"E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e
adormeceram, mas, à meia-noite ouviu-se um clamor; aí vem o esposo, saí-lhe ao
encontro. Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas
lâmpadas." Mat. 25:5-7.
No verão de 1844 os adventistas descobriram o engano de sua
anterior contagem dos períodos proféticos, e chegaram a uma posição correta. Os
2300 dias de Daniel 8:14 que, conforme todos criam, se estenderiam até o
segundo advento de Cristo, imaginava-se que terminariam na primavera de 1844;
contudo, vendo agora que este período estender-se-ia ao outono do mesmo ano, a
mente dos adventistas se fixou nesse ponto, como o tempo do aparecimento do
Senhor. A proclamação desta mensagem referente a tempo foi outro passo no
cumprimento da parábola das bodas, cuja aplicação à experiência dos adventistas
já tinha sido claramente observada.
Como na parábola, o clamor soou à meia-noite, anunciando a
aproximação do noivo, assim no cumprimento, a meio-caminho entre a primavera de
1844, quando se supôs de início os 2300 dias terminariam, e o outono de 1844,
tempo em que mais tarde se verificou que eles realmente deviam terminar,
ergueu-se o clamor, nas próprias palavras da Escritura: "Aí vem o Esposo,
saí-lhe ao encontro." Mat. 25:6.
À semelhança da vaga da maré, o movimento alastrou-se pelo
país. Foi de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, e para os lugares
distantes, no interior, até que o expectante povo de Deus ficou completamente
desperto. Desapareceu o fanatismo ante essa proclamação, como a geada matutina
perante o Sol a erguer-se. Uma vez mais os crentes encontraram sua posição, e a
esperança e coragem animaram-lhes o coração.
A obra estava livre dos extremos que sempre se manifestam
quando há exaltação humana sem a influência moderadora da Palavra e do Espírito
de Deus. Isto se assemelhava no caráter àqueles períodos de humilhação e retorno
ao Senhor, que no antigo Israel se seguiam a mensagens de advertência por parte
de Seus servos. Teve as características que distinguem a obra de Deus em todas
as épocas. Houve pouca arrebatada alegria, porém mais profundo exame do
coração, confissão de pecados e abandono do mundo. O preparo para encontrar o
Senhor era a grave preocupação do espírito em agonia. Havia perseverante oração
e consagração a Deus, sem reservas.
O clamor da meia-noite não era tanto levado por argumentos,
se bem que a prova das Escrituras fosse clara e conclusiva. Ia com ele um poder
impulsor que movia a alma. Não havia discussão nem dúvidas. Por ocasião da
entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, o povo que de todas as partes do país
se congregara a fim de elaborar a festa, foi em tropel ao monte das Oliveiras,
e, unindo-se à multidão que acompanhava Jesus, deixou-se tomar pela inspiração
do momento e ajudou a avolumar a aclamação: "Bendito o que vem em nome do
Senhor." Mat. 21:9. De modo semelhante, os incrédulos que se congregavam
nas reuniões adventistas - alguns por curiosidade, outros meramente com o fim
de ridicularizar - sentiram o poder convincente que acompanhava a mensagem:
"Aí vem o esposo!" Mat. 25:6.
Naquele tempo houve fé que atraía resposta à oração - fé que
se fixava na recompensa. Como aguaceiros sobre a terra sedenta, o Espírito de
graça descia sobre os que ardorosamente O buscavam. Os que esperavam em breve
estar face a face com seu Redentor, sentiram uma solene e inexprimível alegria.
O poder enternecedor e subjugante do Espírito Santo sensibilizou-lhes o
coração, enquanto onda após onda da glória de Deus se derramava sobre os
crentes fiéis.
Cuidadosa e solenemente os que recebiam a mensagem chegaram
ao tempo em que esperavam encontrar-se com o Senhor. Sentiam como primeiro
dever, cada manhã, obter a certeza de estar aceitos por Deus. Seus corações
estavam intimamente unidos e eles oravam muito com os outros e uns pelos
outros. Frequentemente se reuniam em lugares isolados para ter comunhão com
Deus, e dos campos e bosques vozes de intercessão ascendiam ao Céu. A certeza
da aprovação do Salvador era-lhes mais necessária do que o alimento diário; e,
se alguma nuvem lhes toldava o espírito, não descansavam enquanto a mesma não
fosse dissipada. Sentindo o testemunho da graça perdoadora, almejavam
contemplar Aquele que era o amado de sua alma.
Desapontados Mas Não Abandonados
Mas, de novo estavam destinados ao desapontamento. O tempo
de expectação passou e o Salvador não apareceu. Com inabalável confiança tinham
aguardado Sua vinda, e agora experimentavam o mesmo sentimento de Maria quando,
indo ao túmulo do Salvador e encontrando-o vazio, exclamou em pranto:
"Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." João 20:13.
