para que não fizesse isso. Eva logo se achou a
contemplar com um misto de curiosidade e admiração a árvore proibida. Viu que o
fruto era muito belo, e pensava consigo mesma porque Deus decidira proibi-los
de comê-lo ou tocar nele. Era então a oportunidade de Satanás. Dirigiu-se a ela
como se fosse capaz de adivinhar seus pensamentos: "É assim que Deus
disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" Gén. 3:1. Assim, com
palavras suaves e aprazíveis, e com voz musical, dirigiu-se à maravilhada Eva.
Ela se sobressaltou ao ouvir uma serpente falar. Esta exaltava sua beleza e
excessivo encanto, o que não lhe desagradava. Mas Eva estava espantada, pois
sabia que Deus não tinha conferido à serpente o poder da fala.
A curiosidade de Eva aumentou. Em vez de escapar do local,
ficou ouvindo a serpente falar. Não ocorreu à sua mente que este pudesse ser o
inimigo decaído, usando a serpente como médium. Era Satanás quem falava, não a
serpente. Eva estava encantada, lisonjeada, enfatuada. Tivesse encontrado uma
personagem autoritária, possuindo uma forma semelhante à dos anjos e a eles se
parecendo, teria ela se colocado em guarda. Mas essa estranha voz devia tê-la
impelido para junto de seu marido, a fim de perguntar-lhe porque outro podia
assim livremente dirigir-se a ela. Mas entrou em controvérsia com a serpente.
Respondeu a sua pergunta: "Do fruto da árvore que está no meio do jardim,
disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Então a
serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia
em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o
bem e o mal." Gén. 3:2-5.
Satanás desejava infundir a ideia de que pelo comer da
árvore proibida eles receberiam uma nova e mais nobre espécie de conhecimento
do que até então tinham alcançado. Este tem sido seu trabalho especial, com
grande sucesso, desde a queda - levar o homem a forçar a porta dos segredos do
Todo-poderoso, a não estar satisfeito com o que Deus revelou, e não cuidar de
obedecer ao que Ele ordenou. Gostaria de levá-los a desobedecer aos mandamentos
de Deus e então fazê-los crer que estão entrando num maravilhoso campo de
saber. Isso é pura suposição, um miserável engano.
Eles deixam de compreender o que Deus revelou, menosprezam
Seus explícitos mandamentos e aspiram a mais sabedoria, independente de Deus,
procurando compreender aquilo que Lhe aprouve reter dos mortais. Exultam com
suas ideias de progresso e se encantam com sua própria vã filosofia, mas
apalpam trevas de meia-noite quanto ao verdadeiro conhecimento. Estão sempre
estudando e nunca são capazes de chegar ao conhecimento da verdade.
Não era da vontade de Deus que este santo par tivesse
qualquer conhecimento do mal. Dera-lhes livremente o bem, mas retivera o mal.
Eva julgou sábias as palavras da astuta serpente, quando ouviu a audaciosa
afirmação: "Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que
dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o
mal" - fazendo de Deus um mentiroso. Gén. 3:4 e 5. Satanás insinuou
insolentemente que Deus os tinha enganado, impedindo que fossem exaltados com
um conhecimento igual ao Seu próprio. Deus disse: "No dia em que dela
comeres, certamente morrerás." Gén. 2:17. A serpente disse:
"Certamente não morrereis." Gén. 3:4.
O tentador assegurou a Eva que tão logo comesse o fruto, ela
receberia um novo e superior conhecimento que a faria igual a Deus. Chamou sua
atenção para si mesmo. Ele comera livremente da árvore e a achara não apenas
perfeitamente inofensiva mas deliciosa e estimulante, e disse que era por causa
de suas maravilhosas propriedades de comunicar a sabedoria e o poder que Deus
lhes tinha proibido experimentá-la ou mesmo tocá-la, pois Ele conhecia estas
maravilhosas qualidades. Declarou que ter comido o fruto da árvore proibida era
a razão de ter obtido o dom da fala. Insinuou que Deus não levaria a cabo Sua
advertência. Isto era meramente uma ameaça para intimidá-los e privá-los do
grande bem. Disse-lhes mais, que não poderiam morrer. Não tinham comido da
árvore da vida, que perpetuava a imortalidade? Disse que Deus os estava
enganando e impedindo-os de um mais elevado estado de felicidade e mais
exaltada alegria. O tentador colheu um fruto e passou-o a Eva. Ela o tomou nas
mãos. Ora, disse o tentador, vocês foram proibidos até mesmo de tocá-lo pois
morreriam. Não observariam maior sensação de perigo e morte comendo o fruto,
declarou ele, do que nele tocando ou manuseando-o. Eva foi encorajada, pois não
sentia os sinais imediatos do desagrado de Deus. Pensou que as palavras do
tentador eram de todo sábias e corretas. Comeu, e ficou encantada com o fruto.
