No Salmo 15, nós encontramos de novo perfeição (tamîm).
Desta vez é o pré-requisito moral para entrar no templo e desfrutar da proteção
e bênção de Yahweh. “Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de
morar no teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e,
de coração, fala a verdade” (Sal. 15:1, 2).
Soa estranho ouvir que perfeição é o pré-requisito para
adoração de Yahweh e recebimento de Sua graciosa comunhão. Não é a perfeição o
próprio dom a ser procurado e recebido no santuário? Como então pode a
perfeição ser uma condição para a participação da adoração de Israel?
Para achar o próprio escopo do Salmo 15, precisamos buscar a
mais ampla perspectiva de todo o Torah. Moralidade não era a base da eleição de
Deus a Israel (Deut. 7-9). A grande salvação histórica do Êxodo e o concerto subsequente
com Israel no Sinai foram dons reais de Yahweh, dados por Sua graça somente, em
fidelidade às promessas de Deus aos patriarcas. O próprio nome do Deus de
Israel, Yahweh, denota-O como o gracioso e fiel Deus do concerto.
O Salmo 15, começa com uma questão suplicante: “Quem,
SENHOR, habitará no teu tabernáculo?”; portanto, pressupõe imediatamente o
concerto da graça expiatória. Tanto a Lei como o Santuário eram dons do
concerto de Deus, provendo uma contínua expiação para Israel, a presença
permanente do santo amor de Deus. O ministério sacerdotal da graça perdoadora
não intentava perdoar a culpa no abstrato. Pelo contrário, ele intentava tirar
os pecados, tanto no aspecto da culpa, como em seu real domínio na conduta do
homem (ver acima sobre o Sal. 19).
De acordo com isto, era prerrogativa e dever de Israel andar
com Deus e com seus semelhantes em uma nova obediência à vontade de Deus. Os
poderes divinos da graça redentora, como manifestados na libertação de Israel
do Egito, a casa da escravidão, estavam disponíveis a partir daí no serviço
sacerdotal do santuário. O propósito da festa anual da Páscoa era para renovar
e continuar a redenção graciosa e comunhão do concerto com Yahweh, para dar a
Israel uma renovada e vívida participação na salvação histórica do Êxodo. A
mesma graça era oferecida por Deus diariamente no santuário. Contudo, era a
santa graça que purificava da injustiça e impiedade, transformando o coração do
adorador.
“Continua a tua benignidade aos que te conhecem, e a tua
justiça, aos retos de coração. Não me calque o pé da insolência, nem me repila
a mão dos ímpios.” (Sal. 36:10-11). “Porém eu, pela riqueza da tua
misericórdia, entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo,
no teu temor.” (Sal. 5:7).
A ardente santidade e honra de Deus como Rei não poderiam
suportar um povo profano e impuro que fosse escravizado pelo pecado ou tivesse
o coração dividido. Israel deveria ser uma nação santa, uma luz para os
gentios, gloriando-se não em sua sabedoria, riquezas ou poder, mas em seu
conhecimento do verdadeiro Deus vivente (Jer. 9:23-24). Era seu santo
privilégio andar em voluntária e alegre obediência a Deus, que incluía
arrependimento, confissão e restauração.
Este novo coração necessariamente seria manifestado em fazer
o que é direito de acordo ao concerto, falando a verdade do coração. Assim, o
concerto da graça transformadora provia o poder motivador para uma nova conduta
sócio/ética. A participação nas festas anuais é condicionada, diz o Salmo 15,
pela aceitação e apropriação da salvação e graça previamente recebidas.
A recusa para arrepender-se, por rejeitar a obediência
voluntária ao concerto de Deus, caracteriza o pecado como pecado de presunção.
Por outro lado, o requerimento do Salmo 15 não é um senso de isenção de pecado
ou um sentimento de justiça própria. Como poderia tal emoção mesmo existir em
uma profunda convicção de indignidade diante de Deus?
O que o Salmo 15 requer é uma vida social e ética purificada
e fiel, como apresentada nos versos 3-5: “O que não difama com sua língua, não
faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho; o que, a seus
olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao SENHOR; o que
jura com dano próprio e não se retrata; o que não empresta o seu dinheiro com
usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será
jamais abalado.”
Este modo de vida do concerto pela graça de Deus é um
perfeito andar, por causa que o coração é purificado e as mãos são limpas (v.
2). Esta mensagem também é comunicada em outro salmo de Davi: “Quem subirá ao
monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de
mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura
dolosamente. Este obterá do SENHOR a bênção e a justiça do Deus da sua
salvação. Tal é a geração dos que o buscam, dos que buscam a face do Deus de
Jacó.” (Salmo 24:3-6).
Mais forte do que o Salmo 15 aparenta aqui é o
inter-relacionamento indissolúvel da experiência redentora e da vida moral.
Aqueles que buscam a Deus em oração, que diariamente O fazem Seu Senhor e
Salvador, receberão bênção e vindicação divinas. Toda a vida moral é enraizada
e ancorada na graciosa redenção de Deus como recebida no serviço do templo de
Israel.
Dr. Hans LaRondelle
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