Um sentimento de temor, o receio de que a mensagem pudesse
ser verdadeira, servira algum tempo de restrição ao mundo incrédulo. Com o
passar do tempo, esse sentimento não desapareceu de pronto; a princípio não
ousaram exultar sobre os que foram desapontados; mas, como não se vissem sinais
da ira de Deus, perderam os temores e reiniciaram a acusação e o ridículo.
Numerosa classe, que tinha professado crer na próxima vinda do Senhor,
renunciou à fé. Alguns, que se sentiam muito confiantes, ficaram tão
profundamente feridos em seu orgulho, que pareciam estar a fugir do mundo. Como
outrora Jonas, queixavam-se de Deus e preferiam a morte à vida. Os que haviam
baseado sua fé nas opiniões de outrem, e não na Palavra de Deus, achavam-se
agora novamente prontos para mudar de ideias. Os escarnecedores ganharam para
as suas fileiras os fracos e os covardes, e todos estes se uniram para declarar
que não mais havia motivos de receios ou expectação. O tempo havia passado, o
Senhor não viera, e o mundo poderia permanecer o mesmo por milhares de anos.
Os crentes fervorosos e sinceros haviam abandonado tudo por
Cristo, desfrutando Sua presença como nunca antes. Conforme acreditavam, tinham
dado o último aviso ao mundo; e, esperando serem logo recebidos na companhia do
divino Mestre e dos anjos celestiais, tinham em grande parte se afastado da
multidão incrédula. Com intenso desejo haviam orado: "Vem, Senhor Jesus, e
vem logo." Mas Ele não viera. Agora, assumir de novo o fardo pesado dos
cuidados e perplexidades da vida, suportar as acusações e zombarias de um mundo
escarnecedor era, em verdade, uma terrível prova de fé e paciência.
Todavia, este desapontamento não foi tão grande como o que
experimentaram os discípulos por ocasião do primeiro advento de Cristo. Quando
Jesus cavalgou triunfalmente para Jerusalém, Seus seguidores criam estar Ele
prestes a ascender ao trono de Davi e libertar Israel dos seus opressores.
Cheios de esperança e alegria antecipada, competiam uns com os outros em
prestar honras a seu Rei. Muitos Lhe estendiam no caminho seus próprios mantos,
à guisa de tapetes, ou, à Sua passagem, cobriam o solo com viçosos ramos de
palmeira. Uniam-se, com entusiástica alegria, na aclamação festiva:
"Hosana ao Filho de Davi!" Mat. 21:15.
Quando os fariseus, perturbados e enraivecidos por esta
manifestação de júbilo, quiseram que Jesus repreendesse os discípulos, Ele
replicou: "Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras
clamarão." Luc. 19:40. A profecia devia ser cumprida. Os discípulos
estavam executando o propósito de Deus; entretanto, amargo desapontamento os
aguardava. Apenas decorridos alguns dias tiveram de testemunhar a morte atroz
do Salvador, e depô-Lo na sepultura. As expectativas que nutriam não se haviam
realizado em um único particular, e suas esperanças morreram com Jesus. Não puderam,
antes de o Senhor triunfar do túmulo, perceber que tudo havia sido predito na
profecia, e que era necessário "que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos
mortos". Atos 17:3. De igual maneira esta profecia se cumpriu na primeira
e segunda mensagens angélicas. Elas foram dadas no seu tempo exato e cumpriram
a obra para a qual foram por Deus designadas.
O mundo estivera a olhar, na expectativa de que, se o tempo
passasse e Cristo não aparecesse, todo o sistema do adventismo seria
abandonado. Mas enquanto muitos, sob forte tentação, deixaram a fé, alguns
houve que permaneceram firmes. Não podiam identificar erro algum em sua
contagem dos períodos proféticos. Os mais hábeis de seus oponentes não
conseguiram subverter-lhes a posição. Verdade é que houve erro quanto aos
eventos esperados, mas mesmo isto não podia abalar-lhes a fé na Palavra de
Deus.
Deus não abandonou Seu povo; Seu Espírito ainda permaneceu
com os que não negaram temerariamente a luz que tinham recebido, nem acusaram o
movimento adventista. O apóstolo Paulo, olhando através dos séculos, escreveu
palavras de animação e advertência para os provados e expectantes nessa crise:
"Não rejeiteis pois a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão.
Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade
de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um poucochinho de tempo, e o
que há de vir virá, e não tardará. Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar,
a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram
para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma." Heb.
10:35-39.
Sua única maneira segura de proceder era reter a luz que já
haviam recebido de Deus, apegar-se firmemente às Suas promessas e continuar a
pesquisar as Escrituras, esperando e vigiando pacientemente, a fim de receber
mais luz.
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