Ele pareceu delicioso ao paladar, e ela imaginava sentir em si mesma os
maravilhosos efeitos do fruto.
Eva Torna-se Tentadora
Ela então colheu para si do fruto e comeu, e imaginou sentir
o poder de uma nova e elevada existência como resultado da exaltadora
influência do fruto proibido. Em um estado de agitação estranha e fora do
natural, com as mãos cheias do fruto proibido, procurou o marido. Relatou o
sábio discurso da serpente e desejava conduzi-lo imediatamente à árvore do
conhecimento. Disse-lhe que havia comido do fruto, e em vez de experimentar
qualquer sensação de morte, sentia uma agradável e exaltadora influência. Tão
logo Eva desobedeceu, tornou-se um poderoso agente para ocasionar a ruína do
esposo.
Vi a tristeza sobrevir ao rosto de Adão. Mostrou-se atônito
e alarmado. Uma luta parecia estar sendo travada em sua mente.
Disse a Eva que estava bem certo tratar-se do inimigo contra
quem haviam sido advertidos; e se assim fosse, ela devia morrer. Ela
assegurou-lhe que não estava sentindo qualquer mau efeito, mas, ao contrário,
uma influência muito agradável, e insistiu com ele para que comesse.
Adão compreendeu muito bem que sua companheira transgredira
a única proibição a eles imposta como prova de fidelidade e amor. Eva arrazoou
que a serpente dissera que certamente não morreriam, e que suas palavras tinham
de ser verdadeiras, pois não sentia qualquer sinal do desagrado de Deus, mas
uma agradável influência, como imaginava que os anjos sentiam.
Adão lamentou por Eva ter deixado o seu lado; agora, porém,
a ação estava praticada. Devia separar-se daquela cuja companhia ele tanto
amara. Como podia suportar isso? Seu amor por Eva era muito grande. Em completo
desencorajamento, resolveu partilhar a sua sorte. Raciocinou que Eva era uma
parte dele, se ela devia morrer, com ela morreria ele, pois não podia suportar
a ideia da separação. Faltou-lhe fé em seu misericordioso e benevolente
Criador. Não compreendia que Deus, que do pó da terra o havia criado, como um
ser vivo e belo, e tinha criado Eva para ser sua companheira, poderia suprir
seu lugar. Afinal, não poderiam ser verdadeiras as palavras da serpente? Eva
estava diante dele, tão bela, e aparentemente tão inocente como antes desse ato
de desobediência. Sob os efeitos do fruto que havia comido, exprimia maior amor
para com ele do que antes de sua desobediência. Não viu nela um só sinal de
morte. Ela lhe havia contado da feliz influência do fruto, de seu ardente amor
por ele, e decidiu afrontar as consequências. Tomou o fruto e comeu rapidamente
e, como ocorreu com Eva, não sentiu imediatamente seus maus efeitos.
Eva pensava ter capacidade própria para decidir entre o
certo e o errado. A enganadora esperança de entrada num mais elevado estado de
conhecimento levou-a a pensar que a serpente era um amigo especial, que tinha
grande interesse em sua prosperidade. Tivesse procurado o marido, e ambos
relatado ao Seu Criador as palavras da serpente, e teriam sido imediatamente livrados
de sua astuciosa tentação. O Senhor não desejava que buscassem o fruto da
árvore do conhecimento, porque então seriam expostos ao engano de Satanás.
Sabia que eles estariam perfeitamente a salvo se não tocassem no fruto.
História da Redenção, pp.32-37
E.G.White
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